Trabalhadores turísticos apreensivos

PorNuno Andrade Ferreira,4 jul 2020 10:52

Em layoff ou desempregados, os trabalhadores do turismo querem regressar ao activo mas não antecipam dias fáceis.

Em cenário de total incerteza e depois de meses de portas fechadas, a situação das empresas ligadas ao sector turístico é delicada ou mesmo de ruptura. São muitas as perguntas sem resposta. Os trabalhadores são os mais afectados e não sabem o que esperar do futuro.

Depois de terem avançado para o layoff, e com a situação de encerramento temporário a arrastar-se no tempo, serão já vários os empresários incapazes de assegurar os 35% de salário relativos à parte que lhes compete, conforme as regras definidas pelo governo. Cenário traçado pelo presidente da Associação de Turismo de Santiago, Eugénio Inocêncio.

“A situação é muito difícil, há muitas empresas em que a questão do layoff já não se põe, porque não têm condições para dar resposta aos 35%. Neste momento, o turismo foi reduzido a zero, não existe. A grande questão é sobre quando vai ser retomado”, esclarece.

Em regime de layoff simplificado, os trabalhadores recebem 70% do salário bruto, pago em partes iguais pela entidade patronal e pelo INPS. A possibilidade de adesão das empresas turísticas a este programa especial, que visa a manutenção dos postos de trabalho, foi alargada até Setembro.

A suspensão temporária do contrato de trabalho é um paliativo com prazo de validade. Sem receitas, os empregadores não podem assumir os seus compromissos por muito tempo.

Os hotéis fecharam portas em Março. Entre trabalhadores em layoff, desempregados ou com grande quebra de rendimentos, no caso de guias, motoristas e outros, serão milhares os afectados.

Débora Delgado é recepcionista num hotel em Santa Maria. Está em casa, supostamente de forma temporária, assim como todo o pessoal da sua unidade hoteleira. Não esconde a preocupação.

“A preocupação é a de todos os trabalhadores: será que vamos continuar empregados? Somos todos adultos, temos as nossas responsabilidades, temos esta preocupação, se vamos ou não continuar com o emprego, porque isto vai afectar-nos. É preocupante, tendo em conta o que vemos neste momento aqui no Sal, os novos casos continuam a aumentar. Ficamos preocupados em relação ao futuro e, sobretudo, se vamos manter os empregos ou não”, explica.

Noélia Silva, outra trabalhadora turística, também está em casa a receber 70% do seu salário. Fala de tristeza ao ver todos os hotéis do Sal fechados.

“Mesmo que com os 70%, ficar em casa sem fazer nada é complicado para a nossa cabeça. Ficas ainda mais triste porque muitos colegas ficaram no desemprego. A minha situação está razoável, mas temos muitos colegas que ficaram em situação crítica”, desabafa.

Em São Vicente, Carla Lopes trabalhava na restauração. Ficou no desemprego e não prevê melhorias.

“Quando começou esta coisa, ficámos em casa. Foi-nos dito que a pandemia poderia durar um mês e que regressaríamos no final desse tempo, mas agora foi distribuída uma carta colectiva, porque não irão abrir mais. Acho que a situação vai piorar”, antecipa.

Patrick Ramalho é auxiliar de piso num hotel e está com contrato suspenso. Antecipa uma retoma lenta e que nada será igual.

“Sabemos que a situação está difícil, tanto no país como lá fora. Está tudo parado. Vamos tentar conviver com o vírus, mas não vamos sair desta crise tão facilmente”, prevê.

Cerca de 25% do PIB nacional provém do turismo. Com o país fechado desde Março e o sector parado a nível mundial, a crise já é uma realidade.

Eugénio Inocêncio confirma que as moratórias e a prorrogação do layoff são uma ajuda, mas alerta que é preciso ir mais longe. Foi criada uma equipa com empresários de todas as ilhas, à procura de soluções estruturais. A capitalização ou o recurso a empréstimos obrigacionistas são propostas em cima da mesa.

“Há outra medida, que é o capital de risco, esta sim pode abranger praticamente o universo dessas empresas em situação difícil”, acrescenta.

Os números do Ministério das Finanças têm sugerido uma quebra de 60% na chegada de turistas ao país, face a 2019.

Cabo Verde adiou para Agosto a reabertura de fronteiras e a tutela antecipa uma retoma lenta.

Só o sector do alojamento e restauração empregava, em 2019, 19.252 trabalhadores, conforme as estatísticas do mercado de trabalho, elaboradas pelo Instituto Nacional de Estatística.

*com Fretson Rocha

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 970 de 1 de Julho de 2020. 

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Autoria:Nuno Andrade Ferreira,4 jul 2020 10:52

Editado porJorge Montezinho  em  18 abr 2021 23:21

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