“Estamos atentos e serenos a acompanhar e a cumprir as medidas e as orientações em curso e neste momento devo dizer que em Santa Catarina está tudo parado, os serviços de portas fechadas cumprindo o confinamento na esperança de que venceremos esta luta”, começa por dizer o presidente da Câmara Municipal de Santa Catarina de Santiago.
Para Beto Alves o foco da edilidade neste momento de confinamento é sobretudo as famílias e que o essencial é que as pessoas não percam o sentido de unidade e de solidariedade.
“É isso que tem acontecido, com o engajamento profundo de certas entidades, de pessoas individuais e de empresas. Tem havido muita solidariedade visando atender às famílias com mais dificuldade”.
Beto Alves disse ao Expresso das Ilhas que os santa-catarinenses estão a conviver com o isolamento social de forma disciplinada e que boa parte da população já ganhou consciência da dimensão desta pandemia. “Nós verificamos isso no cumprimento das orientações e notamos isso sobretudo no final da semana que coincidiu com a Páscoa que tradicionalmente aqui em Santa Catarina temos várias localidades em que a festa da Páscoa é celebrada com muita convivência e muita concentração de pessoas. Mas este ano nós verificamos que as pessoas acataram muito bem as orientações e ficaram em casa, não houve movimentação nem concentração de pessoas”.
Já Fausto do Rosáriomanifestou ao Expresso das Ilhas a sua preocupação com a forma ligeira como muitos sanfilipenses estão encarando as medidas de confinamento.
“Hoje saí de casa logo cedo para fazer umas compras rápidas e francamente o que vi não gostei. Quanto a mim, estas medidas do estado de emergência que são de se aplaudir e de continuar, devem ser melhor seguidas e compreendidas pela população aqui do Fogo. De facto, não se pode aceitar que à frente de instituições bancárias e dos correios se aglomerem mais de 100 pessoas. Depois, um aglomerado que não respeita minimamente o distanciamento social. E não se pode culpar a polícia, porque se a polícia tivesse que prender, prenderia mais de cem ou duzentas pessoas e talvez um total de mais de quinhentas pessoas se fôssemos ver todos os aglomerados”, aponta.
Para o professor é necessário que os sanfilipenses e as pessoas do Fogo, de uma forma geral, tenham uma maior consciência cívica daquilo que é preciso fazer. “Eu não acredito que a repressão substitua a consciência cívica. É o que nós temos verificado aqui. Muita gente, muitas aglomerações junto às instituições bancárias, junto à CVTelecom, à antiga Shell, à Electra e junto à Água Brava. Acho que isso dá uma má imagem em relação àquilo que se deveria fazer”, afirma, acrestando que na sua opinião esses serviços deviam funcionar no horário normal e sem redução de pessoal de modo a poder dar satisfação aos utentes. “Se não vai continuar a acontecer isto: pessoas que não conseguem ser atendidas num período curto das 8 horas até ao meio-dia regressam no dia seguinte criando precisamente esses aglomerados. Francamente, até parece que não estamos em estado de emergência”.
Para Fausto do Rosário, em termos gerais, a maioria das pessoas aceitam as medidas de confinamento e na sua opinião essas medidas são boas e que devem ser continuadas pelo período de tempo que as autoridades sanitárias entenderem ser necessário.
Leão Lopes que vive e leciona em São Vicente, ficou retido em São Nicolau, mais precisamente na localidade de Preguiça, onde coordena o projecto de requalificação daquela zona piscatória. O dia do regresso coincidiu justamente com o decreto presidencial que declarou o estado de emergência. A equipa ainda ali está sem saber ao certo quando poderão regressar.
O confinamento obrigatório tem sido uma boa oportunidade para o académico fazer uma espécie de catarse e uma série de reflexões.
Em relação às medidas de isolamento social o reitor do Instituto Universitário de Arte, Tecnologia e Cultura (M_EIA) afirma que do seu ponto de vista alguns aspectos não foram acautelados. “Reflectem algumas fragilidades que nós temos de trabalhar com uma natureza arquipelágica. Nós somos ilhas, somos um país insular com uma realidade nacional diversa e que nos momentos de crise acaba de acentuar a necessidade de reflectirmos o país como um território sui generis que corresponde a uma vida social, a uma vida económica, a uma vida cultural específica de ilha para ilha”.
“Isso é o que tenho reflectido desde o início desse problema. Parece que as medidas que têm sido tomadas, para quem está fora do centro das decisões e que tem que acatar as decisões da centralidade da governação e da gestão deste país, tem um olhar naturalmente diferente, a partir da periferia. O impacto das medidas são naturalmente diferenciadas”, considera.
O Leão Lopes reconhece a bondade das medidas tomadas no âmbito do estado de emergência, mas manifestou ao Expresso das Ilhas a sua preocupação em relação à forma como algumas são implementadas.
“Fico espantado quando vejo na televisão imagens da participação militar nas ruas da Cidade da Praia, armada daquela maneira. A polícia a prender pessoas… tenho dificuldade, a esta distância, em entender isso. Isso de certeza que resulta noutros aspectos da nossa forma de lidar com esse problema que tem que ser visto. Quer dizer, somos gente. Para além da racionalidade das medidas e daquilo que se tem que fazer, somos indivíduos, somos gente. Cada um de nós tem a sua forma de reagir às circunstâncias que tem que ser acautelada”, aponta.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 959 de 15 de Abril de 2020.