PIB cresce 6,2% no segundo trimestre de 2025

PorAndré Amaral,5 out 2025 8:55

A economia nacional manteve, no segundo trimestre deste ano, uma trajectória de crescimento robusto, com o Produto Interno Bruto (PIB) a registar uma variação positiva de 6,2% em termos reais face ao mesmo período do ano anterior. Os dados foram divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) através das Contas Nacionais Trimestrais e traduzem um desempenho mais favorável do que o observado no início do ano, quando a economia havia crescido 3,7%.

Segundo o INE, a aceleração em relação ao primeiro trimestre resulta de uma conjugação de factores, entre os quais se destacam o dinamismo da Construção, do Alojamento e Restauração, dos Transportes e Armazenagem e da Administração Pública. Também os impostos líquidos de subsídios tiveram uma evolução relevante, crescendo 8,3% e contribuindo em 1,3 pontos percentuais para o aumento do PIB.

O sector da Construção foi um dos motores mais visíveis da economia no período em análise, ao registar um crescimento homólogo de 23,2%, o que representou um contributo positivo de 0,7 pontos percentuais para o PIB. Trata-se de uma evolução que dá sequência à recuperação já observada em 2024 e que confirma a importância da actividade na dinamização do emprego e na execução de projectos de infraestruturas públicas e privadas.

No turismo, os números confirmam uma retoma sólida. O Alojamento e Restauração cresceu 15%, depois da evolução mais modesta de 4,7% no primeiro trimestre, reflectindo a entrada da época alta e o aumento da procura externa. O sector foi responsável por 1,1 pontos percentuais do crescimento económico no trimestre. Paralelamente, os Transportes e Armazenagem aumentaram 7,9.

A Agricultura também registou um comportamento favorável, com um crescimento de 11,8%, contribuindo em 0,3 pontos percentuais para o PIB, sinalizando uma recuperação da produção após variações negativas em anos anteriores.

Em contraste, o Comércio manteve-se em terreno negativo, com uma quebra de 3,4% em termos homólogos, o que se traduziu num contributo negativo de 0,4 pontos percentuais. Esta evolução, embora menos acentuada do que a registada no primeiro trimestre (-7,4%), continua a evidenciar fragilidades no consumo privado e nas actividades ligadas ao retalho.

Do lado da procura interna, o PIB foi impulsionado sobretudo pelo aumento do consumo público e pelo investimento. As despesas das administrações públicas cresceram 5,2%, revertendo a queda do trimestre anterior, e constituíram um factor de estabilização. Já o consumo privado registou um aumento mais moderado de 2,7%, sinal de que as famílias continuam a enfrentar constrangimentos de rendimento num contexto de pressões sobre o custo de vida.

O investimento, medido pela Formação Bruta de Capital Fixo e variação de existências, apresentou um crescimento expressivo de 12,3%, acelerando face aos 6,1% do primeiro trimestre.

No que respeita ao sector externo, as exportações de bens e serviços cresceram 3,2% no segundo trimestre, recuperando da contracção de 6,4% no período anterior. Contudo, a evolução foi desigual: as exportações de bens registaram uma queda de 10%, atenuando mas não revertendo a tendência de retracção já verificada nos últimos trimestres. Já as exportações de serviços aumentaram 8,6%, reflectindo a boa performance do turismo e de outras actividades relacionadas.

As importações aumentaram 0,2%, em termos homólogos, depois de uma queda de 7,3% no primeiro trimestre. A ligeira variação reflecte um aumento de 0,9% nas importações de bens e uma diminuição de 2,6% nas importações de serviços. O resultado global contribuiu para uma evolução menos desfavorável da balança externa, ainda que a dependência estrutural do país em relação às importações continue elevada.

Crescimento acumulado no primeiro semestre

No acumulado dos dois primeiros trimestres de 2025, a economia nacional registou um crescimento de 4,9% em volume. O desempenho ficou a dever-se sobretudo à Agricultura (+20,9%), à Construção (+19,2%), às Indústrias Extractivas (+22,5%), aos Transportes (+7,1%), ao Alojamento e Restauração (+9,0%) e às Actividades de Serviços às Empresas (+6,4%).

Em contrapartida, sectores como o Comércio (-5,4%), a Indústria Transformadora (-1,6%), a Electricidade e Água (-0,3%) e a Saúde e Acção Social (-0,8%) registaram variações acumuladas negativas, revelando assimetrias no comportamento económico entre diferentes áreas de actividade.

Perspectivas e riscos

A evolução do segundo trimestre de 2025 confirma que a economia em Cabo Verde continua a beneficiar de uma dinâmica positiva associada ao turismo, à construção e a investimentos estruturais. O desempenho mais favorável do sector agrícola também contribui para reduzir alguma vulnerabilidade externa associada à importação de bens alimentares.

Contudo, subsistem riscos que poderão condicionar os próximos trimestres. A quebra no comércio e a estagnação das indústrias transformadoras revelam fragilidades na diversificação económica. A elevada dependência do turismo, embora continue a ser um motor essencial, expõe o país a choques externos, nomeadamente variações na procura internacional ou eventuais disrupções nos transportes aéreos e marítimos.

Do lado da procura interna, a recuperação do consumo privado continua limitada pela evolução do rendimento das famílias, enquanto a sustentabilidade do consumo público dependerá da margem orçamental do Estado. O investimento mantém-se como um factor crucial para sustentar o crescimento a médio prazo, mas a sua continuidade está condicionada pela capacidade de mobilização de financiamento e pela execução eficiente de projectos.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1244 de 01 de Outubro de 2025.

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Autoria:André Amaral,5 out 2025 8:55

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  7 out 2025 17:19

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