"Dado o agravamento circunstancial da situação pandémica vivida por Cabo Verde, decidimos antecipar o calendário de envio de vacinas", inicialmente previsto para o segundo semestre, disse o ministro de Estado e Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva.
O Governo português anunciou, em Fevereiro, ter reservado 5% dos seus cerca de 30 milhões de vacinas conta a COVID-19 para os países africanos lusófonos e Timor-Leste, apontando para o segundo semestre do ano o envio das primeiras doses.
"Se tudo correr bem, ainda em Maio ou pelo menos em Junho procederemos ao envio de um primeiro lote de vacinas para Cabo Verde", acrescentou.
Santos Silva falava, em Lisboa, numa conferência de imprensa conjunta com o homólogo cabo-verdiano, Rui Figueiredo Soares, que visita pela primeira vez oficialmente Portugal na qualidade de chefe da diplomacia cabo-verdiana.
Adiantando que a quantidade máxima de vacinas a enviar neste primeiro lote ainda está a ser estudada, Santos Silva disse que serão pelo menos 10 mil.
O ministro português anunciou ainda a deslocação, nos próximos dias, a Cabo Verde de uma missão do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) e do Camões - Instituto da Cooperação e da Língua para estudar no terreno "o apoio a ser prestado imediatamente" na administração de vacinas e disponibilização de equipamentos médicos de apoio no combate à pandemia.
"Julgamos justificada esta antecipação e esperamos que seja útil e apoie Cabo Verde neste momento", afirmou Santos Silva.
O chefe da diplomacia portuguesa anunciou também o alargamento "pelo menos até final do ano" da moratória actualmente em vigor sobre o serviço da dívida de Cabo Verde a Portugal.
A dilatação deste prazo deverá, segundo Santos Silva, "dar tempo de ver em conjunto formas de gestão da dívida realistas, exequíveis e que possam ajudar à recuperação económica de Portugal e Cabo Verde".
O ministro dos Negócios Estrangeiros e da Defesa de Cabo Verde, Rui Figueiredo Soares agradeceu o apoio de Portugal na luta contra a pandemia.
"Assistimos pontualmente a um recrudescer da pandemia (...) e agradecemos este gesto solidário. Nestas situações de pandemia, é que acabamos por conhecer a essência das nações", declarou Figueiredo Soares.
O chefe da diplomacia cabo-verdiana sublinhou a disponibilidade de Portugal para "acudir ao momento especial da pandemia em Cabo Verde", não apenas com equipas médicas, mas especialmente na antecipação do envio de vacinas.
"Para Cabo Verde, a vacina é importantíssima para que possamos retomar a economia, essencialmente dependente do turismo, e será fundamental vacinarmos a população para podermos ter melhores condições de vida das pessoas", afirmou.
Rui Figueiredo manifestou também satisfação pelas "intenções" do Governo português relativamente ao alargamento da moratória e da reavaliação da dívida.
"Sabemos que Portugal também vive as suas dificuldades, e uma vez mais registamos esta atitude nobre", frisou.
O Governo português concedeu uma moratória de seis meses sobre os empréstimos directos concedidos a Cabo Verde e a São Tomé e Príncipe, no "quadro das medidas de mitigação dos impactos económicos, sociais e sanitários provocados pela pandemia de COVID-19".
A medida responde ao repto lançado pelo Clube de Paris, entidade criada informalmente em 1956 para apoiar países em dificuldades económicas, e pelo G20, grupo das 20 maiores economias do mundo, “a todos os credores bilaterais oficiais e privados, para uma mobilização mundial no apoio aos países menos desenvolvidos, através da ‘Iniciativa de suspensão do serviço de dívida’".
Cabo Verde defende uma “reconversão” da dívida de 600 milhões de euros a Portugal em “investimentos estratégicos” no arquipélago, em “condições” que sejam “do interesse” de ambos os países.
Cabo Verde, que viveu duas semanas de campanha eleitoral para as legislativas de 18 de Abril, registou nos últimos dias os piores números de infecções e mortes por COVID-19, acumulando desde o início da pandemia 211 mortos e 22.772 infecções pelo novo coronavírus.