“A implementação do acordo sobre Área de Livre Comércio Continental Africana (ALCCA), por si só, é improvável que seja um condutor de ajustamentos na notação financeira dos países”, lê-se num comentário sobre a aplicação do acordo desde 01 de Janeiro.
“Pode ser positivo, do ponto de vista da análise do crédito, a longo prazo se a liberalização do comércio levar a um melhoramento do ambiente de negócios de forma geral e a um crescimento económico mais forte em África”, disse a Fitch Ratings no comentário enviado aos clientes, e a que a Lusa teve acesso.
Mais importante do que o acordo, acrescentam os analistas, é a estabilidade macroeconómica e a evolução do impacto e das respostas políticas às dificuldades originadas pela pandemia de covid-19.
“Outros factores, como o impacto e as respostas de política à pandemia de covid-19 e a estabilidade macroeconómica, de forma geral, vão exercer uma influência mais forte na avaliação da qualidade do crédito soberano”, salientam os analistas, notando, ainda assim, que “o acordo tem um potencial de longo prazo para ter um efeito positivo nas políticas económicas e de apoio ao crescimento económico, influenciando assim, indirectamente, a qualidade do crédito”.
O nível de comércio no continente africano é “baixo”, referiu a Fitch, apontando que “entre os países cujo ‘rating’ é analisado, a percentagem média de exportações para outros Estados africanos em 2019 estava abaixo de 19%, o que é mais baixo do que na Ásia, uma região maior, e está em linha com o comércio nas economias em desenvolvimento na América Latina e entre as economias em transição na Europa”.
Para a Fitch, esta percentagem de 19% do total das trocas comerciais “reflecte a especialização económica em matérias-primas e a pequena percentagem de África no PIB global”, ainda que os números não incluam o comércio informal, que “é importante em muitos países”.
O acordo enfrenta também o risco de os governos “não quererem aceitar limitações à sua capacidade de aprovar políticas, principalmente se a liberalização comercial obrigar a decisões impopulares ou interferir com subsídios nacionais”.
A Fitch Ratings salientou ainda que “o comércio regional vai continuar a enfrentar obstáculos como a fraca infra-estrutura em termos de estradas e de congestão dos portos, e as dificuldades energéticas e limitações de acesso a financiamento”.
O acordo de livre comércio em África cria um mercado único de 1,3 mil milhões de pessoas com um Produto Interno Bruto (PIB) de 3,4 biliões de dólares, o equivalente a cerca de 2,7 biliões de euros, e abrange a grande maioria dos países africanos.