Cabo-verdianos querem regressar ao país (actualizada)

PorSheilla Ribeiro,20 mar 2020 17:33

Cabo-verdianos que foram de férias para o estrangeiro mostram-se preocupados com a possibilidade de perderem o emprego. Por isso querem voltar para casa o quanto antes. Governo garantiu hoje, que serão repatriados, mas deverão ficar em quarentena.

Eliane Pinto, natural da Praia, foi de férias para Amsterdão, Holanda. Depois do surto do coronavírus resolveu comprar um novo bilhete e regressar para Cabo Verde para estar junto da família neste “momento difícil”.

Conforme conta ao Expresso das Ilhas o seu voo era Amsterdão/Lisboa/Praia no dia 18 de Março.

Ao chegar a Lisboa, Eliane Pinto recebeu o aviso de que o voo Lisboa/Praia havia sido cancelado porque o governo de Cabo Verde interditara as ligações aéreas com todos os países europeus assinalados com a pandemia Covid-19.

“Agora estou presa em Lisboa a espera que o governo me mande buscar, ou disponibilize um voo para os nacionais que querem regressar para Cabo Verde”, testemunha.

Esta entrevistada diz que está a passar por uma “situação complicada”, por se sentir “presa” em Portugal, um país onde, diz, não conhecer ninguém e não ter nenhum familiar. Mas revela que, ao entrar em contacto com a embaixada de Cabo Verde e depois de expor a sua situação, pagaram-lhe a estadia numa pensão.

“Eu, enquanto nacional, não posso regressar para a minha terra. Somos muitos na mesma situação, mas quero ir para a minha terra. Quero saber até quando isto vai continuar”, sublinha, acrescentando que, apesar de manter contacto, a embaixada “não tem certeza de nada ainda”.

Também em terras lusas, Élder Paiva descreve que foi para Portugal com a família passar 29 dias. Ficou a saber, entretanto, através das redes sociais, que os voos provenientes de Portugal não poderiam entrar no país.

“Logo, entramos em contacto com a embaixada que disse não ter nenhuma informação oficial. Dirigimo-nos para o aeroporto onde nos foi cobrado uma taxa exorbitante para um voo. E ainda disseram que não sabiam de nada sobre o fecho da fronteira. Num espaço de 12 horas a fronteira foi fechada e todos os passageiros ficaram aqui”, queixa-se.

Ontem, segundo faz saber Élder Paiva, conseguiu contactar a embaixada que, afirmou, o assegurou que não há como entrar em Cabo Verde e que teriam de esperar por uma decisão do governo para fazer a repatriação das pessoas.

Para este entrevistado, o pior é saber que têm data para regressar ao trabalho e, por isso, correm o risco de perder os empregos por não comparência.

“Ainda não comunicamos à empresa porque as férias são válidas até o final do mês, mas daqui a 5 dias, se isso não se resolver, vamos ter de comunicar”, afirma.

Na mesma situação encontra-se Zenaida Fernandes que foi passar 14 dias nos Estados Unidos da América (EUA) e agora não pode regressar.

“Eu tenho de voltar para o trabalho. Nesse momento a minha preocupação é saber se o governo vai, ou não, nos repatriar e depois, no caso de uma pessoa passar o tempo e tiver de faltar ao trabalho, como é que vai ficar”, questiona.

Na lista das preocupações , Zenaida Fernandes acrescenta ainda o facto de, enquanto chefe de família, não poder pagar as dívidas à distância.

“Deixei o meu cartão para fazer a renovação e pedi ao banco que desse ao meu filho ao menos o código de segurança para que pudesse fazer os pagamentos online. No entanto, disseram que eu tinha de fazer uma procuração e enviar no correio azul. Agora eu pergunto, correio azul vai como? Se não há avião…está mesmo complicado", lamenta.

Zenaida Fernandes frisa ainda que ela e o marido deixaram os filhos, a neta e o enteado de 7 anos em Cabo Verde.

No dia 17 de Março o governo anunciou um conjunto de medidas de contingência, dentre as quais a restrição de voos de países com registo de casos de coronavírus.

Actualização: Entretanto, pouco após a publicação desta reportagem, o Primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, garantiu hoje, na sua página oficial do Facebook, o  que os cabo-verdianos retidos no exterior serão repatriados, sendo que deverão ficar em quarentena.

“Estamos a viver em todo o mundo momentos difíceis, que tocam as nossas vidas. Temos cabo-verdianos retidos nos aeroportos de Recife, Fortaleza, Boston e Lisboa à espera de regressarem a Cabo Verde, à semelhança do que acontece com milhares de cidadãos de outras nacionalidades que nos vários aeroportos do mundo esperam regressar aos seus países”, lê-se.

Por isso, informou o governante, o governo está a envidar esforços para voos de repatriamento através da Cabo Verde Airlines, o que deverá acontecer brevemente.

Na nota, Ulisses Correia e Silva refere ainda que os voos de repatriamento de cidadãos estrangeiros, na sua grande maioria turistas, têm estado a ser assegurados e realizados na sua grande parte pelas companhias aéreas que transportam turistas para Cabo Verde.

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Autoria:Sheilla Ribeiro,20 mar 2020 17:33

Editado porSara Almeida  em  20 dez 2020 23:20

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