O livro resulta da tese de doutoramento do autor, intitulada: «Valor Simbólico do Centro Histórico da Cidade da Praia – Cabo Verde», defendida em 2008 na Universidade Portucalense «Infante D. Henrique» do Porto.
Conforme explicou Lourenço Gomes ao Expresso das Ilhas, Urbe, Memória e Crítica da Arte é umlivro técnico destinado particularmente a quem investiga temas relacionados com a história da arte, (em especial a história da arquitectura, neste caso focado na realidade cabo-verdiana) e património cultural.
“Por isso interessa em primeiro lugar a professores e estudantes de história bem como da arquitectura e urbanismo. Mas, como o livro traz muitas curiosidades relacionadas com percursos construtivos das edificações, interessa também a engenheiros civis. As descrições históricas evidenciam contextos diversos: religiosos, militares, sócio-urbanos e outros, acabando por interessar a um público mais vasto”, explana o autor.
Lugares de Memória
Os lugares de memória abordados no livro centram-se em primeiro lugar na zona costeira ou litorânea do Centro Histórico da Praia que apresenta os registos físicos das instalações de apoio à actividade portuária, a começar pelos antigos portos, (1858), trazendo o percurso construtivo, tempo de vida e funcionalidades dos mesmos portos bem como um exemplo do movimento de navios; a antiga alfândega; o Farol D. Maria Pia, na Ponta Temerosa, inaugurado em 1881, o que estimulou o autor a fazer referências sobre outros faróis espalhados por Cabo Verde.
O livro foca, num só capítulo, dois importantes lugares memória no Centro Histórico da Praia: os antigos largos da Igreja e da Bateria, já desaparecidos no seu ordenamento urbano primitivo.
Os dois eixos urbanos são descritos e analisados no livro, destacando-se a sua funcionalidade e decoração. “Sobretudo, neste particular, a gramática decorativa do antigo Largo da Igreja, em frente ao palácio dos Governadores. Foi no antigo largo da Bateria que foi construída a fortificação para a defesa da Vila da Praia ainda exibida nesse largo. Na sua envolvência não passou despercebida a obra de arte arquitectónica que representa um «neomanuelino» em Cabo Verde e que é o quartel militar, construído a partir de 1822, como Quartel e Batalhão da Companhia de Caçadores, nº 1 – Cidade da Praia, que nos remeteu ao estabelecimento militar que viria a emergir na ilha de São Vicente como Quartel da Segunda Companhia de Caçadores”, detalha.
O último capítulo apresenta de forma mais explícita variados lugares de memória espalhadas pelas ilhas, realçando-se o simbolismo da localização de construções representativas do poder nos principais largos e praças em Cabo Verde.
O Centro Histórico da Praia
Questionado por que motivo o Centro Histórico da Praia merece lugar de destaque no livro, o historiador e especialista em História da Arte e Património Cultural, explicou que o Centro Histórico da Praia foi o tema de sua tese de doutoramento em História da Arte, em que procurou pôr em evidência valores artísticos relacionados com obras de arte, inscritas nas disciplinas do urbanismo, da arquitectura, da escultura e da pintura.
“Nestas duas últimas disciplinas das belas artes, pôde-se mostrar no Centro Histórico da Praia aquilo que o senso comum não capta. Ou seja, primeiro, um urbanismo de matriz portuguesa, revelando uma ordem funcional na urbe. Harmonizam-se as presenças de obras arquitectónicas representativas dos poderes (civil e religioso), mas também se confrontam edificações residenciais da elite local (casas senhoriais), com habitações mais simples da população em geral: as casas tradicionais”, expôs.
O Autor
O professor universitário Lourenço Gomes é Historiador, com especialização em História da Arte e Património Cultural. Tem dedicado grande parte da sua actividade académica na investigação científica, ora participando como investigador associado a centros de investigação (nacionais e estrangeiros), ora contribuindo na dinamização de unidades e projectos de pesquisa. Publicou três livros da sua autoria: Ribeira Brava: A Urbe, História e Crítica das suas Obras de Arte (2014); Monumentos: História e Interpretação (2021) e a presente obra ora reeditada. Participou ainda na publicação de mais cinco livros de co-autoria (entre 2011 e 2022) além da elaboração de diversos artigos científicos em revistas de especialidade e actas de congressos científicos.