Banco Mundial aponta para agravamento das vulnerabilidades económicas e climáticas

PorAndré Amaral,26 jan 2025 8:09

Como um pequeno Estado insular em desenvolvimento (SIDS), Cabo Verde é visto como altamente vulnerável a fenómenos climáticos extremos, aponta o Cabo Verde Country Climate Development Report (CCDR) elaborado pelo Banco Mundial e apresentado no dia 16 de Janeiro.

“Devido à sua localização, Cabo Verde é altamente vulnerável aos riscos naturais, incluindo calor extremo, inundações, secas, tempestades tropicais, deslizamentos de terra, erupções vulcânicas, erosão costeira e subida do nível do mar”, indica o estudo elaborado pelo Banco Mundial, no qual são apontadas as fragilidades de Cabo Verde e as consequências que estas poderão ter na economia nacional.

No documento, o Banco Mundial defende que, em média, “os fenómenos naturais adversos têm sido historicamente associados a uma diminuição do PIB per capita de quase 1 ponto percentual no ano do impacto. Aproximadamente um terço dos cabo-verdianos está em risco de ser afectado por um evento climático extremo, especialmente secas e inundações”.

Além disso, o estudo revela que a exposição de Cabo Verde ao clima, devido em parte também à sua geografia, “é agravada por vulnerabilidades económicas. O país registou um crescimento económico robusto desde o início da década de 1990 e conseguiu uma redução substancial da pobreza. Mas o crescimento tem sido volátil e abrandou nos últimos anos”.

Por isso, o relatório apresenta recomendações concretas para fortalecer a resiliência de Cabo Verde face às mudanças climáticas, abrangendo áreas críticas como a gestão sustentável da água, a transição para energias renováveis, a economia azul, o turismo sustentável e a mobilidade urbana.

Turismo

Responsável por 25% do PIB, o turismo é o principal sustento da economia nacional. No entanto, o estudo indica que, devido às actuais vulnerabilidades, prevê-se que as alterações climáticas causem danos económicos e sociais substanciais, nomeadamente no sector do turismo.

“Na ausência de acção climática, espera-se que o PIB de Cabo Verde seja entre 3,1 e 3,6 por cento mais baixo em 2050”, destaca o estudo, que explica que o aumento das temperaturas e os padrões climáticos imprevisíveis “reduziriam as receitas do turismo em 10 por cento até 2050, representando 90 por cento dos danos projectados para o PIB”.

Agricultura e pescas

Na agricultura, as receitas, especialmente as provenientes das culturas de sequeiro, “impulsionadas por uma menor produção de vegetais, também seriam inferiores em 10% no cenário pessimista, enquanto a alteração das temperaturas e das condições do mar reduziria a produção da pesca marítima”.

Também a FAO divulgou, recentemente, um documento sobre os impactos que as alterações climáticas podem ter no sector da economia azul nacional.

O documento revela que “a redução das unidades populacionais de peixe foi constantemente salientada pelos pescadores industriais e artesanais”. No entanto, essa tendência decrescente “não pôde ser observada a partir dos dados recolhidos pelo IMar”, revela o documento da FAO, que explica que isso se pode dever a várias razões, “entre as quais a falta de uma longa série temporal de registos ou a insuficiente capacidade do IMar para monitorizar os locais de desembarque. A competição entre as frotas industriais e artesanais é limitada, mas pode ocorrer entre 3 e 5 milhas da costa”.

Danos nas infra-estruturas

Não seria apenas na economia nacional que as alterações climáticas teriam efeitos negativos.

Segundo o documento do Banco Mundial, os danos previstos para as infraestruturas de Cabo Verde “continuariam a ser elevados, agravados pela subida do nível do mar”.

“Para além do seu impacto no crescimento, as alterações climáticas também aumentariam as necessidades de investimento, importação e financiamento externo a longo prazo de Cabo Verde”, indica o estudo, que refere que esse impacto se sentiria principalmente “através do seu efeito no rendimento das famílias”, ao fazer aumentar “a pobreza em até 1 ponto percentual por ano após 2040 e agravariam a profundidade da pobreza em até 6,8%. Os danos climáticos variariam por ilha, reflectindo a concentração geográfica do turismo e da actividade agrícola”. 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1208 de 22 de Janeiro de 2025.

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Autoria:André Amaral,26 jan 2025 8:09

Editado porFretson Rocha  em  27 jan 2025 6:20

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