Para se chegar a esta amostra definiu-se como parâmetros um intervalo de confiança de 95% e uma margem de erro de 5%.
A recolha foi realizada através da plataforma Survey To Go e foi feito no tablet, via telefone com uma equipa de 20 inquiridores formados para o efeito. Teve a duração de 2 dias e decorreu entre os dias 10 e 11 de Maio. A taxa de resposta foi de 94%.
Os dados do inquérito da Afrosondagem revelam que em média, 91% dos cabo-verdianos concordam com as medidas implementadas pelo Governo durante este período. Desde a declaração do Estado de Emergência, passando pelo fecho das fronteiras marítimas e aéreas, pelas medidas de isolamento de pessoas com COVID-19, pela quarentena para pessoas que tiveram contacto com infectados pelo COVID-19, pela obrigatoriedade de manter o distanciamento social e pela obrigatoriedade do uso de máscara em recintos públicos fechados.
Todas as autoridades envolvidas na prevenção e combate à COVID-19 foram avaliadas positivamente pelos cabo-verdianos. A começar pelo Presidente da República que mereceu a avaliação boa/muito boa de 69% dos respondentes, um ponto percentual a mais comparativamente à classificação conseguida pelo Governo que se situa nos 68%. A performance da Assembleia Nacional neste quesito é menos conseguida do que o das outras entidades da República, mas mesmo assim é satisfatória com 56% do universo dos respondentes a considerar boa/muito boa a prestação do Parlamento na prevenção da COVID-19.
A Protecção Civil e os Bombeiros são as duas entidades mais bem avaliadas pelos cabo-verdianos pelo trabalho realizado na prevenção e combate à COVID-19, com cerca de 78% e 76%, respectivamente de classificação boa/muito boa, seguidas na terceira posição pela Polícia Nacional com 73% de apreciação favorável. Entre as outras entidades na linha de frente no combate à COVID-19 surge o Ministério da Saúde que também colhe uma apreciação globalmente favorável (73%) e se coloca ao lado da Polícia Nacional no ranking das entidades avaliadas e, os hospitais surgem a seguir com 70% de avaliação boa/muito boa. Os Centros de Saúde também mereceram uma avaliação globalmente positiva com 68% dos inquiridos a considerar como boa/muito boa a prestação destes centros.
Os resultados da avaliação do impacto das medidas adoptadas para prevenir e mitigar os efeitos sociais e económicos da COVID-19 sobre as famílias Cabo-verdianas, mostra um cenário de apreciação diferenciada em função da medida em análise. De facto, a maioria das medidas são bem avaliadas, como a distribuição das cestas básicas que mereceu 58% de avaliação boa/muito boa, seguida pelo pagamento de um apoio monetário às pessoas mais vulneráveis, bem como o subsídio desemprego, ambos colhendo 54% de apreciação boa/muito boa. Quanto ao lay off, os resultados positivos aparecem numa proporção mais baixa (42%) e isso deve-se em boa medida à proporção considerável (32%) de inquiridos que não responderem a esta questão por não estarem em condições de o fazer.
As populações valoram altamente as medidas de prevenção adoptadas pelo Governo com destaque pela declaração do Estado de Emergência. Esta última colhe a aprovação de mais de 95% do universo dos respondentes;
Nesta mesma linha e, em relação à medida do isolamento social, os resultados também apontam para um nível de aprovação relativamente alto. Mais de 96% dos inquiridos admitem concordar/concordar muito com a adopção desta medida;
Na mesma senda, também a medida de quarentena para as pessoas que tiveram contacto com infectados, colhe uma aprovação muito expressiva, situando-se acima dos 97% a proporção das populações que admitem concordar/concordar muito;
O mesmo se verifica em relação às demais medidas elencadas, tais sejam, o fecho de fronteiras marítimas e aeroportuárias (95,2%), a obrigatoriedade de manter o distanciamento social (98,2%) e a obrigatoriedade de uso de máscaras em todos os serviços públicos e transportes (96,5%);
Em relação a medida de passagem administrativa dos estudantes com base nas avaliações dos dois primeiros trimestres as opiniões dividem-se, embora a maioria, concorda/concorda plenamente (70,2%). Essa concordância colhe sua maior expressão junto aos residentes na ilha de Santiago;
O mesmo se pode dizer em relação a medida de implementação de aulas do ensino básico e secundário através da radio, televisão e internet, que colhe a aprovação da maioria das populações (76%) que assume que, concorda/concorda plenamente;
As populações no seu cômputo geral, avaliam positivamente a prestação dos diferentes intervenientes na procura e adopção de medidas ajustadas para a prevenção e combate a pandemia e seus principais determinantes. Os resultados do inquérito corroboram essa afirmação. Senão vejamos: Tanto a Presidência da República (69%), o Parlamento (55,9%) e o governo (67,9%) merecem uma avaliação favorável da maioria dos respondentes, valorando de bom/muito bom a prestação destes três órgãos do poder.
Quanto às entidades de operacionalização das medidas de prevenção a tendência é a mesma, ou seja, merecem uma apreciação positiva da sua prestação na prevenção e combate à COVID-19. Tanto o Ministério da Saúde (72,9%), como a Corporação da Polícia Nacional (72,8%) e os serviços da Protecção Civil (78,4%) conhecem uma avaliação de classificação bom/muito bom sufragada pela maioria dos inquiridos. Porém, uma proporção relativamente significativa que ronda os 20% entende como razoável a prestação destas entidades na prevenção da pandemia. Essa proporção é ligeiramente mais acentuada em relação aos serviços do Ministério da Saúde (22,3%);
A prestação dos hospitais e centros de saúde também não diferem das demais instituições conhecendo uma apreciação positiva da parte da maioria das populações. Cerca de 70% dos inquiridos classificam como bom/bom a prestação dos hospitais e dos Centros de Saúde na prevenção e combate a pandemia. A classificação razoável colhe também uma proporção relevante, situando-se nos 19% aproximadamente para ambas as entidades;
No quadro da avaliação e valoração das medias implementadas e seus impactos sentidos nas populações, os resultados apontam para uma apreciação bem mais moderada se revista no quadro das apreciações que antecedem, muito embora, no cômputo geral, os impactos são percebidos e explicitados como sendo globalmente positivos com ligeiras diferenciações na valoração e classificação entre as populações residentes nos diferentes domínios alvos do inquérito.
Assim, ressalta dos dados, o fato da maioria dos respondentes reputarem de bom/muito bom as medidas de impacto sociais implementadas pelo Governo, nomeadamente, a distribuição das cestas básicas (57,7%), o apoio monetário às famílias carenciadas (54,2%) o lay off (41,7%) e o subsídio de emprego 4,3%.
Em contrapartida, porém, observa-se que as avaliações negativas destacam-se em certa medida nesta apreciação em particular: Se, cerca de 10% dos respondentes entende como razoável o impacto de cada uma das medidas enunciadas, já uma proporção maior entende-as como sendo más ou péssimas: essa avaliação negativa colhe sua maior proporção para aos impactos gerados com a distribuição das cestas básicas (23,8%), seguido dos efeitos do apoio monetário às famílias mais vulneráveis 821,4%), da medida de lay off (16,7%) e da medida de atribuição do subsidio de desemprego (15,6%);
Medidas adoptadas para prevenir a infecção pelo CORONAVIRUS (COVID-19)
São várias as medidas que os cabo-verdianos vêm adoptando para prevenir a infecção pela Covid-19. Segundo os resultados do inquérito realizados pela Afrosondagem, destacam-se entre outras - lavar as mãos regularmente com água e sabão, ou usando desinfectante à base de álcool com 94% de citações, seguida por sair de casa somente em casos indispensáveis (85%) e usar a máscara regularmente com 64% de respostas. Para além destas, outras medidas estão sendo adoptadas em menor proporção, tais como, evitar espaços fechados com concentração de pessoas, mencionada por 44% dos inquiridos, evitar tocar em superfícies comuns com as mãos (corrimão, maçaneta, botão do elevador, etc.) com 30% de menções.
Ao rever esses dados num quadro por ilhas, constata-se que a prática de lavar as mãos regularmente com água e sabão, ou usando desinfectante à base de álcool, está sendo seguido por cerca de 98% dos residentes nos concelhos do Interior de Santiago, contra 96% na Praia, 94% na Boa Vista, 92% no Sal e 84% em S. Vicente.
Cerca de 91% dos praienses afirmam sair de casa somente em casos indispensáveis, seguidos por 86% dos inquiridos residentes nos concelhos do Interior de Santiago, 76% na Boa Vista, 75% em S. Vicente e 70% no Sal.
No entanto, a preocupação de evitar espaços fechados com aglomeração de pessoas revela-se mais acentuada na ilha do Sal com 72% de respostas neste sentido, seguida pelos residentes de S. Vicente e da Boa Vista com 63% e 60% de resposta, respectivamente. Na ilha de Santiago, o cenário afigura-se diferente com somente 1/3 dos inquiridos (36% nos concelhos do Interior de Santiago e 34% na Praia) que asseguram estar a evitar frequentar espaços com aglomeração de pessoas.
Lavar as mãos com água e sabão ou usar desinfectante com base em álcool neste momento faz parte dos hábitos de quase todos os cidadãos cabo-verdianos independentemente do seu sexo, grupo etário, nível de instrução ou condição económica.
Contrariamente, o uso da máscara está associado a uma série de variáveis. O seu uso é maior entre os indivíduos na faixa etária entre os 25 a 64 anos, com níveis de instrução mais elevados e com maiores níveis de rendimento do agregado familiar (78% entre aqueles cujo rendimento médio mensal do agregado familiar situa-se entre 100.000$00 a 200.000$00, contra 29% entre aqueles cujo rendimento mensal do agregado familiar é igual ou inferior a 5.000$00).
Preocupação com o risco de vir a ficar infectado com a COVID-19
Aproximadamente 9 em cada 10 (88,3%) cabo-verdianos declaram estar preocupados/muito preocupados com o risco de virem a contrair a COVID-19, particularmente na Praia e nos concelhos do Interior de Santiago com 93% ex-áqueo, seguidos pelos residentes nas ilhas da Boa Vista (81%), do Sal (80%) e de S. Vicente (78%).
Os jovens com a idade compreendida entre os 18 a 24 anos são aqueles que em menor proporção se mostraram preocupados em contrair o vírus da COVID 19 (82%), comparativamente aos indivíduos das demais faixas etárias (acima dos 85%, alcançando os 93% entre os indivíduos na faixa etária entre 45 a 54 anos).
A preocupação em contrair o vírus da COVID-19 é transversal aos indivíduos de todos os níveis de instrução e manifesta-se com maior incidência entre os indivíduos com rendimento familiar médio mensal abaixo dos 5.000$00 (100%, contra 92% entre aqueles com rendimento familiar médio mensal acima dos 50.000$00).
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 965 de 27 de Maio de 2020.