Do consultório para o mundo para informar e atrair pacientes

PorSheilla Ribeiro,30 out 2021 7:08

Hoje, as redes sociais são uma extensão do dia-a-dia das pessoas em todos os aspectos e não foi diferente na área da saúde. Há cada vez mais profissionais do sector que usam as redes sociais, como Facebook e Instagram, para esclarecer os pacientes, mas também para os atrair para as clínicas onde trabalham, sobretudo os mais jovens.

Para os profissionais de saúde que procuram ser independentes, as redes sociais vão para além de destruir mitos.

Com quase três mil seguidores no Instagram, Lidiane Varela, dentista, traz esclarecimentos ao público através de imagens e vídeos com um toque de humor. Também diz receber mensagens com resultados de análises e pedidos de diagnóstico.

“Desde sempre recebia mensagens sobre a saúde oral, mas durante o confinamento provocado pela pandemia aumentaram as mensagens com queixas de dores de dentes e também de pacientes com dúvidas. Isto porque a nossa profissão foi das mais afectadas uma vez que tínhamos contacto directo com a boca do utente”, conta.

Na época, a dentista relata que estava prestes a abrir uma clínica dentária no concelho do Tarrafal, ilha de Santiago. Depois de ter feito uma formação em marketing decidiu experimentar o alcance do Instagram com publicações sobre a saúde oral.

Ao constatar que estava ajudando as pessoas e atraindo seguidores, Lidiane Varela transformou a página pessoal numa página profissional.

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“Eu dou a cara na página, mas é uma página profissional. Não se trata de uma página da clínica, mas sim da Lidiane dentista, profissional. E no Instagram a organização facilita a comunicação, que se torna mais clara pela forma como a faço. Por isso, optei pelo Instagram para a página profissional e no Facebook optei por criar uma página da Clínica. Mas, há maior interacção no Instagram”, explica.

Estudar e aproximar os pacientes

Na página profissional da dentista é possível encontrar conteúdos de saúde oral, curiosidades, indicações, tratamentos, depoimentos de clientes e até mesmo de colegas.

A escolha das publicações, esclarece, é baseada nas mensagens dos pacientes, nas suas dúvidas e temas do momento.

“Tem havido muita interacção, tanto é que em menos de um ano o número de seguidores tem aumentado a cada dia, porque muitas pessoas partilham e recomendam. A maioria do público são jovens e mulheres entre 20 e 35 anos”, destaca.

Embora uma identidade pública nas redes sociais “ajude a ter uma noção de quais são as dúvidas e mitos mais enraizados”, Lidiane Varela admite ser algo que a obriga a estudar constantemente.

“Com a página ganhei muitos clientes e visibilidade e isso obriga-me a estudar sempre. Porque tenho de me manter actualizada para poder partilhar o conhecimento com os seguidores”, reconhece.

As consultas à distância, através de fotos e vídeos, tornaram-se rotina para a dentista, embora haja sempre indicação para o cliente consultar um dentista próximo de si.

Por enquanto, Lidiane Varela diz que as consultas online são gratuitas por se tratar de consultas informativas e sem avaliações profundas.

“As conversas, recomendações e indicações não são cobradas por agora, são mais uma forma de atrair clientes para a clínica”, assume.

Do ponto de vista desta dentista, os profissionais de saúde cabo-verdianos não investem muito nas redes sociais com receio de exposição.

“Mas, a exposição quando feita de forma correcta traz benefícios. Conseguimos tirar muitas dúvidas, pois há muita informação na internet. Muitas vezes o paciente procura no Google, que é um campo vasto, e muitas vezes não é uma fonte segura, o que pode levar à automedicação”, exemplifica.

Assim, Lidiane Varela recomenda aos profissionais de saúde saírem um pouco dos consultórios e divulgarem o seu trabalho na internet.

“Penso que as redes sociais são uma mais-valia se começarmos a sair um pouco do consultório e divulgar o nosso trabalho na internet. E estou feliz porque tenho visto alguns profissionais cabo-verdianos que têm feito um bom trabalho na rede, desde ginecologistas, nutricionistas, entre outros”, manifesta.

Serviço online

Em frente ao telemóvel, Eliane Moniz Tavares enumera, numa imagem atractiva, ‘seis passos para mudar os hábitos alimentares’. Num vídeo de 37 segundos, deixa uma receita de um overnigth oats com manga e maracujá, que tanto pode ser servido ao pequeno-almoço como ao lanche.

Além das sugestões e receitas saudáveis, na página “nutri_elly” é possível encontrar mitos e verdades sobre a alimentação saudável, entre outros.

Depois de perder o emprego de nutricionista durante a pandemia, Eliane Moniz, assim como outros profissionais de saúde, investiu nas redes sociais, para ajudar os cabo-verdianos a melhorar a saúde e o bem-estar com uma alimentação saudável, adaptada aos pratos típicos.

“Licenciei-me na Escola Superior de Tecnologia de Saúde de Lisboa, em 2017 e em 2019 entrei na Ordem dos Nutricionistas de Portugal. No mesmo ano, decidi criar uma página no Instagram para dar dicas de nutrição e também falar em alimentação saudável. No entanto, em 2020, devido à pandemia perdi o emprego na Rede de Controlo de Qualidade Alimentar”, narra a nutricionista.

Desempregada e com mais tempo livre, Eliane Tavares decidiu dedicar-se às redes sociais para chegar aos cabo-verdianos e fazer o seu acompanhamento nutricional online.

“Percebi que muitos cabo-verdianos são acompanhados por nutricionistas e não têm o acompanhamento personalizado, um acompanhamento que leva em conta a nossa tradição como a nossa cachupa, o nosso cuscuz. E muitas vezes as pessoas reclamam porque pensam que ao adoptarem um hábito alimentar saudável deixam de comer esses pratos típicos”, refere.

Eliane Tavares decidiu, assim, nas suas consultas online, desmitificar o facto de que para comer saudável é preciso abandonar a tradição, adaptando as receitas de forma a se tornarem saudáveis.

Segundo a nutricionista, logo depois de ter decidido dedicar-se à página com foco nos cabo-verdianos, começaram a surgir potenciais clientes não só em Cabo Verde como em Portugal, mas também em outros países da Europa.

Entretanto, admite que os cabo-verdianos em França, Inglaterra, Suíça procuram mais os seus serviços do que aqueles que residem em Cabo Verde.

Hoje, a nutricionista segue pouco mais de 600 utentes e é seguida por quase 900 no seu perfil profissional.

No passado mês de Junho começou a fazer acompanhamentos em grupos de desafios de 21 dias.

“Ou seja, durante 21 dias, acompanho as pessoas e desafio-as a adquirirem novos hábitos alimentares. Para os grupos de desafios as consultas são pagas. No entanto, às vezes as pessoas enviam mensagens pedindo orientações e com dúvidas a que eu respondo sem cobrar nada”, afirma.

Enquanto profissional, Eliane Tavares reconhece que a página lhe deu independência financeira. Por esta razão, vem investindo no marketing digital.

“A página tem sido uma fonte de rendimento extra, já que estou dependente do subsídio de desemprego. Venho aproveitando o meu tempo livre para investir cada vez mais na minha página e angariar mais pacientes para que em 2022 possa dedicar-me às minhas consultas por conta própria”, salienta.

Neste sentido, a nutricionista fez um curso de criação de programas online para os profissionais da sua área e desde Fevereiro tem vindo a fazer monitoria, aprendendo estratégias de marketing digital para implementar nas consultas.

“A única diferença entre consultas online e consultas numa clínica tem a ver com o facto de eu não medir o peso e a altura do paciente. Na online dou instruções e as pessoas depois facultam os valores. Mas, em termos de interpretação, em termos de comunicação e toda a dinâmica de consulta, é semelhante a uma consulta presencial”, qualifica.

Firmar-se como profissional

Logo após a se ter licenciado em fisioterapia, em 2019, Dara Gamboa começou a trabalhar por conta própria. Por isso, criou a Dara Gamboa Fisioterapia, sociedade unipessoal por cotas, na qual era a única colaboradora a prestar serviços fisioterapêuticos.

Com a criação da página Dara Gamboa Fisioterapia, no Instagram, a profissional inicialmente divulgava conteúdos relacionados com Fisioterapia Ergonómica e Preventiva.

Actualmente, a página divulga conteúdos de saúde em geral tendo a preocupação central de informar o usuário da internet sobre a actuação da fisioterapia no contexto preventivo e curativo.

“Os critérios centrais para as publicações são a cientificidade das informações divulgadas e a linguagem comunicativa. Defendo que a publicidade deve ser facilmente compreendida pelo usuário da internet de diferentes níveis académicos”, declara.

Dara Gamboa optou por criar uma página em diferentes plataformas como Facebook, Instagram e Linkedln, por “permitirem uma interacção com públicos de diversas faixas etárias, sexo, localização e status social”.

Ao contrário das outras colegas, a fisioterapeuta conta com mais interacções do público no Facebook do que no Instagram.

“Embora as publicações ainda não tenham a interacção desejada quantitativamente, a nível qualitativo percebo que a mensagem tem chegado aos receptores, na medida em que vão deixando o feedback, suas dúvidas e sugestões via chat”, menciona.

Uma página profissional nas redes sociais, segundo Gamboa, trouxe, em primeiro lugar, satisfação pessoal uma vez que lá partilha dos conhecimentos relacionados com a saúde. No caso específico, a actuação da fisioterapia no contexto preventivo e curativo trata-se de um contributo para a sociedade.

Profissionalmente, continua, permitiu conhecer virtualmente as preocupações dos leitores com relação à saúde, bem como identificar futuros utentes e parceiros.

Como exemplo, Dara Gamboa conta que diariamente a página é contactada por utentes. Quando verifica que há a necessidade do utilizador ser submetido a uma avaliação, quer seja fisioterapêutica, nutricional ou médica, assim é feito.

“Trabalhar na área clínica e manter uma página com o meu nome é um “casamento feliz” na medida em que por meio da página tenho a possibilidade de me afirmar no mercado, virtualmente, como fisioterapeuta e mobilizar utentes e parceiros para a clínica Vitallity Fisioterapia, onde laboro exclusivamente. Não se trata ainda de uma fonte de rendimento extra mas, quem sabe, no futuro”, frisa. 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1039 de 27 de Outubro de 2021.

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Autoria:Sheilla Ribeiro,30 out 2021 7:08

Editado porAntónio Monteiro  em  1 ago 2022 23:29

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