​“Burocracia e inacção política impedem início de transplantes renais em Cabo Verde" – médico

PorLourdes Fortes, Rádio Morabeza,3 jun 2025 10:54

O médico português António Norton de Matos lamenta o atraso no início da realização de transplantes renais em Cabo Verde. Segundo o cirurgião vascular, o processo depende agora da criação e publicação da Entidade de Verificação de Admissibilidade (EVA), prevista na lei, responsável por avaliar se a dádiva em vida cumpre os critérios legais, nomeadamente a saúde do dador, a necessidade do receptor e a segurança da colheita.

Posição expressa em declarações exclusivas à Rádio Morabeza, no final de mais uma missão ao Centro de Diálise em São Vicente.

“A lei foi aprovada no ano passado, tudo muito bem, mas é preciso regulamentá-la. Há um aspecto técnico básico e fundamental, que é a criação de uma entidade médica e com psicólogos, de três profissionais, que se chama EVA, que tem, obviamente, de avaliar o candidato a dador de um órgão, que tem de ser completamente voluntário e não pressionado por nenhuma forma de pressão financeira, política, familiar, seja o que for. Quem quer oferecer um rim a um irmão, um pai ou um filho, tem de fazê-lo voluntariamente”, afirma.

Norton de Matos aponta a sobrelotação dos centros de diálise da Praia e do Mindelo e o perfil dos doentes renais, maioritariamente jovens, como variáveis que demonstram a urgência de início do procedimento no arquipélago.

O especialista, que se desloca a Cabo Verde desde 2015 em missões de apoio aos centros de diálise, alerta que "o relógio dos doentes renais anda mais depressa do que o tempo burocrático".

“Um doente transplantado gasta metade do dinheiro que o doente está a fazer diálise. E, mais grave que isso, um doente que está em diálise morre 30% mais depressa do que um doente transplantado. Para não falarmos da qualidade de vida. Um doente transplantado viaja, trabalha, tem uma vida quase normal", sublinha.

“É preciso que quem gere o Ministério da Saúde nos ajude. Avancem com a lei, acabem as obras do bloco (…). Falta só isso, essas discrepâncias burocráticas. É preciso publicar a composição das duas comissões EVA, nas duas ilhas, para andarmos para a frente. Isso é o aspecto mais dramático, neste momento, além das obras. Não entendo, não sou gestor, não sei o que é que se passa. Como é que um pavimento de um bloco, há seis meses que me dizem, ‘isto vai ficar pronto’, ‘em 15 dias fica feito’. Ouvi isto em Janeiro, estamos em Junho”, alerta.

O cirurgião reafirma que, do ponto de vista técnico, estão reunidas as condições para a realização de transplantes renais no arquipélago.

O transplante renal é considerado um tratamento eficaz para pacientes com insuficiência renal crónica, oferecendo uma alternativa viável à diálise e melhorando significativamente a qualidade de vida dos pacientes.



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Autoria:Lourdes Fortes, Rádio Morabeza,3 jun 2025 10:54

Editado porAndre Amaral  em  6 jun 2025 7:20

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