Ulisses Correia e Silva, que falava em entrevista à Inforpress, a propósito das celebrações do 46º aniversário da Independência de Cabo Verde, que se assinala a 05 de Julho, reconheceu que durante esse período, Cabo Verde deu “passos importantes”, com a criação de condições para ambicionar o desenvolvimento.
“Pessoas que têm mais idade, que viveram o período colonial, que depois viveram o período da independência e o pós-independência têm memória para fazer comparações, para além daquilo as estatísticas, os relatórios dizem e aquilo que é vivência, que conta muito relativamente à apreciação”, disse, salientando que a independência representa um “marco fundamental” na vida do país.
Este é o segundo ano que o país está a celebrar o 05 de Julho em situação de pandemia, e Ulisses Correia e Silva admite que os desafios aumentaram, já que a pandemia impactou os sectores-chave da economia, como é o caso do turismo, e provocou consequências “muito gravosas” a nível económico e social, aumentando o nível da pobreza, do desemprego e da dívida pública.
O chefe do Governo explicou que é preciso ter em conta que até 2019, a pobreza tinha reduzido de forma significativa quando comparado com 2016, assim como aconteceu com a taxa de desemprego.
“Os dados que nós temos até 2019 apontavam um caminho muito interessante. Muitos jovens a empreenderem, a criar negócios, a criar empregos para si próprio e para os outros. Então temos de acelerar esse processo para entrarmos numa era pós-pandemia, com muito mais impacto da economia na vida das pessoas”, sublinhou, adiantando que a prioridade “é e sempre foi a salvaguarda da saúde e vida das pessoas”.
A economia cabo-verdiana sofreu uma recessão equivalente a 14,8% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2020 e no primeiro trimestre de 2021 registou uma quebra de 11%, segundo indicadores do Instituto Nacional de Estatística (INE).
O país perdeu em 2020 um total de 19.718 empregos e a taxa de desemprego aumentou para 14,5 por cento e o ‘stock’ da dívida pública sofreu um aumento histórico, atingindo mais 150%, como consequência da pandemia.
Para já, disse o primeiro-ministro que há indicações de que no pós-pandemia vai ser possível aumentar o ritmo de crescimento e ao mesmo tempo criar as condições de emprego, não só pela via do crescimento económico, mas também por políticas de empregabilidade que o arquipélago tem estado a desenvolver.
Neste momento, a aposta é, sobretudo, na vacinação da população enquanto instrumento mais forte para vencer a crise de COVID-19, e garantir a retoma do turismo. O chefe do Governo está crente que o país vai atingir a meta de ter 70% da população, com idade superior a 18 anos, vacinada até ao final do ano.
Por outro lado, confirmou que as medidas de protecção vão continuar, ao mesmo tempo que vão ser criadas condições para que a economia e as actividades económicas sejam relançadas.
“E são essas condições de relançamento que vão, no futuro próximo, fazer com que as pessoas voltem a ter capacidade de criar emprego, que as empresas voltem a criar investimentos, condições de aumentar a oferta de emprego para resolvermos um dos problemas mais críticos que temos neste momento”, disse.
“É ter um bom ambiente de negócio, ter estímulos e incentivos para que as pessoas possam investir, para que as empresas possam crescer e desenvolver-se, criando emprego e, ao mesmo tempo, o Estado desenvolver a sua função de equilíbrio a nível da inclusão social, da protecção social”, acrescentou.
Por outro lado, afirmou que há “questões estruturantes” que devem ser resolvidas, de forma a evitar que o país volte a ficar exposto, como aconteceu nesta pandemia e que passa pela diversificação.
“Queremos ter uma economia que não fique dependente ou fortemente do turismo. Neste sentido, estamos a trabalhar, porque este processo leva tempo, para que a agricultura seja um sector que não só provoque mais coesão social, mas que também crie rendimento e produtividade para aqueles que trabalhem no campo”, disse, apontando, sobretudo, para projectos de mobilização de água para viabilizar a agricultura.
A economia azul, a indústria e a economia digital são outras áreas de aposta do Governo, tendo em conta o potencial desses sectores, segundo Ulisses Correia e Silva.
“Houve muitos jovens com talento e com vontade para desenvolver essas áreas de tecnologias e comunicação e, portanto, vai ser um dos sectores importantes para a diversificação da economia. O potencial é grande e estamos no caminho certo para fazer com que haja mais capacidade de criação de emprego e é nesta perspectiva que estamos a trabalhar”, realçou.