Abrandamento do PIB vai manter-se até final do ano

PorAndré Amaral,12 nov 2023 12:40

Depois de um crescimento histórico do PIB registado em 2022, no primeiro trimestre deste ano a actividade económica nacional abrandou e a sua “desaceleração” deverá manter-se até ao final de 2023”, anuncia o Banco de Cabo Verde no mais recente Relatório de Política Monetária.

O relatório do Banco de Cabo Verde explica que, devido “ao desvanecimento gradual dos efeitos positivos de arrastamento do processo de recuperação da crise pandémica; à conjuntura externa menos favorável, com o menor dinamismo nos principais parceiros económicos do país, com implicações ao nível da procura turística, que deverá ser mais moderada; aos efeitos cumulativos da inflação; às condições de financiamento mais apertadas e os critérios de aprovação pelos bancos de novos empréstimos mais restritivos, em particular para as empresas, com impacto na redução da procura de crédito e a alguma incerteza sobre a oferta e os preços da energia e sobre a confiança dos agentes económicos, perante as preocupações recentes de uma oferta insuficiente de petróleo com a decisão dos países da OPEP+ de reduzirem a produção”, o crescimento da economia nacional deverá continuar a abrandar até final deste ano.

No entanto, para 2024 e 2025, o banco central prevê que “o crescimento do PIB em volume deverá recuperar gradualmente” tendo por base “a melhoria dos rendimentos reais das famílias sustentada pela descida da inflação e com o aumento da procura externa turística em linha com a melhoria das perspectivas económicas dos principais parceiros”.

“Espera-se que o crescimento anual do PIB real desacelere para 4,5 por cento em 2023, antes de recuperar gradualmente para 4,7 e 5,4% em 2024 e 2025”, refere o relatório.

Inflação a descer

No mesmo documento, o Banco de Cabo Verde destaca que, depois de um crescimento de 8% em 2022, a inflação deverá descer para 4% este ano e manterá a tendência de descida em 2024 (2,2%) e 2025 (1%).

Uma descida que é explicada pela “expectativa de queda dos preços das matérias-primas energéticas e, em menor grau, dos preços das matérias-primas não energéticas no mercado internacional, da normalização das cadeias de abastecimento globais e redução das pressões sobre os preços e do impacto da restritividade da política monetária e do aperto das condições de oferta de crédito (ou de financiamento) na procura, a taxa de inflação média anual deverá reduzir gradualmente e atingir os níveis consistentes com o objectivo de estabilidade dos preços em 2025”, lê-se no Relatório de Política Monetária do Banco de Cabo Verde.

Medidas restritivas

Apesar das perspectivas favoráveis de crescimento económico o BCV não deixa de alertar para factores externos à economia nacional que podem condicionar a sua evolução.

Por causa da crise provocada pela guerra na Ucrânia, o banco central refere que tanto a Reserva Federal dos EUA como o Banco Central Europeu (BCE) viram-se obrigados a aumentar as taxas de juro.

“Perante a actuação do BCE”, que subiu as taxas de juro por seis vezes desde Junho do ano passado, “o spread entre a taxa de juro de referência na Zona Euro e a taxa de juro nacional registou um alargamento considerável”, o que levou o BCV a procurar diminuir essa diferença para o BCE aumentando as taxas de juro em Cabo Verde.

Em conferência de imprensa, o Governador do Banco de Cabo Verde explicou que a subida das taxas de juro “é fundamental” para o “alinhamento gradual da condução da política monetária do BCV” com a do Banco Central Europeu e para “reduzir o diferencial de juros e, deste modo, mitigar os riscos associados a uma potencial saída de divisas, garantindo a sustentabilidade do regime cambial de peg fixo da moeda nacional ao euro, sem descurar os desafios associados à estabilidade financeira”.

No relatório, o BCV refere que “de um modo geral, os indicadores analisados não apontam para uma situação de alerta para as reservas cambiais. No entanto, encontram-se identificados alguns factores de risco que, em caso da sua materialização, fariam com que as reservas externas do país não crescessem de acordo com o seu potencial e obrigariam o BCV a actuar de forma robusta e repentina, o que poderia resultar em alguma instabilidade no sistema financeiro nacional”. Para o banco, um dos factores de risco identificado “é a maior atractividade das operações denominadas em euros, podendo resultar no aumento da procura de investimentos externos por parte dos bancos comerciais nacionais, em detrimento da venda de divisas ao banco central”.

Outro dos factores de risco identificado no Relatório de Política Monetária “é o risco de aquisição de divisas por parte dos bancos comerciais nacionais, visando a sua rentabilização nos mercados financeiros internacionais, podendo constituir mais um factor de pressão adicional sobre as reservas cambais do país”. 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1145 de 8 de Novembro de 2023.

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Autoria:André Amaral,12 nov 2023 12:40

Editado porEdisângela Tavares  em  1 mai 2024 23:28

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