Em conferência de imprensa, o geofísico do INMG, Bruno Faria, informou que na segunda-feira, 30, por volta das 18h20, uma crise sísmica de considerável intensidade iniciou-se na Brava.
“Ontem, por volta das 18 horas e 20 minutos, iniciou-se uma crise sísmica na Ilha Brava, com uma taxa sísmica, ou seja, o número de eventos por unidade de tempo, muito elevada, e também com eventos sísmicos de magnitude relativamente elevada.”
A crise culminou por volta das 21 horas, com um sismo de magnitude 4.8, o mais forte registado em Cabo Verde nos últimos 15 anos. Após esse evento, a crise continuou, com a taxa sísmica intensificando-se e o número de eventos com magnitude elevada aumentando. A situação persistiu durante a madrugada e parte do dia 31.
Entretanto, Faria observou que houve uma diminuição tanto na magnitude quanto na taxa sísmica, embora tenha enfatizado que isso não significa necessariamente que a crise tenha terminado.
O responsável realçou a necessidade de continuar a monitorar a situação nas próximas horas para obter conclusões mais sólidas sobre o desfecho da crise.
“A maioria dos eventos sísmicos concentra-se na zona da Praia de Aguada, aproximadamente a um quilómetro e meio dessa região. O epicentro dos sismos está localizado no mar, a uma profundidade focal de cerca de 5 quilómetros relativamente ao nível médio do mar”, referiu.
Apesar dos danos materiais relatados, como o desabamento de uma casa na Garça e fissuras em casas em Nova Sintra, Faria enfatizou que a profundidade dos epicentros é uma boa notícia, indicando que a causa dos eventos é de origem profunda.
Conforme ressaltou, considerando a magnitude dos sismos subsequentes, os danos poderiam ter sido muito piores.
Ainda na conferência de imprensa, o geofísico discutiu várias hipóteses sobre a origem da crise, incluindo deformações lentas das rochas, mudanças na constante de rigidez devido a gases no interior das rochas e a possibilidade de pressão dos gases causar deslizamentos de rochas.
Mas salientou que uma análise mais aprofundada seria necessária para determinar a explicação mais viável.
No que diz respeito à população em áreas de risco, Faria tranquilizou, afirmando que não há motivo para pânico no momento, mas pediu às pessoas que permaneçam informadas e sigam as instruções das autoridades.
“Neste momento não há motivo nenhum para pânico, nós estamos a observar, e observa-se neste momento que a actividade está a desvanecer, portanto, não há motivos para grandes preocupações”, assegurou.
Governo solidário com Fogo e Brava
Durante o debate parlamentar sobre a situação da Justiça, que decorreu esta terça-feira na Assembleia Nacional, o ministro da Administração Interna manifestou “total solidariedade” às populações das ilhas Fogo e Brava afectadas pelo tremor de terra de magnitude de 4 a 4,5 na escala de Richter e garantiu que “não há motivos para alarme”.
“O Governo tem estado a acompanhar a evolução da situação desde a primeira hora. O Instituto Nacional de Geofísica anunciou a intensidade da magnitude do sismo entre 4 a 4,5 na escala de Richter, mas também anunciou que não há neste momento motivos para alarme”, disse.
O governante reiterou que as autoridades nacionais, nomeadamente o Serviço Nacional de Protecção Civil e Bombeiros e o Serviço Municipal de Protecção Civil da Ilha Brava têm estado em directo a acompanhar a evolução da situação. “Neste momento há uma equipa do Serviço Nacional de Protecção Civil que está a deslocar-se para a Ilha Brava. Os técnicos vulcanologistas estão a acompanhar a actividade sísmica que baixou, embora ainda seja de registar alguma actividade”, declarou.
Um ferido na Brava
Os sismos na Ilha Brava provocaram prejuízos em habitações, um ferido e levou famílias a optar por dormir na rua, segundo informações recolhidas esta terça-feira pela Lusa.
Segundo o dirigente da protecção civil municipal, António Lopes Marcelino, desta vez, “a Brava tremeu mais forte” e houve prejuízos em quatro casas, uma delas provocando um ferido, quando o residente fracturou o braço depois da queda de parte do telhado.
A Ilha Brava registou em Janeiro deste ano, um “ligeiro aumento” da actividade sísmica, disse na altura o geofísico Bruno Faria, que admitiu a continuação da actividade, mas sem motivos para alarme.
*com agências
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1144 de 1 de Novembro de 2023.