Ano Agrícola 2025: Agricultores enfrentam desafios, mas mantêm a esperança

PorAnilza Rocha - Estagiária,10 ago 2025 9:22

Apesar das previsões para 2025 indicarem chuvas abaixo da média e início tardio da estação, agricultores de Santiago, Santo Antão e Fogo mantêm a esperança. Com as primeiras chuvas já a caírem em algumas zonas, muitos começaram a semear, apesar das dificuldades causadas pela escassez de mão-de-obra, sementes e acesso à água.

Em Santa Cruz, os agricultores já iniciaram os preparativos para a campanha, mas o cenário é de incerteza. A escassez de mão-de-obra, provocada sobretudo pela emigração, e a falta de sementes comprometem a produção num dos principais polos agrícolas de Santiago.

O alerta é do presidente da Associação dos Agricultores, Cesário Varela, que prevê um ano particularmente difícil. “Santa Cruz está prejudicada este ano, do ponto de vista da prática agrícola”, afirmou.

Segundo Varela, a emigração forçada reduziu a força de trabalho. “Muitas pessoas deixaram a agricultura para procurar melhores oportunidades fora do país. Hoje, encontrar mão-de-obra é difícil e caro. Estamos a pagar quase três vezes mais do que há quatro ou cinco anos”, explicou. Um dia de trabalho pode custar até 2.000 escudos no sequeiro e 1.500 no regadio.

Outro problema é a escassez de sementes. “O Governo deve intervir, através da Delegação do Ministério da Agricultura, disponibilizando sementes em quantidade e qualidade suficientes, sobretudo na agricultura de sequeiro, que hoje é pouco rentável”, sublinhou.

Varela defende a distribuição de sementes adaptadas, como milho, feijão, batata-doce, mandioca e banana, e o reforço da assistência técnica. Lamenta também a falta de ações concretas para mobilização de água. “Santa Cruz continua na cauda do desenvolvimento. Temos potencial para ser o celeiro do país. Mas é fundamental a disponibilização de água”, frisou.

Já Vanderley Rocha, da Associação de Agricultores de Ribeira da Cruz (Santo Antão), afirma que, apesar de trabalhar com regadio, há forte expectativa em relação à nova campanha, mesmo com chuvas cada vez mais incertas. “A precipitação é crucial, não só para as culturas, mas para recarregar nascentes e furos, cujos níveis têm vindo a baixar. Alguns furos já entraram em falência”, alertou.

Na ilha do Fogo, em Achada Grande (Mosteiros), os agricultores também se preparam, apesar das incertezas quanto à chuva e mão-de-obra. “Estou à espera da chuva para começar o cultivo. Acredito que a agricultura é um dom de Deus e temos de confiar no que encontramos no campo”, disse um produtor local.

A escassez de trabalhadores é um desafio. “Pagamos cerca de 1.500 escudos pela mão-de-obra, mas agora há quem pague até 2.500 para garantir o serviço”, revelou. Muitos usam sementes guardadas do ano anterior. “Poucas pessoas recebem apoio técnico e, no campo, quase nada se concretiza”, lamentou.

Em Laranjeira, zona de Picos, Euclides Lopes já semeou milho e vê com otimismo os primeiros sinais. “Disseram das previsões de chuva, mas estou esperançoso, porque são apenas previsões e Deus é quem realmente sabe”, afirma. Conta com apoio familiar. Até agora, não recebeu apoio oficial, mas considera essa ajuda essencial.

Em Djeu-Cabeça Carreira (Santa Catarina), Edna Sofia relata que o início do ano agrícola tem sido cansativo devido à limpeza dos terrenos e falta de trabalhadores. Ainda assim, a fé permanece: “A minha avó tem esperança em Deus para que possamos ter um bom ano agrícola.”

Na localidade vizinha de Fonteana, alguns agricultores já iniciaram o plantio. “Semeamos um pouco de tudo: milho, feijão, congo, bongolon”, diz Edna, destacando a diversidade das culturas da região.

Em Praia Formosa (São Domingos), o agricultor Manuel do Carmo, de 81 anos, também se mostra esperançoso. “Tenho esperança de que o ano agrícola corra bem. Apesar de dizerem que a chuva pode vir fraca, acredito que tudo está nas mãos de Deus”, declarou. Liga a esperança às datas dos Santos Populares: “Desejo que, para as festividades de Santo António, São João e São Pedro, caia chuva, porque são datas importantes para nós e para a lavoura.”

Manuel também alerta para o risco de pragas: “Precisamos de apoio das autoridades, sobretudo no combate às pragas, para não estragarem todo o trabalho feito.” Entre as culturas mais comuns estão milho, feijão, congo, sapatilha e o “bongolon”.

Medidas e previsão

No dia 7 de Julho, o Ministério da Agricultura e Ambiente, em parceria com o INMG e a ANAS, apresentou a previsão sazonal para 2025: chuvas próximas da média, com tendência para valores abaixo do normal e início tardio. Esperam-se longos períodos secos e fenómenos extremos.

Como medidas de mitigação, as autoridades anunciaram reforço na dessalinização, abertura de furos e maior monitorização dos recursos hídricos, com controlo da ANAS.

Investimento

O anúncio de um investimento de 44,5 milhões de escudos para apoiar a campanha de sequeiro 2025-2026 foi feito pela Diretora-Geral da Agricultura e pela presidente do INIDA, durante a conferência de imprensa realizada a 8 de julho pelo Ministério da Agricultura e Ambiente.

O plano inclui a disponibilização de sementes subsidiadas, estacas de mandioca e batata-doce, espécies florestais e reforço da assistência técnica em todos os concelhos. Foram também mobilizadas equipas técnicas, produtos fitossanitários biológicos, equipamentos e mais de 300 aplicadores formados para atuar no controlo de pragas como o gafanhoto e a lagarta-do-cartucho.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1236 de 6 de Agosto de 2025.

Concorda? Discorda? Dê-nos a sua opinião. Comente ou partilhe este artigo.

Autoria:Anilza Rocha - Estagiária,10 ago 2025 9:22

Editado porAndre Amaral  em  11 ago 2025 12:19

pub.
pub
pub.

Últimas no site

    Últimas na secção

      Populares na secção

        Populares no site

          pub.