Na primeira fase da vacinação serão priorizados os profissionais de saúde; pessoas com doenças crónicas; população com idade igual ou superior a 60 anos; profissionais hoteleiros e ligados ao turismo; profissionais dos aeroportos e portos internacionais; professores e pessoal de apoio nas escolas; Polícia Nacional; Forças Armadas e Serviço Nacional de Protecção Civil e Bombeiros.
Para o efeito será necessária a aquisição de 267.293 doses para toda a população alvo, acima mencionada, contemplando um total 111.372 pessoas. Seguindo o Plano, pretende-se vacinar até 2023 um total de 60% da população, sendo 20% em 2021, 20% em 2022 e 20% em 2023.
“O país vai adoptar a estratégica de postos fixos, próximos à população-alvo, para reduzir o tempo de deslocação, minimizar custos e garantir a logística. A sensibilização para grupos-alvo em geral incluirá recenseamento, grupos de discussão, encontros comunitários e institucional, de modo a maximizar a adesão”, explica o governo no texto publicado no Boletim Oficial.
Conforme refere ainda o BO, o Ministério da Saúde e Segurança Social, através do COVAX Facility fará a aquisição de todas as vacinas contra a COVID-19 com reconhecida eficácia e segurança, aprovadas segundo a autorização temporária de uso emergencial da OMS (EUL).
Os postos de vacinação serão constituídos pelos centros de saúde, postos sanitários, hospitais entre outros, os quais terão um kit de emergência. O plano está orçado em cerca de 250 mil contos. A vacinação será gratuita para todas as faixas etárias.
Esta segunda-feira, em conferência de imprensa, o Director Nacional de Saúde, Jorge Barreto defendeu que a vacina “vai ser mais uma ferramenta para ajudar na diminuição das mortes e casos graves”.
“Um dos objectivos da vacina é de evitar mais mortes e casos. É muito fácil e barato vacinar a população mais em risco”, reforçou o Director Nacinal de Saúde.
Jorge Barreto lembrou que o plano de vacinação foi publicado no dia 18 deste mês no Boletim Oficial, e que para esta primeira fase, através da iniciativa Covax, Cabo Verde poderá ter a possibilidade de vacinar pelo menos 35% da sua população.
“Esses 35% correspondem a cerca de 200 mil pessoas, e o país pretende vacinar pelo menos 60 % da sua população. Ainda não há recomendação para vacinação de crianças e de adolescentes e se formos fazer as contas essas faixas etárias representam cerca de 40% da população de Cabo Verde. O que acaba por nos deixar com os adultos que serão alvo da vacinação, que será feita de uma forma faseada e de acordo com os critérios de priorização que estão publicados no plano nacional de vacinação”.
“Uma grande asneira”
As críticas a este plano definido pelo governo, no entanto, não demoraram a surgir.
José Manuel Aguiar, antigo delegado de Saúde de São Vicente defende que, como foi definido, o plano “é uma grande asneira. Não posso encontrar outro termo, porque propor vacinar 60% da população em três anos é algo que não passa pela cabeça de ninguém. Só as pessoas que não sabem o que significa a vacinação, em termos de protecção, é que podem entrar numa conversa dessas”.
Mesmo admitindo a hipótese de “que há uma faixa que não se vai vacinar”, defende José Manuel Aguiar, “em três anos essa faixa, ou pelo menos uma parte, já estará vacinável”.
Para este médico outro dos grandes problemas deste plano é a estratégia definida pelas autoridades de saúde. “Vacinar só tem efeito efectivo se, no mais reduzido espaço de tempo possível, se vacinar, pelo menos, 75% da população. Só dessa forma é que a vacina se torna realmente eficaz e pode proteger a população. Agora se se vacina uma pequena percentagem da população e deixa a grande maioria sem vacinar não se vai conseguir controlar a propagação do vírus”.
No caso do SARS-Cov-2 “um vírus capaz de rápidas mutações” - há pelo menos quatro mutações conhecidas - que o tornam mais agressivo, José Manuel Aguiar defende que há uma possibilidade de “as vacinas actuais não virem a fazer efeito contra as variantes. Gastar dinheiro para vacinar essa parte da população em três anos é asneira grossa. É brincar e tratar a população como sendo leiga e que não entende nada”.
A dificuldade de acesso às vacinas não é, para este médico, uma questão que se coloque. “Nós somos 500 mil, não somos 500 milhões”, aponta. “Dificuldade seria se tivéssemos de comprar 30 milhões, 80 milhões”.
Cabo Verde, para José Manuel Aguiar, deveria procurar outras formas de abastecimento das vacinas contra a COVID-19. “500 mil ou um milhão de vacinas a China ou a Rússia oferecem isso de certeza absoluta. Pelo interesse que têm no país, de certeza que oferecem. Isso não significa nada para eles. É uma hora de produção diária”.
Como se vai fazer a vacinação
Segundo explica o governo no Boletim Oficial, os postos de vacinação serão constituídos pelos centros de saúde, postos sanitários, hospitais entre outros, os quais terão um kit de emergência sendo que a vacinação será gratuita para todas as faixas etárias.
Quanto à gestão da cadeia de abastecimento, o documento informa que no país, os pontos de entrada com capacidade para o desalfandegamento das vacinas vão estar localizados na Cidade da Praia, no Aeroporto Nelson Mandela, e no Mindelo, no Aeroporto Cesária Évora.
“Entretanto o Plano Alargado de Vacinação até agora utiliza somente o Aeroporto da Praia, que tem capacidade para receber e desalfandegar as vacinas acima referidas, em segurança. Os dois pontos de entrada possuem capacidade para armazenamento provisório, somente para vacinas +2 a +8C. Na Praia existe uma câmara fria com capacidade para 20 metros cúbicos”, lê-se no Boletim Oficial.
Além disso, e porque existem vacinas que têm de ser armazenadas a temperaturas inferiores (ver quadro abaixo), o Instituto Nacional de Saúde Pública dispõe de uma arca Ultrafria com capacidade de 400 litros, que será utilizada para armazenamento das vacinas a -70ºC na Praia. “4 arcas UCC com capacidade de 400 litros serão instaladas no Depósito central de vacinas” que possui “geradores de emergência com ligação automática, em caso de corte de energia e um sistema eléctrico exclusivo para o efeito”.
Tendo em conta que esta estrutura está presente em Santiago, lê-se no Boletim Oficial que para o processo de distribuição da vacina -70ºC estão previstos dois cenários distintos. “No primeiro cenário: para a ilha de Santiago onde se encontram os congeladores com as vacinas -70ºC, os centros de saúde devem fazer o levantamento das quantidades a serem utilizadas diariamente”, já no que respeita às outras ilhas “o aviamento e feito no dia anterior a vacinação”.
*com Sheilla Ribeiro e Dulcina Mendes
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1004 de 24 de Fevereiro de 2021.