Através de comunicado de imprensa, o gestor, que foi ontem demitido da liderança da empresa pública de importação e distribuição de medicamentos, EMPROFAC, diz estar “de consciência tranquila” e refere que a viagem que motivou o afastamento “resultou de um convite formulado pelo grupo de advogados [de Alex Saab] para um encontro de planeamento e programação de voos e vistos previstos para os meses de Setembro e Outubro para a ilha do Sal”.
Gil Évora garante não ter efectuado qualquer missão ao serviço do Governo e assegura que não foi emissário “de quem quer que seja”.
“Neste sentido, são globalmente falsos falar-se de encontros políticos etc, e desejamos refuta-los integralmente [N.R: cópia textual]”, lê-se na nota.
Esclarece Gil Évora que, no final de Junho, a defesa de Saab contactou “uma empresa cabo-verdiana de consultoria na área de aviação civil”. Os advogados quereriam conhecer os trâmites necessários para obtenção de voos e vistos de entrada em Cabo Verde, “assim como outros aspectos logísticos”.
Desde essa altura, essa empresa, cujo nome não é citado no comunicado de Évora, estaria a trabalhar com a defesa do colombiano, detido em Cabo Verde, a aguardar o desenrolar do processo de extradição para os Estados Unidos.
Para se ausentar do país, o gestor terá pedido férias do cargo de presidente do conselho de administração da EMPROFAC.
"Neste particular, tem o governo um outro entendimento, em como, mesmo estando de férias, estaremos a exercer funções de gestor público. Não temos necessariamente a mesma interpretação”, refere a nota de imprensa.
O antigo PCA acrescenta que, “olhando para trás”, acredita ter sido envolvido “num grande turbilhão de jogos de interesse entre países e entidades”, negando ter regressado ao país com várias malas. “Apenas viajámos com o nosso carry on”, diz.
“De uma deslocação meramente comercial, alguns quiseram tirar dividendos políticos, geo-estratégicos e lançar confusão”, consta do comunicado.
Gil Évora, que promete não voltar ao assunto, foi afastado de funções na EMPROFAC na sexta-feira, depois de ver o seu nome envolvido numa suposta viagem à Venezuela, para um alegado encontro com o presidente daquele país, Nicolas Maduro, sobre a detenção de Alex Saab, em Cabo Verde.
Em comunicado, o governo, sem referir o caso Saab e qualquer viagem, justificou a decisão com a “violação dos deveres inerentes ao gestor público e desvio da finalidade das funções”.
Já antes, o executivo tinha negado o envio de qualquer missão a Caracas.
“O Governo de Cabo Verde não enviou ninguém, nem qualquer missão, à República Bolivariana da Venezuela”, lia-se nessa outra nota, emitida quinta-feira.
Este sábado, o Primeiro-Ministro, Ulisses Correia e Silva, regressou ao tema, na Boa Vista, declarando que “o Governo do Estado de Cabo Verde não enviou nenhum emissário para a Venezuela e não enviará, porque estamos com um processo judicial em curso”.
A reacção do chefe de governo surgiu horas depois de o PAICV ter exigido explicações.
“O que o Governo tem que explicar, de forma clara, para todos compreenderem é se os cidadãos Gil Évora e Carlos dos Anjos foram ou não à Venezuela, como noticiado pelos órgãos de comunicação social estrangeiros e nacionais”, comentou o secretário-geral do maior partido da oposição, Julião Varela.
A notícia da alegada viagem de dois cabo-verdianos à capital venezuela foi divulgada quarta-feira, pelo jornal El Nuevo Herald, publicação com sede em Miami (EUA), dedicada a temas da América Latina.
Além de Évora, é citado o nome de Carlos Jorge Oliveira Gomes dos Anjos. Alex Saab, de 48 anos, foi detido no Sal, a 12 de Junho, no cumprimento de um mandado internacional, emitido pela Interpol, a pedido das autoridades norte-americanas.
Os Estados Unidos consideram o empresário um testa-de-ferro de Nicolás Maduro. A defesa – liderada internacionalmente pelo antigo juiz espanhol, Baltazar Garzón - e governo venezuelano apostam na ilegalidade da detenção, já que Saab viajaria com passaporte diplomático.
Advogado da Venezuela acredita que Supremo terá "muita dificuldade" para autorizar extradição de Alex Saab
O advogado do Estado da Venezuela, Arnaldo Silva, disse hoje, em declarações à Inforpress, que o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) cabo-verdiano terá "muita dificuldade" para decidir favoravelmente à extradição de Alex Saab para os Estados Unidos.
Em Julho, a extradição foi aprovada pelo Tribunal da Relação do Barlavento. Contudo, a equipa de advogados recorreu para o Supremo.
Alex Saab era procurado pelos Estados Unidos da América, por supostas relações com o governo venezuelano. No ano passado, a procuradoria de Miami acusou-o, e a um sócio, de um alegado esquema de subornos na construção de habitações sociais na Venezuela.