O anúncio foi feito pelo PCA do grupo Bestfly, Nuno Pereira, durante a cerimónia de recepção do Embraer 190 que a companhia recebeu no sábado.
Além disso aquele responsável referiu que o objectivo é ter uma frota de seis aviões. Aos dois ATR 72-600 já em operação e ao Embraer 190 que chegou hoje deverá juntar-se um outro Embraer 190 e dois Twin Otters com 19 lugares cada.
Em declarações à comunicação social antes da chegada do avião ao aeroporto da Praia, Nuno Pereira afirmou que o objectivo é “manter a nossa operação de uma forma sustentável, mesmo quando a época for baixa”.
Embraer 190
“Eu acho que o significado da certificação de uma aeronave nova em Cabo Verde e da vinda de um novo tipo de aeronave transcende a importância da empresa. É muito superior à Bestfly. É um sinal à indústria de que Cabo Verde está aberto para os negócios e que com os investimentos certos pode ser possível fazer aviação em Cabo Verde com resultados positivos”, apontou ainda Nuno Pereira em declarações à comunicação social.
O Embraer, explicou o PCA da Bestfly, enquadra-se numa estratégia de crescimento da companhia aérea “conforme eu prometi há um ano atrás quando chegamos cá com o nosso primeiro avião”.
“Nós não alteramos em nada desde a altura em que eramos Bestfly Angola a operar em Cabo Verde para agora que somos Bestfly Cabo Verde by TICV”, reforçou aquele responsável.
O objectivo primordial, apontou Nuno Pereira, é oferecer a Cabo Verde “mais conectividade, mais opções de transporte aéreo de uma forma segura, eficiente e com alto padrão de qualidade. Porque o que nós estamos a fazer é trazer de Angola aquilo que nos diferenciou no nosso mercado, que foi a excelência, a aviação executiva e o apoio às empresas petrolíferas com os seus níveis de rigor superiores, para o mercado de Cabo Verde”.
Num ano de operação a Bestfly transportou em Cabo Verde “mais de 200 mil passageiros em plena pandemia. Tivemos um on time performance superior a 87%, fizemos, nos primeiros seis meses de operação, 1200 horas de voo com um avião e tivemos apenas dois atrasos”.
Os números, como defende o PCA da companhia aérea, “não enganam e é esse o nosso compromisso com Cabo Verde”.
Os responsáveis da Bestfly defendem que o novo avião da companhia “enquadra-se numa estratégia de complementaridade e é para assegurar a sustentabilidade e a continuidade do transporte interilhas. Esse é o nosso objectivo principal” para que, como frisou Nuno Pereira “nunca mais se ponha a possibilidade deste país ficar sem conectividade para os seus cidadãos porque é um pais insular. Tem de haver transporte aéreo”.
Certificação
Com a chegada da aeronave ao aeroporto internacional da Praia, no sábado, dá-se início ao seu processo de certificação junto da Agência de Aviação Civil.
“A esperança da Bestfly é que o processo de certificação internacional do Embraer 190 esteja concluída até Julho por forma a que o avião possa começar a operar o mais depressa possível dando, assim, início às ligações à costa ocidental africana e à Europa”.
O objectivo, referiu Nuno Pereira, é ligar Bissau, à Praia e a dois aeroportos em Portugal (Ponta Delgada e Lisboa). Posteriormente a companhia aérea quer ligar Cabo Verde a Angola, Nigéria, Gana e Senegal.
Mário Almeida, director comercial da empresa, reforça: “O Embraer é o avião ideal para Cabo Verde, porque o país precisa de mobilidade e, com esse avião podemos levar mobilidade, aonde há cabo-verdianos e à costa de África”.
Este responsável explica ainda que o Embraer 190 é um avião “que pode operar em épocas baixas como em épocas altas diminuindo assim aquilo com que Cabo Verde sofre sempre: as perdas sazonais”.
Aquela aeronave, referiu ainda Mário Almeida, “durante a época baixa vai transportar 90 passageiros e durante a época alta pode transportar 300 fazendo três voos para o mesmo destino”. “É o avião ideal que, combinado com a frota doméstica, acaba por criar, de facto, a mobilidade. A nossa ideia é desenhar uma estrela sobre Cabo Verde, não é só ligar ponto a ponto os principais gateways, mas perceber onde há tráfego entre as ilhas, como Sal e Fogo, e fazer um voo entre essas ilhas em vez de faz Sal-Praia-Fogo”.
Regras e regulamentações
Nuno Pereira explicou igualmente que a sua equipa está a “trabalhar afincadamente”, para conseguir a certificação da aeronave e, depois, anunciar os destinos para os quais a aeronave vai ligar. “Existe ainda um longo trabalho da nossa parte a fazer junto das autoridades, da AAC, com vista à certificação internacional da Bestfly by TICV e da parte dos voos comerciais”. No entanto, avisa, a empresa não se quer comprometer com uma data, uma vez que “existem muitos imponderáveis, muitas coisas que fogem ao nosso controlo”.
“Se fosse por nós o avião voava já amanhã [domingo]. Só que, claro, nós entendemos que existem regulamentos e regulamentações que têm de ser cumpridas. Nós estamos aqui para o fazer e estamos nesse processo. Depois de terminando iremos dar início à operação comercial do Embraer”.
Bissau-Praia-Portugal
Depois de terminados os trâmites legais de certificação da aeronave, a companhia vai começar a realizar voos internacionais.
O objectivo é voar Bissau-Praia-Portugal, passando aqui pelos aeroportos de Ponta Delgada e depois Lisboa.
“Temos uma parceria estratégica com a SATA”, diz Alcinda Pereira.
“Todo o transporte aéreo tem de ser intermodal, não pode ser considerado de forma isolada, porque se não não faz sentido. A ideia é a complementaridade e numa questão de parcerias estratégicas. A Bestfly Cabo Verde não está em concorrência com a TACV. Está em parceria e a complementar a TACV, essa é a ideia”.
Reforço da frota
“Até final do ano temos no nosso plano de negócios o projecto de incrementar a nossa frota com mais um E-190 e com duas aeronaves Twin Otter, com menor capacidade, de 19 lugares, para poder fazer esse complemento à necessidade que existe de fazer evacuações médicas, de auxílios pontuais em ilhas pontuais”, declarou, por sua vez a directora executiva do grupo, Alcinda Pereira. Além disso, esclareceu, estas aeronaves farão ligações regulares comerciais entre, por exemplo, “as ilhas do Sal e do Fogo ou da Boa Vista e Maio”.
Mário Almeida reforça este posicionamento: “A 17 de Maio de 2021 o Nuno [Pereira, da Bestfly] disse algo muito importante que foi que não podemos esquecer a insularidade e a necessidade de transporte dos doentes”.
Com 87% de pontualidade a empresa fez mais de 40 chaters de evacuação de doentes. “Temos dois lugares, nos nossos aviões, que só ocupamos em último caso, porque sabemos que o avião chega ao destino e pode ser necessário transportar um doente”, aponta Mário Almeida.
No plano estratégico da empresa existe, conforme apontou o PCA da empresa, o plano de adquirir “aeronaves mais pequenas que farão com que o custo associado ao transporte de doentes, à evacuação médica, reduza significativamente. Porque quem assume esse custo são os cofres do Estado e, enquanto empresa, é nossa obrigação procurar reduzir os custos do Estado” beneficiando toda a população “porque não teremos a necessidade de retirar da linha normal aviões que estão a cumprir serviço regular, o que cremos que vai melhorar significativamente a nossa performance de cumprimento de horários. Esta performance de 87% que eu referia tem muito a ver com o facto de termos tido de retirar aviões, que estavam a fazer voos regulares, para ir salvar uma vida”.
Twin Otter
A directora executiva da empresa, Alcinda Pereira, disse igualmente que até final do ano “temos, no nosso business plan, o objectivo de incrementar a nossa frota com mais um Embraer 190 e com duas aeronaves Twin Otter de 19 lugares para poder fazer este complemento de evacuações médicas, de auxílio pontual a pessoas, para que possamos ter o nosso nível de confiança muito maior tendo os nossos passageiros a fazer nos ATR todo o serviço regular complementado pelos dois Twin Otter”.
Mas estas duas aeronaves de menor dimensão não vão servir apenas para realizar voos médicos.
“É uma situação de complementaridade. Qual é a grande vantagem do Twin Otter? Tem um custo operacional muito baixo, estamos a falar de Twin Otters de nova geração, que vão permitir, quando estamos em época baixa, que nós consigamos manter de uma forma sustentável a operação. A nossa ideia é não haver redução de rotas”, diz Nuno Pereira.
Um exemplo simples, destaca por sua vez Mário Almeida, é que um Twin Otter, “estando no Sal, rapidamente cria várias gateways internas. Pode voar para São Nicolau e dali para São Vicente e o passageiro pode ali apanhar um voo num ATR para a Praia. Isso quer dizer que as pessoas podem vir fazer uma consulta, de manhã, na Praia e regressar à tarde”.
Um ano de operações
A Bestfly opera em Cabo Verde desde 17 de Maio de 2021, altura em que a Binter tinha anunciado que iria encerrar as operações no país. No primeiro ano de actividade realizou mais de 3.400 voos entre as ilhas e transportou mais de 170.000 passageiros, com uma taxa de ocupação média de quase 71%. Além destes voos comerciais a companhia fez 35 voos ‘charter’ para transportar doentes em estado grave, a pedido das autoridades de saúde, justificando com esta necessidade a aquisição das duas aeronaves Twin Otter, bem como com a realização de voos para ilhas com menos procura ou na época baixa, por “reduzir significativamente” os custos.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1071 de 8 de Junho de 2022.