Segundo o INMG, caíram mais de 192,3 milímetros de precipitação, devido à passagem de uma onda tropical que se intensificou num centro de baixa pressão sobre o Barlavento Ocidental. As previsões indicam a continuação de chuva de intensidade variável em todas as ilhas durante a manhã e início da tarde de hoje.
A instabilidade atmosférica foi provocada por um sistema de baixa pressão de 1006 hPa, que passou sobre São Nicolau, São Vicente e Santo Antão, deslocando-se agora para Oeste e afastando-se gradualmente do arquipélago, embora Cabo Verde permaneça sob a sua influência.
Em declarações ao Expresso das Ilhas, e questionada sobre a ausência de um alerta atempado, a presidente do INMG, Ester Brito, esclareceu: “Não é que não foi emitido alerta. A previsão foi feita. Previa-se a ocorrência de chuva, a ocorrência de trovoada, toda essa situação foi prevista. Só que nós não podemos prever a intensidade da chuva. O INMG ainda não tem, podemos dizer, o equipamento — um radar — que permite não só visualizar, mas também estimar a quantidade de água precipitável. Essa parte ainda não podemos fazer.”
E terá sido esse facto que impediu a Protecção Civil de emitir um alerta.
“Nós, enquanto Serviço Nacional de Protecção Civil e Bombeiros, dependemos dos dados do Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica. É com base nesses dados que, após análise, fazemos o devido alerta ou a devida articulação com as autoridades municipais”, afirmou, por sua vez, Domingos Tavares, Presidente do Serviço Nacional de Protecção Civil e Bombeiros.
O dito por não dito
Horas depois, o INMG, em comunicado, mudava o tom. Afinal, o radar, embora seja “uma boa ferramenta de apoio às previsões e informações meteorológicas de curto prazo”, não é, no contexto de Cabo Verde, um equipamento cuja utilização “se justifica, plenamente”.
“Para além de que o equipamento em si é extremamente caro, são também elevados os custos e as exigências de pessoal especializado para a sua operação e manutenção. Ademais, teria pouco uso, já que o período de chuvas dura de 2 a 4 meses. De acrescentar ainda que, dada a nossa geografia, seriam necessários pelo menos 3 radares”, acrescentava o comunicado.
Cidadãos meteorologistas
A verdade é que, desde sábado, pelo menos, circulavam nas redes sociais vários alertas para a possibilidade de fortes chuvas no país.
Sites e aplicações ao alcance de qualquer pessoa, como o Windy e o Ventusky, apresentavam dados nesse sentido.
Estes dois sites funcionam como interfaces de visualização de dados produzidos por alguns dos principais modelos preditivos numéricos. Apesar de muitos utilizadores acreditarem que estas plataformas geram as suas próprias previsões, na realidade baseiam-se em informações fornecidas por centros meteorológicos internacionais, transformando-as em mapas e gráficos interactivos de fácil interpretação.
Entre os modelos utilizados destacam-se: o ECMWF (Centro Europeu para Previsões Meteorológicas de Médio Prazo), considerado por muitos meteorologistas o mais preciso nas previsões a médio prazo; o GFS (Global Forecast System), operado pelos Estados Unidos e com actualizações frequentes; o ICON, desenvolvido pelo serviço meteorológico alemão; e o HRRR, um modelo norte-americano de alta resolução, útil para previsões de curto prazo.
Tanto o Windy como o Ventusky permitem ao utilizador seleccionar o modelo que deseja visualizar, comparando diferentes projecções para a mesma data e hora. A animação das condições atmosféricas — incluindo vento, precipitação, temperatura e pressão — oferece uma compreensão rápida e intuitiva das previsões, tornando estas plataformas ferramentas úteis não só para curiosos, mas também para navegadores, pilotos, pescadores e profissionais ligados à meteorologia.
“Esses modelos não dão quantidade; dão mais ou menos uma ideia de que vai haver uma situação que pode originar chuva com alguma intensidade”, explicou Ester Brito.
A previsão do INMG indicava que esta tempestade não estaria “acompanhada de vento” e “não era uma depressão tropical” e que, pelas informações disponíveis, “seria apenas chuva com trovoada, sem vento”, concluiu.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1237 de 13 de Agosto de 2025.