"A África subsaariana foi devastada pela pandemia da COVID-19, e a actividade económica colapsou na primeira metade do ano, a pandemia teve efeitos gravíssimos em termos humanos e económicos, a mais profunda perturbação na actividade económica de toda a região alguma vez conhecida", lê-se no relatório hoje divulgado em Washington sobre a economia mundial.
Nas Perspectivas Económicas Mundiais, o banco multilateral escreve que esta região "sofreu consequentemente em resultado do impacto da pandemia nos seus principais parceiros comerciais, da interrupção das viagens mundiais e das cadeias de abastecimento e da queda dos preços globais das matérias-primas, em particular do petróleo e metais industriais", o que originou um "aumento da aversão ao risco entre os investidores e estimulou saídas de capital sem precedentes".
No documento, os técnicos do Banco Mundial exemplificam que "vários exportadores de matérias-primas industriais, tais como Angola, República Democrática do Congo e Gana tiveram de lidar com uma procura externa mais fraca e preços mais baixos do petróleo e metais, para além das conturbações internas", ao passo que "a redução das viagens mundiais, em resultado da pandemia, atingiu profundamente países com uma exposição considerável às viagens e turismo, como Cabo Verde, Etiópia, Ilhas Maurícias e Seychelles".
O Banco Mundial prevê uma recessão económica de 2,8% este ano, mas estima "que o PIB per capita caia ainda mais abruptamente, lançando provavelmente de novo milhões em extrema pobreza".
A instituição antevê uma retoma do crescimento, de 3,1% em 2021, "assumindo que a pandemia se dissipa na segunda metade do ano, que os surtos domésticos do vírus seguem um percurso semelhante e que o crescimento dos principais parceiros comerciais recupera".
Na parte do relatório referente à África subsaariana, os técnicos do Banco Mundial salientam que "os efeitos da pandemia deverão aumentar acentuadamente a vulnerabilidade da região ao sobre-endividamento e estas pressões serão agravadas pelo endividamento crescente necessário para financiar défices maiores".
Além disto, o Banco alerta também para uma possível crise de segurança alimentar, agitação social e desemprego: "Existem também preocupações crescentes de que a pandemia possa causar uma crise de segurança alimentar na região à medida que as fronteiras encerram e as restrições comerciais interrompem o comércio de produtos alimentares e agrícolas”.
“Os grandes números de pessoas deslocadas da região podem complicar os esforços destinados a impedir a propagação da COVID-19 e, adicionalmente, existe o risco de agitação social quando os governos dão prioridade a medidas que visam vencer o vírus em prejuízo dos esforços de manutenção da paz", acrescenta.
O desemprego, quebra de rendimentos e potenciais faltas de bens essenciais "podem levar à instabilidade e pesar negativamente sobre a atividade bastante depois de a epidemia se ter dissipado", concluem os técnicos.
A pandemia de COVID-19 já provocou mais de 403 mil mortos e infectou mais de sete milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo o balanço feito pela agência.