PIB por ilhas: A montra das assimetrias

PorJorge Montezinho,10 ago 2025 9:21

Dados do PIB por ilhas, publicados pelo INE, mostram que Santiago, São Vicente e Sal são responsáveis pela criação de 81,8% da riqueza nacional. Os restantes 18,2% dividem-se pelas outras seis ilhas. As ilhas com menor peso são Brava (0,9%), Maio (1,2%) e São Nicolau (2,2%).

O Instituto Nacional de Estatística publicou os dados do Produto Interno Bruto por ilha e as ilhas que apresentaram maior peso na estrutura do PIB de Cabo Verde, em 2023, foram Santiago (50,8%), São Vicente (18,5%) e Sal (12,5%). Com menor peso, destacam-se as ilhas da Brava (0,9%), Maio (1,2%) e São Nicolau (2,2%). As restantes três ilhas contribuíram para a riqueza nacional com 5,5% (Santo Antão) e 4,2% (para Boa Vista e Fogo).

Estes números mostram as assimetrias dentro do país? Para o economista Paulino Dias, estes dados expõem que “as políticas que deviam ter como objectivo uma maior desconcentração da contribuição para o PIB, têm ficado mais no campo da retórica e dos discursos do que propriamente de medidas concretas”.

“O peso de cada ilha no PIB nacional tem variado muito pouco, com excepção do Sal, como é evidente”, continua. “Entre 2015 e 2023, em termos reais, a ilha do Sal passa de 10,9% para 12,5%. Em contraposição, a ilha de Santiago, por exemplo, vê a sua contribuição cair de 53,4% em 2015, para 50,8% em 2023, representando uma variação negativa de menos 2,7 pontos percentuais. Portanto, esses dados evidenciam que, primeiro, temos dificuldades em perceber que há claramente políticas de desconcentração e, segundo, a haver, são mais no campo da retórica, da teoria, do que efectivamente da prática e os resultados evidenciam esta conclusão”.

Já Aquiles Almada, Mestre em Geografia Humana e Planeamento Regional e Local, disse ao Expresso das Ilhas que o PIB por ilhas não deve ser tomado como indicador das assimetrias regionais.

“O PIB por ilhas mede a riqueza produzida numa determinada ilha num determinado período. Ilhas com dimensão demográfica e territorial diferentes naturalmente tendem a ter PIB´s desiguais. Não é expectável que a ilha da Brava produza a mesma quantidade de riqueza que a ilha de Santiago. Quanto muito podemos considerar o PIB per capita como um possível indicador das assimetrias regionais. Ainda assim, com muitas cautelas, na medida em que ilhas como o Sal ou a Boa Vista apresentam um PIB per capita superior ao de São Vicente por exemplo. Todavia, tal não quer dizer que naquelas se viva melhor que nesta”.

Segundo o especialista, que é também Assessor da Ministra da Coesão Territorial, mas que fala enquanto cidadão, a assimetria regional é um conceito multidimensional que abarca dimensões sociais, infra-estruturais e económicas e que procura medir as diferenças de bem-estar e a melhor forma de a combater e conceber políticas públicas que produzam resultados equivalentes em termos de bem-estar entre as várias parcelas de um território.

“Por ser, precisamente, multidimensional, o indicador que melhor reflecte as desigualdades territoriais em Cabo Verde é o Índice de Coesão Territorial (ICT), publicado pelo INE. A análise do ICT evidência que na componente social e infra-estrutural o país é relativamente homogéneo. As diferenças entre as várias ilhas nestas dimensões não são tão extremadas. O que mostra que o Estado Social tem funcionado! Contudo, é na dimensão económica que existe maior desigualdade entre as ilhas”, resume.

“Esta diferenciação económica é consequência sobretudo da desigual estrutura económica das ilhas e da sua diferente integração na economia nacional e na globalização económica. Algumas ilhas possuem um tecido económico que assenta em sectores dinâmicos como os serviços, especialmente o turismo, caso das ilhas do Sal, Boa Vista, São Vicente e parte da ilha de Santiago (município da Praia), e apresentam elevados níveis de integração no fluxos turísticos, comerciais e financeiros internacionais, enquanto as demais ilhas, caso de Santo Antão, São Nicolau, Maio, interior de Santiago, Fogo e Brava, estão especializadas em sectores económicos menos dinâmicos, maduros, caso da agricultura e pecuária, e revelam uma menor integração na economia nacional e internacional”.

As políticas públicas de combate contra as assimetrias regionais começaram a ser implementadas nos EUA durante a crise de 1929 e depois foram transpostas para a Europa no pós II Guerra Mundial. Não têm como objectivo acabar com as assimetrias regionais, mas sim atenuá-las.

“Não há nenhum País do Mundo que tenha conseguido eliminar as assimetrias territoriais!”, diz Aquiles Almada. “Em Cabo Verde, as políticas públicas de combate às assimetrias regionais têm sido orientadas para a aceleração da convergência dos níveis de bem-estar entre as várias ilhas e entre os diversos municípios promovendo maior equidade no acesso às oportunidades de desenvolvimento entre os vários municípios, aumentando do ponto de vista quantitativo e qualitativo a oferta de emprego nas ilhas, melhorando a oferta de serviços públicos (educação, saúde e outros), e diminuindo os índices de pobreza. Nas suas dimensões sociais e de acesso às infra-estruturas e aos equipamentos sociais a convergência tem sido conseguida. Todavia, na componente económica ainda falta um longo caminho a percorrer”.

Desigualdades e desafios

Segundo o INE, a análise do PIB por ilha não só proporciona uma compreensão mais clara da performance económica regional, como também revela as desigualdades e os desafios específicos enfrentados por essas áreas. Além disso, ao comparar o PIB entre as diferentes ilhas, pode-se identificar padrões económicos e tendências que ajudam a formular estratégias para promover um crescimento mais equilibrado e sustentável.

A ilha que mais contribuiu para a variação do PIB nacional (+8,2%), a preços correntes, em 2023, foi a ilha do Sal (3,1%). Seguiram-se as ilhas de Santiago (2,5%) e de São Vicente (1,7%). Mas apesar de Santiago ser a ilha que mais contribui para o PIB, em termos de PIB per capita desce para 5º e está abaixo inclusive da média nacional [ver gráfico].

image

Gráfico 3: Distribuição do PIB per capita por Ilha (em Escudos), 2022 e 2023 – PAG 3 do PDF do INE

“O PIB de Santiago está a crescer, mas está a crescer a um ritmo menor do que o ritmo de crescimento da economia nacional”, explica Paulino Dias. Isso tem um efeito matemático sobre a sua contribuição para o PIB nacional. Outro aspecto que pode influenciar, no campo do PIB per capita, é que Santiago tem sido um receptor de fluxos migratórios, quer internos, quer do exterior, e isso também acaba por influenciar matematicamente a evolução do PIB per capita. Mas eu diria que há um outro aspecto mais subtil, que tem a ver com o crescimento muito mais lento do sector do turismo aqui em Santiago do que nas outras ilhas. O turismo tem sido a principal locomotiva da economia cabo-verdiana. E se esta locomotiva não tem a mesma dinâmica em Santiago, e não tem, a importância de Santiago no cômputo nacional em termos de contribuição para o PIB ainda se mantém elevada, mas cresce a um ritmo menor e o seu peso relativo tende a diminuir. Além disso, os demais sectores da economia de Santiago, agricultura, pesca, indústria, não têm conhecido grandes dinâmicas que pudessem compensar a sua relativa menor participação no sector do turismo”.

Para Aquiles Almada, este paradoxo explica-se pelas acentuadas desigualdades de produtividade existentes entre os vários municípios de Santiago. “Significativas diferenças prevalecentes ao nível da dotação dos factores de produção, caso de recursos humanos, capital, água, energia, tecnologia, fertilidade do solo, infra-estruturas, etc., espelhando as grandes desigualdades intra-regionais vigentes na ilha. Santiago é a ilha com maiores assimetrias territoriais ao nível do País”.

“Por outro lado”, afirma, “o grosso do PIB da ilha de Santiago está concentrado na cidade da Praia e advém do sector dos serviços. Muita desta riqueza produzida tem que ser redistribuída para outras ilhas, ao abrigo das políticas de Coesão Territorial, que não apenas a ilha de Santiago e o município da Praia. Doutro modo, o interior a ilha de Santiago possui também uma elevada dependência do sector da agricultura, pecuária e pesca. Sectores maduros, cujos rendimentos são muito voláteis, que apresentam taxas de crescimento relativamente baixos quando comparados com outros sectores, como o turismo”.

Reduzir as diferenças

Em 2023, o PIB totalizou 254 973 milhões de escudos, representando um aumento de 8,2% face a 2022 (235 628 milhões de escudos). A ilha de Santiago manteve-se como o principal centro económico do país, com um PIB de 129 412 milhões de escudos. Seguiram-se as ilhas de São Vicente (47 096 milhões de escudos) e do Sal (31 879 milhões de escudos).

Entre 2022 e 2023, as ilhas com maior crescimento do PIB foram as ilhas do Sal (+29,5%), São Nicolau (+29,1%), Fogo (+10,4%), São Vicente (+9,6%) e Santiago (+4,7%). As ilhas da Brava (-7,0%) e de Santo Antão (-4,5%) foram as únicas a registarem evoluções negativas.

Aliás, desde 2015 que a estrutura do PIB nacional é dominada pelas mesmas três ilhas [ver tabela], o que pode ser indicativo que ainda falta muito tempo para reduzir as assimetrias.

image

Tabela 3 - Estrutura PIB (%) por Ilha, série 2015 a 2023 – PAG 4 do PDF do INE

“É uma questão bastante complexa”, diz Paulino Dias, “primeiro, porque o pano de fundo não é estático. Nós estamos a falar de um contexto que evolui, e aqui quando eu me refiro ao contexto, há um elemento que é importante que é a população. Temos assistido a uma reconfiguração do panorama demográfico de Cabo Verde, com ilhas como Santo Antão, como São Nicolau, como Brava, como Maio e até regiões como o interior de Santiago a perderem população, a favor de ilhas como o Sal, em menor medida Boa Vista, o sul de Santiago, São Vicente e para o exterior. Neste contexto, o potencial da contribuição de uma ilha que está a perder população, por exemplo, Santo Antão, tende a ser muito menor por, pelo menos, duas razões: quanto menor é a população, menor é a capacidade produtiva da ilha e quanto menor a população, menor é o consumo nesta ilha, menor é o investimento, são menos pessoas a construírem casas, a investirem. Quanto mais tempo se passa sem medidas de política concretas para suavizar a perda de população ou até reverter esse fluxo, mais difícil e mais custoso é implementar políticas de desconcentração dos pólos de desenvolvimento económico do país. Portanto, quanto mais tempo perdermos, efectivamente, políticas muito específicas, muito ousadas, muito assertivas e de impacto real sobre a economia das ilhas chamadas periféricas, mais difícil se torna reverter este processo. Na próxima década, diria que as coisas tendem a agravar-se, as ilhas que hoje contribuem menos para a economia tendem a contribuir cada vez menos para a economia”.

Para o economista, se tivesse de optar por uma política pública prioritária, a escolha seria a criação de emprego qualificado. “É um bocado evidente e uma questão de bom senso. A população que está a sair não é a população idosa, é a população com idade produtiva. E se está a sair, não está a conseguir realizar-se profissionalmente na ilha de origem. É um fluxo migratório mais qualificado, as suas expectativas em termos de procura de emprego são diferentes das gerações anteriores de migrantes”.

Aquiles Almada considera que as políticas públicas futuras que poderão equilibrar o crescimento económico das diferentes ilhas têm de ser diferenciadas. “As ilhas de Santo Antão, São Nicolau, Maio, interior de Santiago, Fogo e Brava carecem de políticas públicas que promovam a sua reconversão económica, com a aposta em sectores económicos mais dinâmicos, com maiores taxas de crescimento, caso do turismo, e a modernização das actividades económicas existentes, caso da agricultura, pecuária, pesca, artesanato, exploração de recursos geológicos, etc”.

“Estas ilhas”, refere, “estão também confrontadas com significativos fluxos migratórios, demandando medidas de estabilização demográfica, e com problemas de acessibilidades significativos. Quando falo em problemas de acessibilidade, refiro-me tanto ao transporte inter como intra-ilhas. A ilha de Santiago apresenta níveis de acessibilidade interna (intra-ilha) reduzidos, condicionando a circulação fluída de pessoas, bens e serviços, fragmentando aquele que em teoria seria o maior mercado do País, com capacidade de arrastro sobre as demais ilhas do arquipélago”.

“Para os municípios de São Vicente, Sal, Boa Vista e Praia, a aposta das políticas públicas deverá ser na diversificação da sua estrutura económica, alargando o seu tecido empresarial para além do turismo de sol e praia. Devendo abarcar outros segmentos da actividade turística que geram maior valor acrescentado e incluir outros sectores de actividade económica como a indústria, alguma actividade agrícola e pecuária, os serviços financeiros, aquacultura, indústrias criativas, etc..”, sublinha Almada.

As velocidades da economia

As ilhas de Cabo Verde, devido à sua natureza geográfica e económica, apresentam características distintas que influenciam o seu PIB, pois cada uma possui um perfil económico único. A partilha do PIB por ilha permite entender como essas características influenciam para formar a base económica de cada ilha.

Esta índole leva mesmo o economista Paulino Dias a falar num país a nove velocidades. “Cada ilha está a ter a sua velocidade. E isso porque há poucos exemplos de uma perspectiva desenvolvimentista regional, que combine mais do que uma ilha. Há décadas que falamos em visões de desenvolvimento regional articulado e integrado no plano regional, até temos regiões definidas quase naturalmente, Barlavento e Sotavento, e mesmo dentro dessas regiões falamos, por exemplo, de Fogo e Brava, falamos do pólo Fogo e Brava/Santiago, falamos do Polo Santiago Maio, falamos no Norte, do pólo Santo Antão/São Vicente, ou Santo Antão/São Vicente/São Nicolau e Sal. Mas quando vamos esmiuçar as políticas, encontramos muito pouca evidência de um pensamento regional e, muito menos, de estratégias regionais integradas de desenvolvimento. Qual é o impacto que isso acaba por ter? Primeiro, uma multiplicação de intervenções, uma multiplicação de infra-estruturas, porque cada ilha quer ter a sua infra-estrutura própria; se uma ilha tem uma infra-estrutura, a outra ilha ao lado, em vez de ver qual é a infra-estrutura que pode colocar para maximizar o impacto a nível regional, também vai lutar para ter a sua infra-estrutura. Tem-nos faltado pensamento regional de uma forma muito honesta, muito desprendida, muito mais patriótica e menos individualista em termos da ilha, de ilhéu. Temos que deixar um pouco esse pensamento ilhéu e passar para um pensamento regional, um pensamento nacional integrado para o desenvolvimento. Precisamos pensar Cabo Verde, mas adoptar um pensamento mais integrado, um pensamento mais nacional, para olharmos para o país como um todo e não como dez pedaços de território espalhados no meio do mar, com cada um por si e Deus por todos”.

Para Aquiles Almada, a análise dos dados mostra que há um primeiro grupo de ilhas (São Vicente, Sal, Boa Vista e o município da Praia) que apresentam maior dinamismo económico, com níveis de PIB per capita superiores à média nacional, e um segundo grupo formado pelos demais municípios com níveis de dinamismo económico inferior e em consequência com níveis de PIB per capita inferiores à média nacional.

“Não creio que o problema resida no facto de termos nove economias regionais”, refere o Mestre em Geografia Humana e Planeamento Regional e Local. “Na verdade, temos dez economias regionais. Porque o interior de Santiago possui um perfil económico muito diferente do da cidade da Praia A meu ver, a questão prende-se sobretudo com o facto de estas economias não estarem integradas. Não se complementarem. A circunstância da maioria delas estarem aquém do seu potencial produtivo e de não contribuírem, ou de o fazerem de modo muito residual, para a riqueza produzida no País”.

Para aumentar a riqueza produzida no País, segundo Aquiles Almada, “é imperioso que cada uma destas economias possa aportar o seu contributo à economia nacional, apostando nos sectores económicos nos quais possuam potencial e detenham vantagens comparativas, capitalizando as suas idiossincrasias regionais. Para tanto, é necessário maior integração dessas economias no mercado nacional e internacional. O que remete para a questão da mobilidade das pessoas, bens, capital e informação. Ou seja para os transportes e para as telecomunicações a custos competitivos, numa primeira linha. Bem como, numa segunda linha, para a necessidade de as dotar dos demais factores de produção como água, energia, tecnologias, matéria-prima, capital e recursos humanos capacitados, em quantidade e qualidade”.

Paulino Dias sublinha que a regionalização tem de voltar a ser discutida. “Mas há dois aspectos a sublinhar. Primeiro, apenas a regionalização não irá resolver o problema. Porque, e eu dou um exemplo concreto, transferir mais poder de decisão para uma ilha, digamos, para os municípios de Santo Antão, para formular as suas próprias políticas de desenvolvimento, mas não resolver o problema de transportes entre Santo Antão e Santiago, ou Santo Antão e o Sal, ou Santo Antão e exterior, não vai resolver o problema. Os municípios vão ter mais poder, mas o problema de contexto não vai estar resolvido. A segunda nuance é que a discussão sobre regionalização que teremos que ter um dia, espero que seja em breve, terá que ser um bocado diferente da discussão que se teve há 10 anos, por causa até da inovação tecnológica. A forma como os processos estão organizados torna possível introduzir maior eficiência na gestão dos recursos a nível regional e a nível local”.

“Temos de olhar para o contexto, olhar para os desafios, ter uma ideia muito clara de quais é que devem ser resolvidos numa perspectiva nacional e quais é que devem ser resolvidos numa perspectiva regional, local e comunitária. Ver como é que a tecnologia nos pode permitir tirar o máximo proveito dos recursos que temos dentro de cada região. Temos de relançar essa discussão sobre a regionalização. Agora, o caminho que vamos seguir… Terá que haver um debate entre os diferentes actores e a diferentes níveis, de uma forma muito honesta, muito baseada em evidências, muito desprendida do jogo das dinâmicas eleitorais que muitas vezes distorcem esse tipo de debate. Muitas vezes nós temos mais a preocupação de qual é o impacto sobre as próximas eleições do que o impacto sobre a próxima década. E aos actores políticos deixo este apelo: têm que adoptar um pouquinho mais de patriotismo para pensar o país numa perspectiva de mais longo prazo e menos numa perspectiva do próximo ciclo eleitoral”, conclui o economista.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1236 de 6 de Agosto de 2025.

Concorda? Discorda? Dê-nos a sua opinião. Comente ou partilhe este artigo.

Autoria:Jorge Montezinho,10 ago 2025 9:21

Editado porAndre Amaral  em  11 ago 2025 12:19

pub.
pub
pub.

Últimas no site

    Últimas na secção

      Populares na secção

        Populares no site

          pub.