Eliane Pinto, natural da Praia, foi de férias para Amsterdão, Holanda. Depois do surto do coronavírus resolveu comprar um novo bilhete e regressar para Cabo Verde para estar junto da família neste “momento difícil”.
Conforme conta ao Expresso das Ilhas o seu voo era Amsterdão/Lisboa/Praia no dia 18 de Março.
Ao chegar a Lisboa, Eliane Pinto recebeu o aviso de que o voo Lisboa/Praia havia sido cancelado porque o governo de Cabo Verde interditara as ligações aéreas com todos os países europeus assinalados com a pandemia Covid-19.
“Agora estou presa em Lisboa a espera que o governo me mande buscar, ou disponibilize um voo para os nacionais que querem regressar para Cabo Verde”, testemunha.
Esta entrevistada diz que está a passar por uma “situação complicada”, por se sentir “presa” em Portugal, um país onde, diz, não conhecer ninguém e não ter nenhum familiar. Mas revela que, ao entrar em contacto com a embaixada de Cabo Verde e depois de expor a sua situação, pagaram-lhe a estadia numa pensão.
“Eu, enquanto nacional, não posso regressar para a minha terra. Somos muitos na mesma situação, mas quero ir para a minha terra. Quero saber até quando isto vai continuar”, sublinha, acrescentando que, apesar de manter contacto, a embaixada “não tem certeza de nada ainda”.
Também em terras lusas, Élder Paiva descreve que foi para Portugal com a família passar 29 dias. Ficou a saber, entretanto, através das redes sociais, que os voos provenientes de Portugal não poderiam entrar no país.
“Logo, entramos em contacto com a embaixada que disse não ter nenhuma informação oficial. Dirigimo-nos para o aeroporto onde nos foi cobrado uma taxa exorbitante para um voo. E ainda disseram que não sabiam de nada sobre o fecho da fronteira. Num espaço de 12 horas a fronteira foi fechada e todos os passageiros ficaram aqui”, queixa-se.
Ontem, segundo faz saber Élder Paiva, conseguiu contactar a embaixada que, afirmou, o assegurou que não há como entrar em Cabo Verde e que teriam de esperar por uma decisão do governo para fazer a repatriação das pessoas.
Para este entrevistado, o pior é saber que têm data para regressar ao trabalho e, por isso, correm o risco de perder os empregos por não comparência.
“Ainda não comunicamos à empresa porque as férias são válidas até o final do mês, mas daqui a 5 dias, se isso não se resolver, vamos ter de comunicar”, afirma.
Na mesma situação encontra-se Zenaida Fernandes que foi passar 14 dias nos Estados Unidos da América (EUA) e agora não pode regressar.
“Eu tenho de voltar para o trabalho. Nesse momento a minha preocupação é saber se o governo vai, ou não, nos repatriar e depois, no caso de uma pessoa passar o tempo e tiver de faltar ao trabalho, como é que vai ficar”, questiona.
Na lista das preocupações , Zenaida Fernandes acrescenta ainda o facto de, enquanto chefe de família, não poder pagar as dívidas à distância.
“Deixei o meu cartão para fazer a renovação e pedi ao banco que desse ao meu filho ao menos o código de segurança para que pudesse fazer os pagamentos online. No entanto, disseram que eu tinha de fazer uma procuração e enviar no correio azul. Agora eu pergunto, correio azul vai como? Se não há avião…está mesmo complicado", lamenta.
Zenaida Fernandes frisa ainda que ela e o marido deixaram os filhos, a neta e o enteado de 7 anos em Cabo Verde.
No dia 17 de Março o governo anunciou um conjunto de medidas de contingência, dentre as quais a restrição de voos de países com registo de casos de coronavírus.
Actualização: Entretanto, pouco após a publicação desta reportagem, o Primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, garantiu hoje, na sua página oficial do Facebook, o que os cabo-verdianos retidos no exterior serão repatriados, sendo que deverão ficar em quarentena.
“Estamos a viver em todo o mundo momentos difíceis, que tocam as nossas vidas. Temos cabo-verdianos retidos nos aeroportos de Recife, Fortaleza, Boston e Lisboa à espera de regressarem a Cabo Verde, à semelhança do que acontece com milhares de cidadãos de outras nacionalidades que nos vários aeroportos do mundo esperam regressar aos seus países”, lê-se.
Por isso, informou o governante, o governo está a envidar esforços para voos de repatriamento através da Cabo Verde Airlines, o que deverá acontecer brevemente.
Na nota, Ulisses Correia e Silva refere ainda que os voos de repatriamento de cidadãos estrangeiros, na sua grande maioria turistas, têm estado a ser assegurados e realizados na sua grande parte pelas companhias aéreas que transportam turistas para Cabo Verde.