Para o jornalista e poeta guineense, mais conhecido por Tony Tcheka, é necessário conhecer o projecto de cada um dos candidatos.
“Estou em crer que vai ser necessário algum debate, troca de ideias. Os candidatos têm que se confrontar, o que não aconteceu na primeira volta. Não houve, de facto, a apresentação de ideias acabadas, de projectos bem alinhavados que pudessem consubstanciar um futuro próximo ou a médio prazo”, apela, em entrevista ao Expresso das Ilhas.
Em concreto sobre Sissoco Embaló, que chegou à primeira linha política durante o mandato do actual Presidente, José Mário Vaz, António Soares Lopes afirma que se sabe pouco sobre a sua visão política.
“É um protagonista recente, não é uma pessoa que tenha uma história elaborada. Apareceu muito nos últimos tempos e projectou-se na cena política através das facilidades que lhe foram dadas pela Presidência da República, pelo presidente Jomav [José Mário Vaz]. Ele deve muito a Jomav, inclusive chegou a chefiar um governo”, observa.
“Na Guiné-Bissau ele não tem uma história de luta política, de inserção na vida política e social”, reforça.
Na primeira volta das presidenciais, Domingos Simões Pereira, do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC, poder), foi o candidato mais votado, com 40,13% das preferências eleitorais, insuficientes para garantir a eleição. Umaro Sissoco Embaló, do Movimento para a Alternância Democrática (Madem-G15, oposição) foi o segundo mais votado, obtendo a marca de 27,65%.
A menos de um mês da votação decisiva. Os candidatos fazem alianças e tentam garantir apoios. António Soares Lopes destaca a importância desses acordos, mas não acredita numa transferência matemática de votos.
“As alianças irão pesar na balança e poderão influenciar o eleitorado, mas dizer que matematicamente vai haver transferência de votos, não me parece que seja muito real. Os discursos poderão contribuir e terá que haver, necessariamente, alguma moderação”, antecipa.
O ex-Primeiro-Ministro e antigo presidente do PAIGC, Carlos Gomes Júnior, anunciou o apoio a Embaló, que definiu como “um jovem” e “aquele que nas circunstâncias actuais melhor pode aglutinar sinergias para tirar o país da situação em que se encontra".
No Sábado, ‘Cadogo’, como é conhecido, sublinhou a “profunda ligação ao PAIGC”, mas lamentou nunca ter sido contacto por nenhum dirigente da força política, durante os sete anos em que viveu fora do país, na sequência do golpe de Estado de 2012.
“Nenhum dirigente me contactou ou tentou saber como a minha família vivia", expressou.
Sem querer antecipar cenários, Soares Lopes espera que o resultado das eleições de 29 de Dezembro se traduza em estabilidade política.
“O que a Guiné-Bissau não precisa neste momento é de mais isolamento. Precisa que haja, entre Presidência da República e governo, um clima de entendimento, Que haja uma cooperação efectiva e que aquilo que aconteceu nos últimos anos, que foi trágico, não se volte a repetir. Tem que haver um corredor de diálogo e de concertação permanente”, deseja.
Durante a primeira volta das presidenciais, a abstenção fixou-se nos 26,63%, um dos valores mais altos de sempre. A data da segunda volta, em pleno período festivo, pode novamente afastar muitos eleitores, em particular na diáspora.