Cabo Verde quer consolidar-se como um centro de desenvolvimento de competências na economia azul. A meta é do Primeiro-Ministro, Ulisses Correia e Silva, estabelecida esta segunda-feira, na abertura da Ocean Week 2025, em São Vicente.
A estratégia governamental passa pelo ensino superior, mas também pela formação técnico-profissional e por projectos de investigação e desenvolvimento integrados no Campus do Mar.
“É fundamental formarmos profissionais, investirmos em investigação e integrarmos conhecimento técnico, para que o país se destaque no sector marítimo e reforce competências que, em São Vicente, têm já uma tradição muito forte”, explica.
Associado a este impulso, Correia e Silva sublinha a importância de se criarem condições para reforçar o tecido económico.
“Há infra-estruturas que, necessariamente, integram parcerias público-privadas ou investimento público, mas a finalidade é fazer a economia funcionar – empreendimentos, empreendedores, negócios. Aproveitar a infra-estrutura para servir de plataforma e alavancar o investimento privado”, diz.
A oitava edição da Ocean Week realiza-se quase três meses após a passagem da tempestade Erin pelas ilhas mais a norte. O mau tempo causou nove vítimas mortais, deixou duas pessoas desaparecidas e provocou danos materiais significativos. O Primeiro-Ministro recorda a tragédia e destaca a importância da sustentabilidade ambiental.
“A economia azul vai além do crescimento económico: envolve a preservação dos ecossistemas, a protecção da biodiversidade e a resiliência das nossas comunidades costeiras (...). Fenómenos como o Erin tendem a acontecer com maior frequência e, por vezes, com efeitos muito graves”, lembra.
Para o economista belga Gunter Pauli, autor do livro The Blue Economy, a aposta de Cabo Verde no desenvolvimento da economia azul deve centrar-se nos “sectores de muito alto crescimento”.
“Quero convidar Cabo Verde a focar-se nos sectores de muito alto crescimento. E o sector principal hoje é o da comunicação. Precisamos de mais enfoque na comunicação, porque, se não há Wi-Fi, GPS, telefone ou fibra óptica, não há economia. É no mar – 740 mil quilómetros quadrados – que não há comunicação, e isso é um sector crítico para posicionar o país entre África, Europa e Estados Unidos”, afirmou.
O especialista, nestes dias no Mindelo, assinala tecnologias inovadoras de comunicação subaquática e sistemas de rádio AM, que permitem internet e streaming sem recurso a satélites – soluções que considera viáveis para o arquipélago.
Paralelamente, o consultor propõe uma abordagem descentralizada da economia azul: cada ilha deve ter uma estratégia própria, adaptada às suas potencialidades. A diversidade pode fortalecer o arquipélago.
“Como autor da economia azul, penso que Cabo Verde precisa de uma estratégia para cada ilha, e não para o país. O país já identificou a economia azul, mas o plano de acção será diferente em cada território. E isso é muito importante”, refere.
Nesta matéria, Gunter Pauli cita exemplos internacionais de sucesso, como El Hierro, nas Canárias, que conseguiu duplicar os rendimentos locais sem depender do turismo massificado. Para o economista, eventos como a Ocean Week são essenciais para promover inovação e empreendedorismo.
“A conferência deve ser uma plataforma para transformar estas ideias em projectos concretos”, conclui.
O Oceano nas suas muitas dimensões
A programação da oitava CVOW prossegue esta quarta-feira, a partir das 09h00, com a conferência iniciada ontem, tendo como palco o Terminal de Cruzeiros. Ao longo do dia decorrerão três painéis: o primeiro sobre “cooperação nacional e internacional para a protecção justa dos recursos marinhos”.
A primeira metade da tarde será dedicada à pesca sustentável, em particular às “metodologias e desafios na avaliação de stocks pesqueiros”. O dia terminará, às 16h00, com uma Blue Talk sobre “turismo marítimo costeiro sustentável e inclusivo”.
A conferência da CVOW terá seguimento na quinta-feira, a partir das 09h00, com um painel sobre a transformação das cadeias de valor aquáticas em pequenos Estados insulares em desenvolvimento (SIDS). Ainda durante a manhã, falar-se-á de “aquacultura como uma actividade emergente em Cabo Verde e na África Ocidental”.
A tarde será preenchida com dois painéis: o primeiro, às 14h30, liderado pela Associação de Armadores de Pesca de Cabo Verde (APESC); o segundo, sobre “o mar como fonte de energias limpas, comunicação, segurança marítima e cooperação entre Estados”.
O último dia da Ocean Week, 7 de Novembro, será dedicado à Ocean Summit, com abertura oficial às 09h00. Haverá apresentação de projectos e foco na literacia dos oceanos. O Secretário de Estado do Mar de Portugal, Salvador Malheiro, será o keynote speaker do evento.
Para lá da programação principal, até sexta-feira, vários eventos paralelos decorrerão sob a égide da CVOW 2025. Esta quarta-feira terá lugar uma reunião de Ministros do Mar da CPLP.
*com Lourdes Fortes
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1249 de 05 de Novembro de 2025.
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