“Não é com uma autêntica guerrilha que se resolvem os problemas”

PorAndré Amaral,29 set 2024 8:39

Pedro Barros, PCA da TACV
Pedro Barros, PCA da TACV

Alimentação servida à tripulação da TACV no voo entre São Vicente e Lisboa é o mais recente capítulo da relação tensa entre os pilotos e a administração da empresa.

Um tema mais que tem causado alguma polémica ultimamente tem sido o da alimentação servida à tripulação dos voos da TACV que ligam São Vicente a Lisboa. Recentemente, um voo teve um atraso superior a três horas por o comandante do voo ter recusado dar ordem de embarque devido à alegada falta de qualidade da alimentação.

Em declarações à Inforpress o presidente do Sindicado dos Pilotos da Aviação Civil apelou ao “bom senso” do conselho da administração da Transportes Aéreos de Cabo Verde (TACV) na resolução da situação do serviço de “catering”.

Pedro Barros, PCA da TACV, em entrevista ao Expresso das Ilhas diz que “o que tem estado a acontecer é uma espécie de deslumbramento da presidência do sindicato” e que “não é com uma autêntica guerrilha que se resolvem os problemas”.

Segundo Pedro Barros, “o catering é um não problema”, porque os pilotos que fazem o voo entre São Vicente e Lisboa “tomam um pequeno-almoço, tipo continental, num dos melhores hotéis da ilha e fazem o voo. Bom, é natural que o voo demore 4, 5, ou se calhar 6 horas e, por isso, faz algum sentido que tenham um lanche de produtos não perecíveis, fornecido por empresas que estão habilitadas a isso. E em que consiste? Consiste em amendoim, em iogurte, em salada de fruta, etc., etc. Portanto, tem sido assim. E de repente, passado dois anos, de repente há essa reclamação”.

“Há dois anos que é realizado esse voo de São Vicente a Lisboa e há dois anos que o catering tem sido esse”, reforça.

No caso do voo que saiu de São Vicente com um atraso de três horas, segundo Pedro Barros, o comandante do voo terá pedido para que o voo desviasse para o Sal. “Para fazer o quê? Desvio com descolagem, com atraso, com um gasto de centenas de contos em combustível, em taxas aeroportuárias e todos os outros custos inerentes apenas para irmos buscar meia dúzia de lanches para a tripulação”, relata o PCA da TACV que assegura que “não aceitamos essa condição, porque a empresa tem as fragilidades que tem e, mesmo não tendo, isso não faz o menor sentido”.

O PCA da companhia aérea disse igualmente que já foi alcançado um acordo “para ver se contornamos essa situação” porque, acrescenta, “só temos duas soluções. Ou nos entendemos, quanto a essa questão do catering, ou será descontinuado o voo de São Vicente para Lisboa”.

Segundo o PCA da TACV só há duas empresas certificadas em Cabo Verde para o serviço de catering, “uma na Praia e a outra no Sal”.

Salários

Conselho de Administração e Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil têm estado envolvidos em várias rondas negociais tendo em vista a harmonização das relações entre empregador e pilotos.

Pedro Barros anuncia que já foi realizada “uma reunião mediada pela Inspecção Geral do Trabalho” em que ficaram acordadas uma série de medidas “que vamos tomar de acordo com as reivindicações, designadamente o aumento salarial”.

“Neste momento, o único grupo nos TACV que está a receber o aumento salarial de 2% são os pilotos”, diz Pedro Barros que destaca que os pilotos apresentaram uma queixa dizendo que não receberam esse aumento. “Estão a receber desde o mês de Julho”, garante.

Os salários dos pilotos, aponta o PCA da TACV, representam “em termos financeiros um valor muito apreciável. Representam cerca de 60% da folha salarial, quando eles representam apenas 15% do número de colaboradores. Portanto, nós temos de ver também o peso que as coisas têm e termos que levar isso em consideração nos desafios que nós temos. Temos desafios antigos, temos novos desafios. Se não nos unirmos todos na companhia não conseguiremos fazer essa empresa avançar. O Governo está a fazer o que tem a fazer. O Governo está a fazer uma grande aposta, mas tudo vai depender também do nosso empenhamento”, aponta.

Empresas Low Cost

Pedro Barros abordou também a questão da entrada de empresas aéreas low cost no mercado nacional.

“As low cost têm a ver, essencialmente, com o aumento do turismo que nós precisamos. Existem alguns países em que a população já está um bocado aborrecida com o turismo, mas nós felizmente ainda não chegamos aí. E é o low cost que acaba por trazer os turistas que nós precisamos”.

O desafio, em Cabo Verde, defende, é que o país consiga tirar proveito desse aumento. “A TACV, ou a nova companhia, vai ter que estar em condições de, a partir do Sal, conseguir transportar os turistas que chegam para as outras ilhas, de modo que o turismo também chegue às outras ilhas”.

Sobre uma possível coordenação de horários entre os voos da TACV e das Linhas Aéreas de Cabo Verde, Pedro Barros diz que é uma possibilidade.

“Ainda não sabemos, mas eventualmente terá. Terá porque quanto mais sincronizado estiver, quanto mais houver essa conectividade intermodal, não só com a TACV, mas também com o transporte marítimo, melhor. O ideal era que houvesse aqui uma conectividade com todo o sistema de transporte aéreo, marítimo e até terrestre. Porque seria interessante alguém que chega de viagem, por exemplo, de Lisboa e ter logo um transporte terrestre do aeroporto para o barco que depois segue para o Fogo ou para Maio ou para outras ilhas. Isso é que seria o ideal”.

“Estamos a trabalhar nesse sentido”, conclui. 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1191 de 25 de Setembro de 2024.

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Autoria:André Amaral,29 set 2024 8:39

Editado porJorge Montezinho  em  29 set 2024 22:20

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