"Estamos a exportar actualmente 25 mil milhões de dólares [22,5 mil milhões de euros] por ano em alimentos, o que é um valor maior do que o que resulta da venda de armas, que representam 15 mil milhões [13,5 mil milhões de euros]", disse o governante russo, acrescentando querer, "pelo menos, duplicar essas trocas nos próximos quatro ou cinco anos".
As declarações de Putin foram feitas no discurso oficial de abertura da Cimeira Rússia-África, que decorre na cidade costeira de Sochi, na Rússia, perante dezenas de chefes de Estado e governantes africanos, entre os quais os presidentes de Angola, Moçambique e Cabo Verde.
"Em África, há muitos parceiros potenciais com boas perspectivas de desenvolvimento e um enorme potencial de crescimento", apontou o líder russo, vincando que é sua intenção "fortalecer a presença do Estado russo" no continente.
Putin abre primeira "Cimeira Rússia-África" para recuperar o tempo perdido
O Presidente russo abre hoje a primeira "Cimeira Rússia-África", um sinal de uma ambição crescente da Rússia no continente africano, num encontro em que participam cerca de 30 líderes africanos, incluindo Jorge Carlos Fonseca.
No discurso, Putin lembrou ainda que perdoou 20 mil milhões de dólares (18 mil milhões de euros) em dívidas dos países africanos e mostrou-se esperançado num aumento das trocas comerciais entre os dois blocos, das quais 40% são feitas com o Egito.
O homólogo egípcio de Putin, Abdel Fattah al-Sisi, Presidente em exercício da União Africana, foi o aliado estratégico escolhido pelo Presidente russo para coliderar a cimeira, numa fórmula diplomática que reproduz os "Fóruns de Cooperação Sino-Africana" que, desde 2000, têm permitido a Pequim tornar-se o principal parceiro do continente.
Em 20 anos no poder, Vladimir Putin apenas fez três viagens à região da África subsaariana, sempre com a África do Sul no centro de cada um dos roteiros, mas chegou a altura de demonstrar que os interesses africanos ocupam uma parte importante das preocupações do Kremlin.
O chefe de Estado russo, numa entrevista divulgada no início da semana, cita como prova do compromisso de Moscovo com a região a "cooperação militar e de segurança", a ajuda no combate ao vírus Ébola, a formação de "quadros africanos" pelas universidades russas, garantindo que os projectos russos em África são caracterizados pela ausência de ingerência "política ou outra".
África é um "continente importante", com o qual Moscovo mantém "relações tradicionais, históricas e íntimas", sublinhou hoje, à comunicação social, Dmitry Peskov, porta-voz de Putin, numa referência à antiga União Soviética.
Entre os participantes, estão os presidentes de Angola, João Lourenço, de Moçambique, Filipe Nyusi, e Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, enquanto São Tomé e Príncipe se faz representar pela ministra dos Negócios Estrangeiros, Elsa Pinto.