Uma fonte do Partido Africano da Independência de Cabo Verde disse à Inforpress que esta reunião da CPN é alargada aos deputados eleitos nas listas deste partido, porque, de acordo com a mesma, o que se quer é o “diálogo para um bom entendimento”.
A decisão da convocatória de uma reunião alargada da CPN saiu de um encontro realizado no passado dia 31 de Outubro, que repudiou a viabilização, com o apoio de alguns deputados nacionais deste partido, da proposta de lei de regionalização apresentada pelo Governo.
A Comissão Política Nacional, em comunicado de imprensa, lembrou que começou a trabalhar na sua proposta em Junho de 2016 e que em Junho de 2017 submeteu ao Conselho Nacional as linhas gerais da mesma, para a sua validação pelos conselheiros.
O comunicado tem suscitado várias reacções por parte de eminentes figuras do PAICV, como Felisberto Vieira (Filú), Júlio Correia e José Maria Veiga, o que já levou o antigo líder deste partido e antigo primeiro-ministro, José Maria Neves, através também das redes sociais, a apelar ao diálogo e a um “debate sereno” no seio dos deputados do partido.
Para Neves, a política não é só competição, é também “diálogo e cooperação”.
“Há quem tente, por manifesta imaturidade, impor o seu “excesso de razão”, acabando por gerar extremismos, incompreensões e conflitos institucionais e interpessoais corrosivos”, diz José Maria Neves, acrescentando que a “intolerância mútua e a tentativa de eliminação do outro é meio caminho para a destruição de todos”.
Cabo Verde, escreve o antigo presidente do PAICV, espera dos seus políticos e governantes um “debate sereno e construtivo de ideias, num ambiente de liberdade, democracia, tolerância e fraternidade”.
Para o deputado do PAICV José Maria Veiga, “apercebe-se claramente que a intolerância tomou conta” deste partido, em que a “democracia e a intolerância desenvolvem-se em sentido oposto”.
Na perspectiva deste parlamentar, a CPN do PAICV “julga e criminaliza” na praça pública os deputados que manifestaram, em consciência, a sua liberdade aquando da votação da Lei da Regionalização.
Veiga considera “incendiário” o ‘post’ do Rui Semedo, vice-presidente do PAICV e líder do Grupo Parlamentar.
No dia 26 de Outubro, depois da votação da Lei da Regionalização, Semedo publicou um ‘post’ na sua conta do Facebook no qual manifestou o seu desagrado em relação a alguns deputados da sua bancada que votaram a proposta do diploma com o Movimento para a Democracia (MpD), enquanto outros abandonaram a sala de sessões no momento da votação.
“Uma parte dos deputados decidiu não seguir a vontade do grupo fragilizando a capacidade negocial do PAICV, desvalorizando, por esta via, as nossas propostas e pondo em causa qualquer tipo de diligências no sentido de construção de entendimentos”, conclui Rui Semedo.
Por sua vez, Felisberto Vieira, manifestando o seu desacordo, afirma que votar em total liberdade é a “essência do regime democrático cabo-verdiano”.
“Criminalizar a consciência, a expressão e o voto é perverso e antidemocrático. Eu não o subscreverei em nenhuma circunstância”, sublinhou o deputado.
Reagindo também ao comunicado da CPN, Júlio Correia que, à semelhança de José Maria Veiga e Felisberto Vieira, não pertence a este órgão do PAICV, usou também as redes sociais para falar de “perseguição aos deputados” que votaram a favor do diploma.
Acusa, ainda, a CPN de “faltar gritantemente com a verdade quando induz ter havido a construção da vontade do Grupo Parlamentar pela abstenção em relação ao sentido do voto”.
“Na verdade, houve deputados que, mesmo na reunião prévia a poucas horas do voto, declararam a sua liberdade do voto e aqueles que defenderam que, em matérias fracturantes, o Grupo deveria pautar pela liberdade do voto, isto é o voto em consciência”, comenta Correia.
Entretanto, as declarações dos deputados que pertencem ao chamado Grupo de Reflexão no seio do PAICV não deixaram indiferentes os militantes do partido da estrela negra, tendo-se registo alguns insultos e trocas de palavras pouco amigáveis entre os “camaradas” de outrora.