"Eu acho que devem resolver o problema do emprego: nós não temos nada com que nos ocupar e há muitas 'guerras', por todo o lado", conta à Lusa Márcio Monteiro, 19 anos, sentado no bairro da Ponta D’Água com amigos, "controlando a zona" e fazendo alusão à pequena criminalidade nalgumas ruas.
Para ele, a solução está em criar oportunidades de trabalho. "Muitas coisas precisam de mudar ou, então, isto vai piorar. Haverá mais guerras, crimes, mortes e `cassubody´", expressão criada a partir do inglês 'cash or body', dinheiro ou a vida.
Márcio encara a vida social no seu bairro de uma forma dura: "ou me matas ou eu te mato. Por isso, se tivéssemos algo para nos ocupar, seria bom. Porque quando nos juntamos, sempre dá algo errado".
No mesmo sentido, quando questionado sobre quais devem ser as prioridades dos candidatos, Malam Djaura, imigrante da Guiné-Bissau, há 14 anos em Cabo Verde, acredita que o emprego é a chave para tudo o resto. "Quem trabalha, mesmo que ganhe pouco, não pensa em roubar ou fazer mal aos outros", aponta.
Carlene Andrade, 24 anos, comerciante, indica também para a necessidade urgente de combate à criminalidade.
"Muitos dos problemas vêm dos jovens que estão nas ruas, sem nada para fazer. Isso afecta directamente a vida de todos nós", afirma, enquanto lida com um indivíduo embriagado dentro no seu estabelecimento comercial.
Para ela, as autarquias têm de ter um papel activo ao nível da educação e criação de oportunidades de trabalho.
Outra eleitora, Elisângela de Pina, defende maior vigilância policial nas comunidades, especialmente para conter a violência juvenil, enquanto Sérgio Veiga sugere que "problemas como alcoolismo, drogas, vandalismo, abandono escolar, prostituição, exigem acções conjuntas entre as autarquias e os governos". "Uma câmara tem a sua parte", por exemplo, para promover "associações que comecem a funcionar no seio das comunidades", diz.
A falta de habitação condigna é outra das principais preocupações que moradores em zonas mais vulneráveis querem ver discutida na campanha para as eleições de 01 de Dezembro.
Auta Querido, 65 anos, relata as condições precárias em que vivem muitas famílias: "É preciso apoiar as pessoas mais necessitadas, são as que às vezes não acendem o fogão, porque não têm nada para cozinhar. Eu tento ajudar, mas nem sempre consigo".
Para ela, o apoio social com as designadas "cestas básicas" é uma forma de mitigar o sofrimento dos que não têm "um bocado para comer" e acabam por sofrer de anemia e outras doenças. "Há os que têm o tecto a cair, estão a correr um risco", acrescenta.
Enquanto isso, Cíntia Moniz, de 29 anos, licenciada à espera de emprego, também faz um apelo a todos os candidatos do país: "é preciso abrigar pessoas que precisam de uma casa, principalmente na época das chuvas", de Julho a Outubro.
Esta eleitora propõe a reutilização de edifícios públicos abandonados como forma de garantir um lar para os que mais precisam.
A questão da água potável também está na lista das necessidades básicas que ainda não são garantidas de forma contínua em várias zonas.
Cerca de 352 mil eleitores estão inscritos para as eleições autárquicas de 01 de Dezembro, nos 22 municípios do país, sensivelmente mais dez mil que nas últimas eleições, as Presidenciais de 17 de Outubro de 2021.
A Praia é o maior município, concentrando um quarto dos eleitores.
Nas oitavas e últimas eleições municipais, a 25 de Outubro de 2020, em plena pandemia da covid-19, o MpD ganhou em 14 câmaras, enquanto o PAICV venceu em oito.