Cabo Verde perdeu 1,6% de residentes na última década

PorJorge Montezinho,14 ago 2021 8:38

Somos menos, mas mais urbanos. Mais velhos, também. Ao contrário de há dez anos, os homens são agora mais do que as mulheres, em todas as ilhas menos em Santiago. Praia e São Vicente, sem surpresa, são os concelhos com mais população. Estes são alguns dos resultados preliminares do V Recenseamento Geral da População e Habitação (RGPH-2021), feito pelo INE.

A população residente em Cabo Verde diminuiu de 491.683 habitantes em 2010, para 483.628 em 2021. Números que ficam longe das estimativas que apontavam para uma população de 550 mil pessoas no arquipélago.

De acordo com os dados preliminares, apresentados pelo INE, este levantamento permitiu recensear, em quatro unidades estatísticas, 498.063 indivíduos, 145.952 agregados familiares, 150.016 edifícios e 200.979 alojamentos.

Os dados referem que no total de indivíduos recenseados, 483.628 são população residente, 14.128 visitas, 104 sem-abrigo (entre eles, três mulheres) e 203 passaram a noite de 15 para 16 de Junho (momento censitário) nos navios atracados nos portos do arquipélago, além de 128 ainda por classificar.

Do total da população residente, 250.262 são homens e 247.801 mulheres. Pela primeira vez há mais homens do que mulheres em Cabo Verde, menos nos 9 concelhos de Santiago, onde as mulheres estão em maioria.

O concelho da Praia tem 29,4% da população residente (142.009 pessoas), São Vicente 15,3% (74.016), Santa Catarina 7,7% (37.472) e Sal 6,9% (33.347). No total, 73,9% reside no meio urbano e 26,1% no meio rural e a taxa de urbanização passou de 61,8% em 2010 para 73,9% em 2021.

Na contabilidade entre concelhos, numa década, Sal e Boa Vista foram os que mais população ganharam (mais 2,4% e 2,9%, respectivamente). Praia teve um crescimento de 0,7% e, em sentido contrário, Santo Antão foi a ilha que, percentualmente, mais população perdeu, com Ribeira Grande a ter menos 2,1% de pessoas, quando comparado com 2010 e Paul a ter menos 1,9%. São Miguel, em Santiago, foi o terceiro concelho que perdeu mais habitantes, menos 1,7%.

Há alterações, também, na pirâmide etária. “Globalmente, há uma diminuição muito grande da população de 20 a 24 anos em relação a 2010, pode ser devido a mortalidade por causas violentas ou saída de jovens para o exterior para estudos ou à procura de trabalho. Mas tudo isso são hipóteses porque ainda não analisamos nada. Nota-se no topo da pirâmide um ligeiro aumento da população idosa em relação a 2010, que pode também [ter a ver com] o retorno da população idosa para Cabo Verde”, disse a coordenadora técnica do RGPH-2021, Maria de Lurdes Lopes, durante a apresentação dos resultados preliminares.

Habitação

O número de edifícios “não clássicos”, essencialmente barracas ou casas de bidão, aumentou mais de 85% desde 2010, para quase 3.000. “Não posso dizer as causas neste momento. Trata-se de resultados preliminares, resultados tal como vieram do terreno, ainda não tivemos tempo de analisar as causas e fenómenos”, explicou a coordenadora técnica do Recenseamento Geral da População e Habitação.

Segundo o recenseamento, existem em Cabo Verde 2.977 edifícios “não clássicos”, entre os quais “barracas, casas de bidão ou contentores”, 90,1% dos quais nos meios urbanos. “A maioria das barracas é em São Vicente [7,3%], Sal [6,6%] e Boa Vista [3%]. E depois uma percentagem pequena [1,5%] na Praia”, referiu ainda Maria de Lurdes Lopes.

De acordo com os dados, o número total de edifícios em Cabo Verde aumentou 31,3% desde 2010, para os actuais 150.016. Destes, 146.161 são considerados “clássicos” (+29,9%), mas 41.488 estão em situação de “não concluídos”. Praia é o concelho com mais edifícios por concluir, dos 34.663 edifícios existentes, 56,7% são considerados concluídos e 41,6% são descritos como não concluídos. Segue-se Porto Novo, com 35,4% dos edifícios não concluídos e da Ribeira Grande de Santiago, com 35,3%.

O RGPH-2021

O Recenseamento Geral da População e Habitação foi a maior operação estatística do arquipélago, envolveu cerca de 2.000 profissionais, decorreu no terreno, com a recolha de dados totalmente em formato digital, de 16 de Junho a 7 de Julho.

De acordo com informações do presidente do INE, está prevista a realização, de 15 a 30 deste mês, de um inquérito pós-censitário, conforme exigido pelas regras da Organização das Nações Unidas, para avaliar, por amostragem, a qualidade do processo.

“Mas nós avaliamos que todo o processo de recolha foi positivo”, sublinhou Osvaldo Borges. Os dados definitivos do recenseamento serão divulgados até Janeiro de 2022. O quinto Recenseamento Geral da População e Habitação deveria ter ocorrido em 2020, mas foi adiado para este ano, devido à pandemia de covid-19.

Segundo o INE, está prevista a divulgação de 40 publicações, sendo 24 volumes estatísticos, dados brutos, e 16 volumes de análise sobre temas variados e estudos temáticos, com base nesta operação de recenseamento.

A realização da operação está estimada em cerca de 700 mil contos, financiados, além do Governo de Cabo Verde, pela Cooperação Luxemburguesa, União Europeia, Escritório Conjunto das Nações Unidas e a Cooperação Espanhola. Cabo Verde já realizou quatro recenseamentos após a independência, em 1980, 1990, 2000 e 2010. 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1028 de 11 de Agosto de 2021. 

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Autoria:Jorge Montezinho,14 ago 2021 8:38

Editado porDulcina Mendes  em  25 mai 2022 23:21

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