Apesar de a maioria (71%) dos inquiridos no estudo considerarem que a violência conjugal "nunca é justificável", 28% sustentam que bater na mulher é "sempre" ou pelo menos "algumas vezes" justificado, incluindo 24% de mulheres e 31% de homens, adianta o estudo.
As conclusões do estudo integram uma abordagem mais alargada sobre igualdade de género, que a rede Afrobarómetro deverá divulgar em breve, e baseiam-se em sondagens realizadas em 34 países, incluindo Cabo Verde, Moçambique e São Tomé e Príncipe.
Os três países lusófonos situam-se todos abaixo da média dos 28% de africanos que consideram a violência conjugal justificada, com Cabo Verde a registar a melhor percentagem com apenas 3% de inquiridos a encontrarem alguma justificação para a violência sobre mulheres. Em São Tomé e Príncipe esta percentagem é de 15% e em Moçambique 21%.
A aceitação da violência sobre mulheres é particularmente generalizada na África Central e Ocidental e entre os inquiridos que não frequentaram sistemas de educação formais (41%).
No Gabão (70%) e na Libéria (69%), cerca de sete em cada 10 inquiridos admitem como tolerável agredir a mulher, enquanto a violência sobre o sexo feminino é uma prática largamente aceite no Níger (60%), Mali (58%), Guiné Conacri (58%), Camarões (53%) e Burkina Faso (53%).
No outro extremo da tabela estão, além de Cabo Verde, Madagáscar, Essuatíni e Maláui, onde apenas um em cada 20 participantes no inquérito considerou esse tipo de prática justificada.
Na maioria dos países, as mulheres mostram-se menos propensas a considerar as agressões como justificáveis, mas na Libéria e no Níger, homens e mulheres divergem pouco nos elevados níveis de aceitação da violência conjugal.
Os jovens adultos (29% dos jovens com idade entre 18-35) surgem ligeiramente mais propensos a aceitar a violência contra mulheres do que os mais velhos (25%-27%).
O Afrobarómetro lidera uma rede de investigação pan-africana e apartidária que realiza inquéritos públicos sobre a democracia, governação e condições económicas em África.
Após seis rondas de inquéritos em 38 países, entre 1999 e 2015, os inquéritos da Ronda 7, que têm vindo a ser divulgados ao longo deste ano, incluíram 45.823 entrevistas em 34 países, entre Setembro de 2016 e Setembro de 2018.
O módulo especial sobre igualdade de género foi realizado em parceria com a Fundação Bill & Melinda Gates e abordou igualmente o apoio popular à igualdade de género, o desempenho dos governos em matéria de direitos das mulheres e as disparidades persistentes entre homens e mulheres no ensino, no emprego, no controlo dos principais activos e no acesso à tecnologia.