Professores, pais e encarregados de educação são a favor do reinício das aulas presenciais, mas desde que sejam criadas as “condições mínimas” para evitar a propagação da covid-19.
O Ministério da Educação marcou para 01 de Outubro o início do ano lectivo, mas anunciou no sábado a excepção para a capital, Praia, onde as aulas presenciais foram adiadas para “depois de 31 de Outubro” devido à evolução da pandemia de covid-19. 2 de Novembro é a data apontada para o início de aulas presenciais.
As aulas presenciais estão a dividir opiniões em Cabo Verde, tendo em conta que o país regista dezenas de casos diários, com maior preocupação na cidade da Praia, o principal foco da doença.
Em declarações à agência Lusa, o presidente do Sindicato Nacional dos Professores (SINDEP) cabo-verdianos, Nicolau Furtado, recordou que os sindicatos tiveram um encontro no final do mês passado com a directora nacional da Educação, Eleonora Sousa, para abordar diversos aspetos da segurança sanitária nas escolas.
Distanciamento social, número de alunos em cada sala de aula, consoante a sua dimensão e condições higiénica, foram os assuntos abordados, mas tudo numa perspectiva da diminuição dos casos de covid-19, segundo Nicolau Furtado.
Para o presidente do sindicato, assiste-se no país a um aumento exponencial de casos de covid-19, considerando por isso ser essencial “repensar” a abertura presencial das aulas.
“Nesta ordem de ideias, o SINDEP aconselha o Ministério da Educação a ponderar a reabertura das aulas previstas para o dia 01 de Outubro, tendo em conta a evolução dessa pandemia, que torna um risco grande para a comunidade educativa”, disse.
O líder sindical propõe uma abertura quando a situação estiver “mais aceitável”, sublinhando que em Cabo Verde há insuficiência de infraestruturas escolares, o que limita a possibilidade de oferta presencial do ensino com o distanciamento social recomendado pelas autoridades de saúde.
“Enquanto durar a pandemia em Cabo Verde, é nosso entendimento que o Ministério deve optar pelo ensino online ou à distância, porque nem todos os docentes, alunos, nem as famílias se encontram devidamente preparados”, alertou.
Além dos riscos de contágio decorrentes da deslocação diária em dois sentidos de milhares de alunos, “em escassos meios de transporte colectivo de passageiro”, o sindicalista apontou dificuldades de distanciamento, que resultam das próprias caraterísticas psicológicas das crianças e dos adolescentes, quando convivem no mesmo e exíguo espaço escolar.
“Eles correm, saltam, brincam, jogam, abraçam-se, partilham entre si objectos e alimentos. E está provado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) que os jovens podem ser os principais transmissores da covid-19 para os mais velhos, ou seja, para as próprias famílias e para os professores”, disse Nicolau Furtado.
O presidente da Associação de Pais e Encarregados de Educação da Escola Primária 13 de Janeiro, na cidade da Praia, Albertino Delgado, disse à Lusa que está “um bocado apreensivo”, mas que é a favor do reinício das aulas, desde que sejam criadas as “condições mínimas” de higiene.
“Sobretudo nos lugares onde o surto é maior, como a Praia, é preciso acautelar bem para que não aconteça uma calamidade nas escolas”, alertou aquele responsável, para quem muitas escolas não estão preparadas, estando ainda em construção, os funcionários de apoio não são suficientes e não há casas de banho suficientes.
Para o presidente, não tendo essas condições, a solução é continuar com o ensino à distância, para dar tempo para recrutar mais pessoas, preparar os professores, testar professores e funcionários.
Segundo o Ministério da Educação, neste momento está a decorrer o período preparatório do ano lectivo 2020/2021, onde serão desenvolvidas atividades de planificação e preparação das atividades letivas e de formação contínua de docentes.
Acrescenta que o “princípio adotado é de flexibilização e adequação às circunstâncias”.
A ministra da Educação, Maritza Rosaball, anunciou já no início de Agosto que o Ministério estava a trabalhar um desenho, em que a educação à distância é complementar da educação presencial.
O Ministério da Educação informou que, em articulação com o Ministério da Saúde e de acordo com as orientações da Organização Mundial da Saúde, está a criar todas as condições para que os alunos possam regressar às aulas com “máxima segurança e tranquilidade” e pediu a colaboração dos pais e encarregados de educação.
Cabo Verde tem um total de 5.771 casos de covid-19 e 57 mortos.