Saab estranha “inação” de PM de Cabo Verde e aponta consequências da detenção

PorExpresso das Ilhas, Inforpress, Lusa,10 ago 2020 15:23

O empresário Alex Saab, alegado testa-de-ferro do Presidente venezuelano, Nicolás Maduro, disse hoje estar detido ilegalmente em Cabo Verde, estranhou a “inação” do primeiro-ministro cabo-verdiano e antevê consequências jurídicas e políticas.

Numa carta aberta ao primeiro-ministro cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva, o empresário disse que está “detido ilegalmente” em Cabo Verde há 57 dias, “a aguardar que um pedido de extradição feito pelos Estados Unidos infundado e com motivação política seja revisto”.

Escrita na cadeia da ilha do Sal e enviada à agência Lusa pela agência de comunicação global (YoungNetwork Group), Alex Nain Saab Morán, que se identifica como “Enviado Especial da República Bolivariana da Venezuela”, afirmou que está a ser alvo de uma “grande injustiça”.

“Foi-me negado o direito a uma audiência e a minha equipa de advogados não teve acesso ao relatório do procurador, o que é inédito na história jurídica de Cabo Verde”, acrescentou.

Falando da sua origem familiar e do seu percurso, Saab explicou ser uma “pessoa normal com um passado comum” que, “graças ao trabalho árduo”, conseguiu construir um “negócio de sucesso no sector privado sem receber benefícios governamentais”.

Por isso, perguntou ao chefe do Governo cabo-verdiano porque está há quase dois meses “detido ilegalmente” no país africano, num período durante o qual denunciou ter tido “cuidados médicos rudimentares” e que perdeu quase 20 quilos devido a graves problemas de saúde de que padece.

“Percebi que, no seu país, até os traficantes de drogas têm recebido melhor tratamento e prisão domiciliar, coisas que não foram disponibilizadas a mim nem mesmo como enviado especial”, prosseguiu na carta o empresário.

Na semana passada, o Tribunal de Relação do Barlavento, em Cabo Verde, decidiu extraditar Alex Saab para os Estados Unidos da América (EUA), com a defesa a anunciar que vai recorrer da decisão.

Na carta aberta, o empresário teceu duras críticas aos EUA, considerando que aquele país o acusa sem fornecer “o mínimo de provas ou provas concretas” de alegados crimes, explicando que a única ligação com os Estados Unidos é a existência de pagamentos feitos para ou através de contas bancárias americanas.

“Pagamentos que não fiz pessoalmente ou pelos quais fui responsável e que eram obrigações contratuais ou facturas de cartão de crédito para as quais não foram oferecidos métodos alternativos de pagamento”, sustentou o detido.

Criticando a “atitude vingativa e politicamente orientada da Casa Branca”, Alex Saab lembrou que quando foi detido em Cabo Verde, em 12 de Junho, estava a caminho do Irão numa missão humanitária especial, sob o título de enviado especial, “com total imunidade ao abrigo do direito internacional”.

“Há muito que sei que me tornei o principal alvo dos Estados Unidos e que, segundo os seus modelos extraterritoriais, estavam dispostos a ir o mais longe possível para me impedir de cumprir as minhas obrigações para com o povo venezuelano”, prosseguiu Saab, dizendo que foi “basicamente raptado” e alvo de “tratamento desumano” em Cabo Verde.

“Mas tenho dificuldade em aceitar que, mesmo depois que a Venezuela ter declarado oficialmente a minha imunidade, Vossa Excelência nada fez para rectificar a situação. Não tenho dúvidas de que sua inação terá consequências jurídicas e políticas”, escreveu a Ulisses Correia e Silva.

Na extensa carta, o empresário venezuelano recordou a independência de Cabo Verde, há 45 anos, mas salientou que os EUA consideram o país africano como de “segunda classe” e sem o nível adequado de respeito.

“De que serve proclamar a sua independência e agora submeter-se (ilegalmente) para agradar aos Estados Unidos? Penso que o povo de Cabo Verde não concordaria com isso, pois sempre foi discriminado e desprezado pelos Estados Unidos”, sublinhou.

E garantiu que a Venezuela sempre vai tratar Cabo Verde com “maior respeito” e apresentará “mais oportunidades” do que os EUA. “Como enviado especial do meu país, posso ajudar Cabo Verde mais do que os Estados Unidos em 100 anos”, frisou.

“Apenas peço justiça e que Cabo Verde, como membro da ONU [Organização das Nações Unidas], respeite a minha imunidade e me permita regressar ao meu país”, concluiu o empresário.

Alex Saab foi detido em 12 de Junho pela Interpol e pelas autoridades cabo-verdianas, durante uma escala técnica na ilha do Sal, com base num mandado de captura internacional emitido pelos EUA.

A detenção foi classificada pelo Governo da Venezuela como “arbitrária” e uma “violação do direito e das normas internacionais”, tal como as “acções de agressão e cerco contra o povo venezuelano, empreendidas pelo Governo dos Estados Unidos da América”.

Saab era procurado pelas autoridades norte-americanas há vários anos, suspeito de acumular numerosos contratos, de origem considerada ilegal, com o Governo venezuelano de Nicolás Maduro.

Em 2019, procuradores federais em Miami (EUA), indiciaram Alex Saab e um seu sócio, por acusações de operações de lavagem de dinheiro, relacionadas com um suposto esquema de suborno para desenvolver moradias de baixa renda para o Governo venezuelano, que nunca foram construídas.

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Autoria:Expresso das Ilhas, Inforpress, Lusa,10 ago 2020 15:23

Editado porSara Almeida  em  24 mai 2021 23:21

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