O estudo, segundo Artur Marçal, foi feito com o objectivo de saber qual o volume de negócios da URDI e o seu peso na economia da ilha de São Vicente. “O estudo mostra que há um grande volume de negócios envolvendo a feira”.
“São Vicente recebe o artista que actua e que participa no evento, os hotéis e restaurantes ganham com as pessoas que vêm de fora. Tudo isso dinamiza a economia e o artesão é o principal activo desta feira, porque a população de São Vicente e de Cabo Verde ficam à espera e preparam-se para esta altura porque sabem que tem a URDI e contam com o evento para comercializar os seus produtos”, indica.
Por outro lado, explica que não se pode ver a URDI exclusivamente do ponto de vista comercial, “mais do que a parte comercial são os contactos que se estabelecem entre os artesãos e todo o emaranhado ligado ao sector do artesanato e do turismo”.
“Temos vários exemplos de empresas que fazem contactos com os artesãos e artistas para fazer encomendas de produtos comercializados em outras ilhas. Tudo isso é ganho para a ilha de São Vicente e para Cabo Verde”, realça.
8ª Edição da URDI
A 8ª edição da URDI – Feira do Artesanato e Design de Cabo Verde, que acontece a 29 deste mês e vai até 3 de Dezembro, leva centenas de pessoas à ilha de São Vicente. Este ano, a URDI tem como lema “Emigração na poética das ilhas” e propõe reflectir sobre a nossa condição de ilhéu atlântico.
Uma das novidades da URDI deste ano é a exposição 6.1, enquadrada no “Salão created in Cabo Verde”, que vai acontecer na Rua de Lisboa.
“O que propomos é que em vez de apresentar as peças num único espaço tradicional, queremos levar as peças do concurso de design dos anos anteriores para as diversas montras, na Rua de Lisboa. É uma forma de atrair mais público e dar maior dignidade ao projecto”, destacou o diretor do CNAD.
A outra novidade é a exposição do artista cabo-verdiano Irineu Rocha, que vai estar patente na Gare Marítima. “Este ano descentralizamos, pois, normalmente as actividades decorrem no CNAD, na Praça Amílcar Cabral e no Centro Cultural do Mindelo, e este ano vamos para a Rua de Lisboa e ainda para a Gare Marítima”.
Em termos de produção da URDI, sublinhou que estão à espera do dia do evento para iniciar as actividades. “Temos em média 120 participantes. A programação está fechada, vamos ter um concerto de abertura na comunidade de Salamansa, com um grupo de batucada de Salamansa”.
Conforme frisou, a ideia é levar a URDI à Salamansa para permitir que os artistas e criadores daquela comunidade possam mostrar a sua arte. “No ano passado foi em Chã de Alecrim e este ano será em Salamansa, que também é uma zona de São Vicente com uma forte tradição ligada à emigração”.
A abertura do evento contará com a actuação do artista Zé Viola, da ilha de Santiago, discurso de abertura do CNAD, da Câmara Municipal de São Vicente e dos municípios convidados. O acto será presidido pelo Ministro da Cultura e das Indústrias Criativas.
Conforme referiu, a URDI não se esgota na feira. No momento está a acontecer o projecto URDI Júnior, a decorrer na escola Técnica com três turmas das artes gráficas dessa escola.
“O projecto da residência já vem de há muito tempo, em que se promove as residências criativas. Cada ano trabalha-se com uma técnica nova. No ano passado trabalhamos com a late e este ano estamos a trabalhar com o batik. Esta é a primeira vez que teremos um artista senegalês a fazer parte da residência criativa da URDI”, destacou.
Municípios em destaque
Este ano os municípios em destaque são Tarrafal de São Nicolau e São Filipe, Fogo. Para Artur Marçal, isso significa que esses municípios são convocados com oportunidade para mostrar aquilo que de melhor fazem no domínio da criação nos seus municípios.
Artur Marçal conta que são dois municípios com tradições muito fortes e conhecidos em Cabo Verde. “O Tarrafal de São Nicolau é o município da “Morna Sodade”, do atum, com um colá San Jon diferente, não só no ritmo, mas também no próprio dançar, tem uma forte tradição na emigração, sobretudo das mulheres para Itália. Para além de farinha de pau e de peixe, este município propõem trazer todo o seu manancial cultural para a URDI”, aponta.
“O mesmo, relativamente ao município de São Filipe. Vamos tirar a bandeira de São Filipe para a trazer para o Mindelo para a feira da URDI”, acrescenta.
Além disso, nesta edição vai-se fazer o lançamento do o catálogo das exposições na CNAD. “No fundo, o papel do CNAD é a internacionalização da arte e da cultura cabo-verdiana”.
“Vamos aproveitar para lançar os livros das grandes conversas, as conversas e os debates não se esgotam no Centro Cultural do Mindelo, a partir do momento que publicamos em livro estas comunicações, tornam-se instrumento e material de investigação, mas também permite que as grandes conversas sejam continuadas noutras dimensões e latitudes”, revela o diretor do CNAD.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1147 de 22 de Novembro de 2023.