Patrícia Rocha, bióloga marinha, representante da ONG, Biosfera 1: “Queremos hastear em 2022 a primeira Bandeira Azul na Praia de Santa Maria”

PorExpresso das Ilhas,27 out 2019 8:49

A praia de Santa Maria, uma das sete maravilhas de Cabo Verde, pela sua beleza natural e potencial turístico, foi a escolhida como projecto-piloto para receber a primeira Bandeira Azul do arquipélago, uma distinção reconhecida a nível mundial, como um selo de qualidade das praias balneares. O Expresso das Ilhas conversou em exclusivo com Patrícia Rocha, bióloga da ONG Biosfera 1, membro oficial da Fundação para a Educação Ambiental, responsável pela implementação da Bandeira Azul.

Patrícia Rocha esteve recentemente em Inglaterra para representar Cabo Verde na Reunião de Operadores Nacionais de todos os países membro da Fundação para a Educação Ambiental, do inglês FEE, para a implementação do projeto Bandeira Azul. 

Presentes nessa reunião, estiverem representantes de países com larga experiência em sustentabilidade ambiental e qualidade das águas balneares e, que já alcançaram a atribuição de Bandeiras Azuis nas suas praias. São os casos de Portugal, Espanha, Finlândia, Brasil, Porto Rico e Holanda. 

“O encontro que teve lugar em Blackpool, na Inglaterra, teve como objectivo dar a conhecer o trabalho que cada organização membro desenvolveu, os países que conseguiram hastear a bandeira durante a época balnear, os seus constrangimentos, as lições aprendidas e os exemplos de boas-práticas que funcionaram noutros países e que podem servir de exemplo”. 

Cabo Verde e Chile são os novos países que se encontram na fase piloto de implementação do programa. 

Para que a praia de Santa Maria seja merecedora de hastear uma bandeira azul é necessário que sejam cumpridos um total de 33 critérios, divididos em 6 categorias, como nos explica a bióloga Patrícia Rocha. 

O processo é moroso, mas as vantagens são inúmeras já que, em todo o continente africano, apenas a África do Sul conseguiu, até agora, hastear uma Bandeira Azul.

O cumprimento do programa, no tempo limite de três anos, imposto pela organização, garantirá a Cabo Verde o reconhecimento como primeiro país em todo a África Ocidental, Central e do Norte a ostentar este símbolo de qualidade reconhecido internacionalmente. 

“Os turistas estão cada vez mais preocupados com a questão ambiental e, ter uma bandeira azul significa que a praia é ambientalmente sustentável, que a água balnear é testada periodicamente e os resultados expostos aos banhistas, que o seu acesso é público e sem censura para todos os utentes e, que as autoridades garantem a protecção de cordões dunares”, afirma. 

Esta meta que terá de ser cumprida em um período máximo de três anos exige o envolvimento de todos, das autoridades governamentais, locais e da população, em especial da ilha do Sal e da cidade de Santa Maria, enquanto fiscal que deverá zelar pelo respeito e cumprimento de todos os critérios. 

A Biosfera 1 – Associação para a Defesa do Meio Ambiente é, desde Dezembro de 2017, membro oficial e operador nacional dos programas da FEE em Cabo Verde. Neste sentido, a ONG tem trabalhado para garantir que o programa Bandeira Azul seja concluído num prazo máximo de 3 anos, como é requerido pela FEE.

A Biosfera 1 conta com o importante apoio e suporte do Governo de Cabo Verde, através da Direção Nacional do Ambiente e do Fundo do Turismo, como financiadores e, também da Câmara Municipal da ilha do Sal, como promotora. “Com o esforço e envolvimento de todos, esperamos hastear em 2022 a primeira Bandeira Azul na praia de Santa Maria”, afirma a bióloga. 

Para avaliar o andamento do projeto de atribuição da primeira bandeira azul em Cabo Verde encontram-se no nosso país dois consultores internacionais que deverão reunir com todos os membros da equipa nacional, até finais deste mês de Outubro.

A equipa nacional espelha-se no exemplo da Colômbia que, apesar de ter iniciado o processo juntamente com o Chile, com o forte envolvimento do seu Governo, que colocou a Bandeira Azul, BA, como uma meta prioritária, este Verão poderá hastear não uma, mas cinco bandeiras azuis nas suas praias balneares.

A Biosfera 1 tem trabalhado de muito perto com o Governo e com a autarquia salense para que o cumprimento dos critérios de atribuição da BA à praia de Santa Maria, seja também uma prioridade em 2020.

A avaliação de Cabo Verde tem sido bastante positiva junto do júri internacional, garante Patrícia Rocha. “Acabamos de conseguir ser avaliados positivamente para o estudo de análise de falhas, o que significa que estamos oficialmente no projecto piloto Bandeira Azul da FEE. Neste momento estamos à procura de financiamento para 2020 para que possamos continuar o processo”.

O próximo passo é conseguir a aprovação do plano de negócios do projecto piloto, que neste momento está em fase de preparação.

A bióloga espera que, até 2022, todos os 33 critérios estejam cumpridos pois, “será um ganho não apenas para a ONG, enquanto defensora da redução do lixo e da poluição nos nossos mares, que têm devastado a população marinha, mas também para o município do Sal e, para a elevação do turismo e da economia nacionais”.

Bandeira Azul 

A Bandeira Azul (BA) é uma distinção atribuída anualmente pela Fundação para a Educação Ambiental (do inglês FEE) a praias (marítimas e fluviais) e marinas que cumpram um conjunto de requisitos de qualidade ambiental, segurança, bem-estar, infra-estruturas de apoio, informação aos utentes e sensibilização ambiental. As praias e marinas distinguidas ficam autorizadas a ostentar a bandeira oferecida pela FEE durante a época balnear. 

Este programa, anteriormente designado por Campanha Bandeira Azul, teve início em França, em 1985, e é desenvolvido na Europa desde 1987. Em 2001, tornou-se global e foi alargado aos restantes continentes e em 2017 foram hasteadas Bandeiras Azuis em 45 países. A longa existência do Programa demonstra que é considerado e reconhecido por operadores turísticos, decisores e público em geral a nível internacional e pode, portanto, ser considerada um símbolo de garantia de qualidade de uma praia ou marina. 

Cabo Verde, enquanto destino turístico em franco crescimento tem apostado no reconhecimento a nível nacional e internacional das suas praias incorporando os critérios de sustentabilidade e garantindo um selo de qualidade aos serviços e produtos oferecidos aos visitantes. 

Deste modo, e com o apoio de parceiros internacionais, tem envidado esforços para implementar todos os critérios para a obtenção do certificado Bandeira Azul às praias nacionais.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 934 de 23 de Outubro de 2019. 

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Autoria:Expresso das Ilhas,27 out 2019 8:49

Editado porAndre Amaral  em  14 jul 2020 23:21

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