"A Fitch estima que o rácio da dívida pública face ao PIB seja mais elevada no final deste ano em Cabo Verde, com 157% do PIB, seguida da República do Congo, com 115%, Moçambique, com 113%, Zâmbia com 110% e Angola com 108%", lê-se num relatório sobre as economias da África subsaariana.
No documento, enviado aos investidores e a que a Lusa teve acesso, os analistas da Fitch Ratings, detida pelos mesmos donos da consultora Fitch Solutions, dizem que a subida deste rácio desde 2012 foi mais elevado na Zâmbia, onde subiu 86 pontos percentuais, seguido da Angola (82 pontos) e Moçambique, com 73 pontos percentuais.
"O peso da dívida para os governos da África subsaariana está a subir a um ritmo mais rápido e para níveis mais elevados que outros mercados emergentes, evidenciando o risco de mais descidas no 'rating' e incumprimentos financeiros ['defaults', no original em inglês]", lê-se na análise.
Os efeitos da propagação da pandemia de COVID-19 e o choque petrolífero "estão a ter um impacto severo na região", escreve a Fitch, apontando que "o PIB real deve cair 2,1%, em média, este ano, e os défices orçamentais deverão alargar-se de 4,9%, no ano passado, para 7,4% este ano".
A degradação das condições económicas destes países, entre os quais se contam os lusófonos Angola, Cabo Verde e Moçambique, não começou com a pandemia, diz a Fitch Ratings, notando que o agravamento das condições macroeconómicas está em curso há uma década e vai ser difícil de reverter.
Desde o início de Março, a Fitch desceu o 'rating' de sete dos 19 países a que atribui uma opinião sobre a qualidade do crédito soberano, "refletindo quer a severidade do impacto do novo coronavírus, quer a limitada margem de resiliência dos países depois da rápida subida da dívida, e devido a outras vulnerabilidades de crédito".
A tendência, concluem, deverá manter-se: "O aumento do peso da dívida, o impacto do novo coronavírus e o choque petrolífero apontam para mais pressão descendente nos 'ratings' dos países da África subsaariana".