Uma sentina “enfeitada” com uma fila enorme de garrafões e baldes, é uma cena corriqueira vista em Salamansa, localidade que dista oito quilómetros do centro da cidade do Mindelo, diariamente, já que ainda a zona piscatória não tem uma rede de distribuição de água canalizada.
Este investimento tem sido negado até hoje, o que leva o presidente da da Associação Comunitária de Desenvolvimento de Salamansa, Edson Gomes, em entrevista à Inforpress, a qualificar o acesso a esse “bem precioso” como uma “grande problemática”.
A única alternativa da comunidade, maioritariamente formada por pessoas carenciadas, é recorrer, segundo a mesma fonte, à compra de garrafões na sentina abastecida por um camião auto-tanque da Câmara Municipal de São Vicente.
“Deus defenda que o camião falhe o abastecimento um ou dois dias, porque a população se vai ressentir muito rapidamente”, explicou Edson Gomes, adiantando que esta solução não satisfaz totalmente às necessidades da população, estimada em cerca de 1.300 habitantes, e que dobra o número quando no Verão recebem os emigrantes residentes na diáspora.
Aliás, conforme a mesma fonte, os emigrantes são os únicos que têm a possibilidade de ter mais disponibilidade de água em casa ao conseguirem encher os tanques de água comprada directamente de camiões auto-tanque, cujo custo, informou, pode chegar até aos seis mil escudos.
Para a população mais carente, sustentou, só resta desenrascar-se com os garrafões, cujos preços variam entre os 15 e os 20 escudos, ou então recorrer a uma nascente situada na zona, cuja água tem uma “alta percentagem de sal”, servindo somente para as limpezas domésticas.
“E depois para uma pessoa carregar nas mãos, ou na cabeça, 20 a 25 litros de água e fazer mais de quatro ou cinco voltas, todos os dias, já se sabe como fica a coluna”, ressaltou Edson Gomes, referindo-se aos perigos colocados à saúde.
Por isso, para ultrapassar esses constrangimentos económicos, sociais e até de saúde, a solução, avançou o presidente da Djimily, seria criar uma rede de abastecimento domiciliário, promessa ouvida em todas as campanhas eleitorais.
“Ainda guardamos a esperança de ser resolvida o mais breve possível”, lançou Edson Gomes.
Entretanto, a carência da comunidade de Salamansa, no que diz respeito às necessidades básicas, não se resume à água, os moradores são obrigados a recorrer a fossas cépticas, por faltar também uma rede de esgoto.
“Precisamos de uma atenção especial nessas duas áreas, principalmente”, exortou Edson Gomes, adiantando que existe, por outro lado, um projecto de turismo solidário, no qual os turistas que chegam à zona, mostram-se perplexos por não existir redes nem de água e nem esgoto canalizados.
Confrontado pela Inforpress com esta situação, o vereador dos pelouros de Ambiente e Saneamento da Câmara Municipal de São Vicente, José Carlos da Luz, admitiu estes constrangimentos, mas garantiu que a questão da água diz respeito à empresa nacional de produção e distribuição de água e electricidade (Electra) e que “a câmara só dá o suporte com o abastecimento das sentinas com auto-tanques, lá onde a empresa não consegue chegar”.
Quanto à rede de esgoto, a mesma fonte considerou ser um “procedimento mais difícil”, uma vez que devido à distância mostra-se impossível fazer a ligação com a rede da cidade do Mindelo, exigindo uma ligação autónoma.
“A câmara sozinha não consegue fazer esse investimento, é preciso que tenhamos ajuda de algum parceiro privado”, explicou, assegurando, por outro lado, que já existe um projecto idealizado com um empreendedor turístico, possível investidor na comunidade, que pretende construir a sua própria Estação de Tratamento de Águas Residuais e toda a estrutura de ligação domiciliária.
Contudo, justificou José Carlos da Luz, ainda não foi possível tirar o projecto do papel.
Mesmo assim, o vereador garantiu que a edilidade tem estado “sempre atenta” às necessidades da zona, tanto para desentupir as fossas sépticas, como também para o abastecimento diário da água.
A Inforpress também contactou a Electra através da assessoria de comunicação para uma reacção, mas não obteve resposta até o fecho da reportagem.