Posição expressa em declarações exclusivas à Rádio Morabeza, no final de mais uma missão ao Centro de Diálise em São Vicente.
“A lei foi aprovada no ano passado, tudo muito bem, mas é preciso regulamentá-la. Há um aspecto técnico básico e fundamental, que é a criação de uma entidade médica e com psicólogos, de três profissionais, que se chama EVA, que tem, obviamente, de avaliar o candidato a dador de um órgão, que tem de ser completamente voluntário e não pressionado por nenhuma forma de pressão financeira, política, familiar, seja o que for. Quem quer oferecer um rim a um irmão, um pai ou um filho, tem de fazê-lo voluntariamente”, afirma.
Norton de Matos aponta a sobrelotação dos centros de diálise da Praia e do Mindelo e o perfil dos doentes renais, maioritariamente jovens, como variáveis que demonstram a urgência de início do procedimento no arquipélago.
O especialista, que se desloca a Cabo Verde desde 2015 em missões de apoio aos centros de diálise, alerta que "o relógio dos doentes renais anda mais depressa do que o tempo burocrático".
“Um doente transplantado gasta metade do dinheiro que o doente está a fazer diálise. E, mais grave que isso, um doente que está em diálise morre 30% mais depressa do que um doente transplantado. Para não falarmos da qualidade de vida. Um doente transplantado viaja, trabalha, tem uma vida quase normal", sublinha.
“É preciso que quem gere o Ministério da Saúde nos ajude. Avancem com a lei, acabem as obras do bloco (…). Falta só isso, essas discrepâncias burocráticas. É preciso publicar a composição das duas comissões EVA, nas duas ilhas, para andarmos para a frente. Isso é o aspecto mais dramático, neste momento, além das obras. Não entendo, não sou gestor, não sei o que é que se passa. Como é que um pavimento de um bloco, há seis meses que me dizem, ‘isto vai ficar pronto’, ‘em 15 dias fica feito’. Ouvi isto em Janeiro, estamos em Junho”, alerta.
O cirurgião reafirma que, do ponto de vista técnico, estão reunidas as condições para a realização de transplantes renais no arquipélago.
O transplante renal é considerado um tratamento eficaz para pacientes com insuficiência renal crónica, oferecendo uma alternativa viável à diálise e melhorando significativamente a qualidade de vida dos pacientes.