A Universidade Técnica do Atlântico (UTA) será uma entidade nova, que integra algumas instituições existentes e outras que vão ser criadas, para desenvolver a base para o pilar “ensino superior” do Campus, segundo o draft a que o Expresso das Ilhas teve acesso. A Universidade Técnica do Atlântico terá instalações próprias, construídas de raiz, e os seus princípios serão estruturados à volta de cinco conceitos base: a base tecnológica, a convergência, a conectividade, a internacionalização e a qualidade.
Em relação aos conceitos por trás da UTA quer-se uma universidade de base tecnológica, totalmente informatizada, aberta e à distância. Será também uma instituição de convergência científica e tecnológica, com um forte pendor para o desenvolvimento, onde terão um lugar especial as problemáticas do desenvolvimento de Cabo Verde, através da transformação e gestão dos seus recursos endógenos: o solo, as pedras, o sol, o vento, o mar, o espaço aéreo, as montanhas, os vulcões, os vales, as praias e as gentes.
Uma universidade internacionalizada
O documento considera o Atlântico um corredor de negócios e conhecimentos e sublinha que Cabo Verde está estrategicamente posicionado. O objectivo é juntar a esta posição estratégica o eixo da referência científica em oceanografia, turismo rural e sustentável, tecnologias sustentáveis de agricultura, pecuária e construção rural, entre outros. O regresso desta relevância geoestratégica, deve-se, refere o draf, à viragem do mundo para o mar, às mudanças climáticas e ao papel fulcral dos oceanos nas dinâmicas climáticas, e à recomposição dos equilíbrios económicos, políticos e militares do mundo.
Segundo o estudo, a criação de uma universidade tecnológica, na era da convergência dos saberes (matemática, informática, física engenharias, saúde, ambiente, urbanismo, combate à pobreza), é uma oportunidade para, “a partir deste laboratório no centro do Atlântico, contribuir para um mundo melhor para todos, baseado em tecnologias para a humanidade”.
A Universidade Técnica do Atlântico vai adotar a língua inglesa como língua de ensino, comunicação científica e académica no geral, no mesmo plano que a língua portuguesa, nas questões de âmbito nacional e no primeiro plano nas questões de âmbito internacional.
Perfil de saída: formar cidadãos inteligentes
A Universidade Técnica do Atlântico pretende formar os profissionais e cidadãos para o futuro, de Cabo Verde e do mundo. As principais áreas serão:
As ciências e tecnologias ligadas ao mar: maricultura, pescas, biologia marinha, transformação de pescado, gestão costeira, oceanografia, navegação marítima, gestão de portos e transportes marítimos;
Ligadas à autossuficiência energética: energias solar fotovoltaica e térmica, energia eólica, energia das ondas, eficiência energética;
Ligadas à segurança alimentar: modernas técnicas de agricultura, adaptação de espécies pecuárias, sanidade vegetal, sanidade animal, melhoramento de espécies agrária, produção de sementes, transformação de produtos agropecuários;
Turismo sustentável: turismo cultural, turismo científico, turismo habitacional, artesanato, design, indústrias criativas
Ciências aeronáuticas: manutenção de aeronaves, pilotagem, controlo de tráfego aéreo, gestão aeroportuária;
As áreas científicas e tecnológicas de futuro são, entre outras:
Engenharia de dados: inteligência artificial, gestão de bases de dados, aprendizagem de máquina, business analysis;
Mecatrónica e robótica: inteligência artificial, eletrónica digital, mecânica, drones, robots, navegação automática;
Ciências dos materiais: materiais compósitos, optimal shape design, nanotecnologias;
Energias: energias renováveis, novas fontes de energia (hidrogénio, fissão nuclear), eficiência energéticas;
Ciências do ambiente: impacto ambiental, ecologia, equilíbrio de nichos ecológicos.
No fundo, a oferta formativa incidirá sobre as ciências aplicadas e convergentes, tecnologias do futuro, engenharias, design, artes e indústrias criativas e desenvolvimento comunitário com base em artes, ciências e tecnologias endógenas em dialética com as modernas.
As unidades orgânicas iniciais propostas para a Universidade Técnica do Atlântico são as seguintes: Instituto de Engenharias e Ciências do Mar, proveniente da Faculdade de Engenharias e Ciências do Mar da Uni-CV; o M_EIA Instituto Universitário de Arte, Tecnologias e Cultura, proveniente do M_EIA; e dois institutos que serão criados de raiz: o Instituto Superior de Ciências e Tecnologias Agrárias e o Instituto de Turismo e Aeronáutica.
Soluções sustentáveis para as grandes problemáticas de Cabo Verde:
A segurança alimentar, através das modernas técnicas agrárias, optimizadas para cabo verde, pesca e aquacultura, transformação e conservação de produtos, transportes e logística;
A saúde: estudo das questões ligadas à saúde pública, endemias, epidemias; plantas medicinais, recursos marinhos medicinais;
Educação para o século XXI: contribuir para a educação científica e tecnológica do cabo-verdiano do século XXI, facultando-lhe valências em relação às principais literacias: informática, comunicacional, financeira, matemática, ambiental;
O emprego: capacitar o cabo-verdiano para a produtividade tecnológica, empreendedorismo, inovação, autoemprego, através da indução de visão e capacidade tecnológicas para transformar os recursos à sua volta em produtos com valor acrescentado;
Segurança e autonomia energéticas: investigação aplicada à racionalização energética, captação de energias renováveis, produção de água;
Segurança e autonomia hídrica: capacitação na racionalização da água, sua produção e captação através de energias renováveis;
O ambiente: capacitação na preservação do ambiente e recursos naturais, métodos e técnicas de despoluição, indução de ciência e cultura para a melhoria do meio ambiente;
A segurança e a paz social: capacitação em estratégias de desenvolvimento comunitário, produção participativa;
A autonomia económica: capacitação na produção industrial, em particular o turismo e indústrias criativas, estratégias de otimização da importação e da exportação, capacitação em implementação e gestão de sistemas de qualidade.
Texto originalmente publicado na edição impressa do expresso das ilhas nº 921 de 24 de Julho de 2019.