Economia cresce menos que no trimestre anterior

PorJorge Montezinho,7 set 2025 8:50

São os dados do Banco Central, de Agosto, o PIB nacional em volume cresceu 3,7% no primeiro trimestre de 2025 (6,6% no trimestre anterior). E para o segundo trimestre é também esperado um crescimento moderado.

Segundo o relatório sobre os indicadores económicos e financeiros, do BCV, o desempenho mais discreto da economia nacional deveu-se, do lado da procura, ao menor desempenho da procura interna. No primeiro trimestre deste ano, a procura interna cresceu 2,1% em termos homólogos, mas no trimestre anterior este valor foi de 8,9%.

Este abrandamento, segundo o BCV, é o resultado da prudência do consumo privado, que cresceu 2,0% (13,2% no trimestre anterior) e da redução do consumo público (em 1,3%). Principais razões para esta desaceleração? O abrandamento dos rendimentos reais das famílias, associado ao registo de menores prestações sociais e outras transferências correntes líquidas, ao aumento da inflação e a baixa confiança dos consumidores.

Do lado da oferta, a moderação da actividade económica no primeiro trimestre deveu-se, principalmente, ao abrandamento que se registou na actividade do sector de “Alojamento e restauração” e nos “Impostos líquidos de subsídios” arrecadados no período, que cresceram, respetivamente, 4,7% e 5,7% em termos homólogos (mas foram de 21,7% e 12,0% no trimestre anterior), bem como, à redução da actividade dos sectores de “Administração Pública e Segurança Social” (em 1,0%), “Indústria transformadora” (em 3,2%) e “Comércio e reparação” (em 7,4%).

O BCV avança que para o segundo trimestre de 2025, os indicadores disponíveis apontam, novamente, para a moderação do crescimento da actividade económica nacional. Os indicadores quantitativos de Abril a Junho de 2025, apontam para um crescimento mais regrado da procura interna. A evolução das importações de bens de consumo, particularmente, dos bens não duradouros (que representam cerca de 80% do total das importações), indiciam que o consumo deverá abrandar. O investimento deverá registar também um fraco desempenho face à queda das importações de materiais de transporte e o abrandamento das importações de materiais de construção.

Inflação

A inflação aumentou, como se nota no aumento dos preços dos produtos alimentares, do gás e de outras rendas de alojamento e é corroborada pela evolução da taxa de inflação média anual. Em Junho, a taxa de inflação média anual registou um aumento, fixando-se em 1,8% (1,4% em Junho de 2024).

Este perfil ascendente da taxa de inflação média anual deveu-se, sobretudo, ao aumento dos preços, em termos médios, das classes de “Bens e serviços diversos” (em 5,9%), “Produtos alimentares e bebidas não alcoólicas” (em 1,2%), “Habitação, água, eletricidade, gás e outros combustíveis” (em 1,4%), “Transportes” (em 1,5%) e “Vestuário e calçado” (em 2,9%).

Na classe de “Produtos alimentares e bebidas não alcoólicas”, destaca-se o aumento dos preços de “Matérias Gordas” (em 1,3%), “Carnes” (em 5,3%), “Água mineral, refrigerantes e sumos de frutas” (em 5,9%), e “Café, chá e cacau” (em 7%). Na classe de “Habitação, água, eletricidade, gás e outros combustíveis” refira-se o aumento dos preços do “Gás” (4,0%) e de “Outras Rendas” (10,0%) e a redução menos expressiva dos preços dos “Combustíveis líquidos”, em 5,8% (uma queda de 11,4% no período homólogo).

Na classe de transportes, é de se destacar a subida dos preços de “Transporte aéreo de passageiros” (em 12,9%), “Manutenção e reparação de equipamento para transporte pessoal” (em 21,1%), “Motociclos” (em 3,8%) e “Peças e acessórios para equipamento para transporte pessoal” (em 4,1%).

Contas externas

As contas externas evoluíram favoravelmente no primeiro trimestre de 2025. A balança corrente apresentou um superavit da ordem dos 6.714,6 milhões de escudos, explicado sobretudo, pelos aumentos registados nas exportações de serviços de viagens de turismo (em 6,1%) e de transportes aéreos (em 20,4%), nas remessas dos emigrantes (em 6,8%), nas outras transferências correntes privadas, em particular, donativos de individualidades e instituições sem fins lucrativos (em 4,6%) e nas transferências correntes oficiais (em 8,6%), bem como, pela queda registada nas importações de bens e serviços (em 2,3%).

No entanto, houve também uma redução das reexportações de combustíveis e viveres nos portos e aeroportos nacionais (em 8,5%) e aumentos nos rendimentos de investimento direto expatriados e nos pagamentos de juros da dívida pública externa.

Crédito

O crédito à economia cresceu 0,9% (comparando com Dezembro de 2024), apresentando, no entanto, um abrandamento face ao crescimento de 1,9% em período homólogo. O crédito à economia cresceu, em termos homólogos, 4,6% em Junho de 2025 (5,7% em Junho passado). Esta evolução mais moderada do crédito à economia, explica o BCV, poderá estar relacionada com o abrandamento da actividade económica nacional, o aumento das taxas de juros ativas praticadas em algumas maturidades, bem como, com os critérios de aprovação de empréstimos dos bancos ligeiramente mais restritivos para as empresas e para os particulares.

No âmbito do inquérito trimestral ao mercado de crédito realizado pelo BCV, no segundo trimestre de 2025, os bancos aumentaram ligeiramente a restritividade dos critérios de aprovação dos empréstimos, tanto para as empresas como para os particulares. O nível de incumprimento e a perceção dos riscos quanto às perspetivas para sectores de actividade específicos, aos riscos associados a empresas sem contabilidade organizada e a qualidade creditícia dos consumidores, justificou o ligeiro aumento da restritividade dos critérios de aprovação de empréstimos para as empresas e para os particulares. 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1240 de 3 de Setembro de 2025.

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Autoria:Jorge Montezinho,7 set 2025 8:50

Editado porFretson Rocha  em  9 set 2025 20:19

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