Esta segunda-feira, referindo-se aos números que o concelho da Praia tem vindo a apresentar, o Director Nacional de Saúde defendeu que é preciso “uma intervenção mais forte” das autoridades de saúde e das forças de segurança e apelou a uma maior responsabilização das pessoas que vivem na capital para que evitem ajuntamentos e para que tenham comportamentos que ajudem a evitar a propagação da doença.
Segundo Artur Correia, a Praia tem sido o grande contribuinte para a manutenção dos números da COVID-19 em Cabo Verde. Todos os outros concelhos estão, como apontou, a dar sinais de diminuição da propagação da doença.
“No Sal baixou, em Santa Cruz a mesma coisa. Por isso eu chamo a atenção à cidade da Praia, a todas as autoridades competentes da cidade da Praia, incluindo a delegacia de Saúde e a câmara municipal para que façamos tudo para evitar que a população corra riscos de contágio a nível comunitário”, disse Artur Correia, acrescentando que a capital “está há cinco semanas num patamar e não está a descer”.
Para Renaldo Rodrigues, estas declarações do Director Nacional de Saúde servem para mostrar falta de seguimento, por parte de Artur Correia, das acções de fiscalização e “desmerecem o trabalho do sector”.
Em conferência de imprensa, o Presidente do Serviço Nacional de Protecção Civil e Bombeiros considerou que “a afirmação, de certa forma desmerece aquilo que é o trabalho que os profissionais estão a fazer no terreno e demonstra que o director Nacional da Saúde não está a acompanhar aquilo que é o trabalho da fiscalização, porque se estivesse por dentro, iria perceber que nesta fase, nós, diariamente, temos o pessoal no terreno”, declarou, apelando a uma certa cautela relativamente à análise das acções de fiscalização no contexto da covid-19.
“Não diria que o problema nesta fase está na fiscalização, porque, por aquilo que estamos a ver, há incumprimentos, mas temos que ser objectivos quando fazemos essas análises, uma vez que até hoje não temos informação sobre o número de transmissão por via indirecta e nós precisamos dessa informação para de certa forma focalizarmos numa ou noutra acção”, asseverou, frisando que o maior constrangimento da fiscalização neste momento tem a ver com a não disponibilização desses “importantíssimos dados” por parte das autoridades sanitárias.
Renaldo Rodrigues afiançou, neste sentido, que as instituições envolvidas no processo de fiscalização vão continuar a realizar os seus trabalhos, salientando, no entanto, que a participação do pessoal da saúde neste processo tem sido “limitadíssima”.
“Estamos a falar de uma fiscalização que tem uma forte componente da saúde, estamos a falar de uma crise sanitária, temos o pessoal aqui, mas a participação do pessoal da saúde tem sido limitadíssima nesta fase. Não está presente (…) e nem sequer tem a preocupação de ligar para saber como é que as coisas estão a andar”, criticou, lembrando que existem bairros na cidade da Praia que carecem de informações precisas de forma a permitir uma melhor abordagem.
Casos e óbitos
Entre a passada terça-feira e ontem, dia 4, a capital registou 217 novos casos de infecção por coronavírus e três óbitos. Números que contrastam com as restantes regiões do país que já dão, há vários dias, sinais de diminuição do número de casos novos.
Um dos óbitos registados, o primeiro neste escalão etário, foi de um jovem de 18 anos que faleceu no Hospital Agostinho Neto (HAN), na Praia.
Ofélia Monteiro, médica do HAN, explicou, na conferência de imprensa desta segunda-feira que o jovem estava em isolamento na Escola de Hotelaria e que esteve quase sempre sem sintomas.
O paciente depois de apresentar agravamento dos sintomas, foi transferido para o HAN onde os médicos “constataram que os sintomas eram neurológicos. Realizada “uma ressonância magnética nuclear do sistema nervoso central” foi detectado um aneurisma que acabou por causar a morte do doente.
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Aplicativo ‘Na nos mon’ nas mãos da Google
Anunciado no fim de Junho, o aplicativo ‘Na nos mon’ tem como objectivo fazer o rastreamento anónimo de casos de COVID-19 mas ainda não está disponível na app store da Google.
A Apple já tem a app disponível na sua loja virtual, mas a reduzida expressão da marca no mercado cabo-verdiano, que é dominado pelo sistema operativo Android, torna a aplicação ineficaz.
Segundo Hélio Varela, um dos membros da equipa criadora da aplicação, a Google, dona da Android, “não reage há mais de 30 dias” aos pedidos de aprovação da ‘Na nos mon’.
Quando o aplicativo foi apresentado, Hélio Varela explicou, em conferência de imprensa, que o software vai permitir ao utilizador rastrear os seus contactos e perceber se esteve ou não na proximidade de uma pessoa infectada.
No entanto, como explicou Hélio Varela, por uma questão de privacidade o aplicativo só permitirá saber a existência do contacto não sendo possível saber “o local, a hora da infecção e muito menos a identidade” da pessoa transmissora da doença. Ou seja, o aplicativo vai fazer o rastreamento de contactos que o utilizador teve no dia-a-dia, desde conhecidos a pessoas desconhecidas, com quem tenha partilhado o mesmo espaço.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 975 de 5 de Agosto de 2020.