“A companhia aérea nacional utiliza recursos que poderiam ser mais úteis para melhorar as ligações entre ilhas - um estrangulamento ao crescimento”, referiu o fundo, no documento publicado na terça-feira, consultado hoje pela Lusa.
A entrada de uma companhia aérea internacional de baixo custo no mercado nacional “pode proporcionar uma boa concorrência nos voos internacionais” e, “por sua vez, oferecer uma oportunidade para reconsiderar a melhor utilização das finanças públicas para suportar a conectividade”, indicou.
O documento fez alusão à entrada da EasyJet, desde Outubro, com voos entre a ilha do Sal e Lisboa.
No entanto, “as autoridades estão cautelosas em se tornarem demasiado dependentes de companhias de baixo custo”, lê-se no relatório e na carta do Governo, anexada ao documento.
O FMI faz uma distinção entre a operação doméstica da Transportes Aéreos de Cabo Verde (TACV) e os voos internacionais.
Enquanto a operação entre ilhas “atinge o ponto de equilíbrio sem sobrecarregar o orçamento”, a área das rotas internacionais, “continua a não ser rentável” e representa um risco para o Estado.
“Os desafios na redução das perdas das empresas estatais, especialmente no sector dos transportes, agravam os riscos para as contas fiscais: a companhia aérea estatal falhou pagamentos de empréstimos bancários, aumentando o crédito malparado” e “alguns destes ‘maus’ empréstimos também contam com garantia governamental”, apontou.
Num memorando dirigido ao FMI, o Governo reconhece as dificuldades e promete "desenvolver uma estratégia clara para o transporte interilhas e também para a TACV, colocando-a numa situação financeira sólida até 2026".
A importância de haver melhores ligações internas é referida noutra análise feita no mesmo relatório, em que o FMI mostrou uma recuperação desigual do turismo em Cabo Verde: só as duas ilhas mais turísticas (Sal e Boa Vista) recuperaram o número de visitantes anuais pré-pandemia, enquanto as restantes permanecem abaixo.
“Melhorar a conectividade entre ilhas é essencial para aumentar ainda mais o impacto do turismo no crescimento”, concluiu.
O apelo à melhoria das ligações interilhas tem sido feito por outras entidades, como o Grupo de Apoio Orçamental, que junta doadores internacionais, o banco central e empresários.
"O Estado tem uma responsabilidade crucial: investir seriamente numa companhia doméstica para resolver os problemas de transportes e esquecer definitivamente a questão dos voos internacionais", disse Marcos Rodrigues, presidente da Câmara de Comércio do Sotavento de Cabo Verde, em entrevista à Lusa, no último ano.
O relatório publicado pelo FMI detalha as mais recentes avaliações aos dois programas a decorrer em Cabo Verde e que, em Novembro, mereceram “luz verde” para novos desembolsos.
No caso, tratou-se da quinta (e penúltima) avaliação da Linha de Crédito Ampliada (ECF) permitindo o desembolso de aproximadamente 5,88 milhões de dólares (5,59 milhões de euros) e a segunda avaliação do Financiamento para a Resiliência e Sustentabilidade (RSF), equivalendo à transferência de cerca de 3,44 milhões de dólares (3,27 milhões de euros).