A resolução, da autoria dos Estados Unidos, recebeu 14 votos a favor e uma abstenção da Rússia.
Trata-se da primeira resolução do Conselho de Segurança sobre um plano de cessar-fogo que visa pôr fim à guerra de oito meses entre Israel e o Hamas em Gaza.
Após a aprovação da resolução, a embaixadora norte-americana junto da ONU, Linda Thomas-Greenfield, colocou a pressão sobre o grupo islamita Hamas, assegurando que "Israel já concordou com este acordo".
"Colegas, este Conselho enviou hoje uma mensagem clara ao Hamas: Aceitem o acordo de cessar-fogo que está sobre a mesa. Israel já concordou com este acordo. E os combates poderiam parar hoje se o Hamas fizesse o mesmo. Repito: os combates podem parar hoje", frisou a diplomata, insistindo que o "Hamas deve aceitar" a proposta.
Embora Biden se tenha referido ao plano como uma proposta israelita, após o seu anúncio, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, indicou que as suas condições para acabar com a guerra -- incluindo "a destruição das capacidades militares e de governo do Hamas" e a libertação de todos os reféns -- não tinham mudado.
Além disso, autoridades israelitas argumentaram que a descrição de Biden da oferta israelita era imprecisa ou que havia "lacunas" entre a versão apresentada por Washington e o que Israel realmente propôs.
Já a Rússia, ao justificar a sua abstenção na votação de hoje, criticou a "falta de clareza" sobre se Israel concorda ou não com o acordo, expondo as "contradições" entre o que Washington e Telavive dizem.
"Estamos convencidos de que o Conselho de Segurança não deve assinar acordos com parâmetros vagos e sem garantias, (...) sem a menor compreensão clara de como as próprias partes se comportam", defendeu o embaixador russo, Vasily Nebenzya.
"A adopção pelo Conselho de um novo documento cujo conteúdo levanta enormes questões, mesmo sem uma exigência clara às partes de um cessar-fogo imediato e permanente, mina a sua autoridade como principal órgão de manutenção da paz internacional e segurança", alegou ainda.
Na reunião de hoje, Israel não respondeu directamente à questão russa sobre se apoia o acordo, mas reforçou estar "empenhado em libertar todos os reféns, destruir as capacidades militares e governativas do Hamas e garantir que Gaza não representa uma ameaça para Israel no futuro".
Em 31 de Maio, Biden anunciou o que descreveu como uma nova proposta israelita, chamando-a de "um roteiro para um cessar-fogo duradouro e a libertação de todos os reféns", composto por três fases.
A primeira das quais incluiria, entre outras coisas, "um cessar-fogo total e completo", a retirada das forças israelitas de "todas as áreas povoadas de Gaza" e a libertação de "um número de reféns -- incluindo mulheres, idosos, feridos -- em troca da libertação de centenas de prisioneiros palestinos".
Esta primeira fase deverá durar seis semanas, durante as quais Israel e o grupo islamita Hamas "negociariam os acordos necessários" para passar para a segunda fase, que veria a "libertação de todos os reféns vivos restantes" em troca da retirada das forças israelitas de Gaza.
A terceira fase incluiria um "grande plano de reconstrução para Gaza" e a devolução de "quaisquer restos mortais de reféns que foram mortos" às suas famílias.
A proposta diz que se as negociações demorarem mais de seis semanas para a primeira fase, o cessar-fogo continuará enquanto as negociações decorrem.
A resolução hoje aprovada pelo Conselho de Segurança rejeita qualquer tentativa de alteração demográfica ou territorial na Faixa de Gaza, incluindo quaisquer acções que reduzam o território do enclave.
O texto reitera também o compromisso inabalável do Conselho com a "visão da solução de dois Estados, onde dois Estados democráticos - Israel e Palestina - vivam lado a lado em paz, dentro de fronteiras seguras e reconhecidas, consistentes com o direito internacional e as resoluções relevantes da ONU", e, a este respeito, "salienta a importância de unificar a Faixa de Gaza com a Cisjordânia sob a Autoridade Palestiniana".
Apesar de a embaixadora norte-americana insistir que Israel aprovou o acordo, ainda não é certo se Telavive e o Hamas concordam plenamente com o plano de cessar-fogo em três fases, mas o forte apoio da resolução no órgão mais poderoso da ONU coloca pressão adicional sobre ambas as partes para aprovarem a proposta.
Amplamente criticados por terem bloqueado vários projectos de resolução que apelavam a um cessar-fogo em Gaza, os Estados Unidos, inabalável aliado de Israel, continuaram a justificar-se nos últimos meses, garantindo que uma trégua só poderia resultar de um acordo no terreno.