“As bases de um acordo estão prontas e, teoricamente, amanhã [quinta-feira] poderemos aceitar esse acordo com o Reino Unido”, declarou Donald Tusk numa entrevista ao canal televisivo polaco TVN24.
Com as equipas negociais reunidas em Bruxelas e o tempo a escassear para alcançarem um acordo antes da reunião dos chefes de Estado e de Governo da União Europeia (UE), agendada para quinta e sexta-feira, o presidente do Conselho Europeu estimou que, “em teoria”, dentro de “sete ou oito horas” será claro se um compromisso entre os 27 e o Reino Unido será possível.
“Ontem [terça-feira] estava disposto a apostar nisso, mas hoje surgiram novas dúvidas do lado britânico. As negociações estão a decorrer, estão a correr bem, mas tudo é possível com os nossos parceiros britânicos”, ressalvou, dizendo-se ainda assim otimista.
As declarações do político polaco ‘agitam’ uma tarde atípica em Bruxelas, onde as tradicionais rotinas pré-cimeira europeia permanecem em ‘stand by’: a menos de 24 horas do Conselho Europeu, a carta-convite que Donald Tusk invariavelmente envia aos líderes ainda não foi divulgada e o ‘briefing’ que antecede qualquer reunião dos 28 ainda não têm hora prevista.
Também a reunião do negociador-chefe comunitário, Michel Barnier, com os embaixadores dos 27 na UE foi adiada das 14:30 (hora local, menos uma em Lisboa) para as 17:00 e novamente para as 19:00, por as negociações entre Bruxelas e Londres ainda estarem em curso.
Esta manhã, Barnier transmitiu à Comissão Europeia, durante a reunião do colégio, que as discussões técnicas da noite passada entre Bruxelas e Londres foram “construtivas”, mas que ainda há “um número significativo” de questões a resolver para que um acordo para o ‘Brexit’ seja alcançado.
“O negociador-chefe da União Europeia informou o colégio do estado das conversações com o Reino Unido. As discussões a nível técnico decorreram até altas horas esta noite e continuam neste momento. As discussões foram construtivas mas ainda há um número significativo de questões para resolver”, informou o comissário europeu das Migrações, em conferência de imprensa após a conclusão da reunião semanal do executivo comunitário, em Bruxelas.
A mesma percepção quanto ao estado das negociações tinha sido avançada momentos antes pelo primeiro-ministro irlandês, com Leo Varadkar a reiterar que, embora exista “um caminho para um possível acordo”, ainda há “numerosas questões que precisam de ser plenamente resolvidas”.
Varadkar mostrou-se convicto que um acordo entre Bruxelas e Londres ainda pode ser alcançado hoje e ressalvou que, caso tal não seja possível, “a data de 31 de Outubro ainda está a umas semanas” e que há disponibilidade dos líderes europeus para uma cimeira extraordinária até ao dia agendado para a saída do Reino Unido da UE.
Também hoje, o ministro britânico para o ‘Brexit’, Steve Barclay, confirmou que o Governo britânico pretende cumprir a lei e pedir um adiamento da saída do Reino Unido do bloco comunitário se não conseguir alcançar um acordo até sábado.
Oficialmente designada por Lei de Saída da UE (n.° 2), mas baptizada com o nome do deputado trabalhista e primeiro signatário do texto, Hilary Benn, a legislação obriga Boris Johnson a pedir um adiamento por mais três meses, até 31 de Janeiro, se não for alcançado um acordo nem autorizada uma saída sem acordo até 19 de Outubro.
Poucos detalhes têm sido divulgados sobre o conteúdo das negociações, que se concentram em manter uma fronteira aberta entre a Irlanda, Estado-membro da UE, e a Irlanda do Norte, região parte do Reino Unido.
As discussões em curso centram-se em dois pontos de discórdia: como aplicar controlos aduaneiros sem a necessidade de uma fronteira física na ilha da Irlanda e a questão do direito de consentimento atribuído às autoridades da Irlanda do Norte sobre um alinhamento com as regras do mercado único.