Com uma nova capa que evoca a figura de Iemanjá, símbolo feminino ligado ao mar, esta edição marca também o reconhecimento internacional da obra, já apresentada na universidade brasileira, onde, segundo a autora, foi “muito bem recebida”.
O lançamento em Cabo Verde acontece no mesmo evento em que será apresentado o livro de actas do VI Encontro Internacional da Poesia de Macaronésia ((EIPOEMA),ocorrido na Cidade da Praia, em Novembro de 2023.
“Aproveitamos essa circunstância para lançar também nesta mesma cerimónia esta segunda edição do meu livro “A Vénus Crioula”, explica Vera Duarte em entrevista ao Expresso das Ilhas.
O Romance
“A Vénus Crioula” é um romance que mergulha na história marítima cabo-verdiana, tendo como ponto de partida o naufrágio de um barco que parte da Ilha Brava rumo a New Bedford, nos Estados Unidos. A narrativa percorre temas centrais da vivência cabo-verdiana no século XX e início do século XXI, como a imigração, a diáspora, o racismo, o regresso às origens e os laços familiares.
A protagonista é uma cantora cabo-verdiana, figura inspirada em mulheres marcantes da música tradicional como Cesária Évora. “O livro é dedicado às mulheres cantoras”, sublinha a autora, que convidou a cantora Teté Alhinho para apresentar a obra.
“Obviamente que o livro não se limita a isso. Fala de muitas realidades, traz temas como o racismo, imigração, regresso, aspectos de voluntariado e aspectos de relacionamento entre as pessoas, enfim, traz muita coisa”, explica.
Para além da narrativa envolvente e dos temas sociais, “A Vénus Crioula” apresenta uma simbologia rica que atravessa culturas atlânticas. A capa da nova edição, com a imagem de Iemanjá, fortalece o elo entre a identidade cabo-verdiana e a espiritualidade afro-brasileira. “Tanto a Nossa Senhora da Luz como a Iemanjá”, afirma Vera Duarte, natural da freguesia de Nossa Senhora da Luz, ilha de São Vicente.
A nova edição do romance confirma o percurso literário sólido de Vera Duarte, que tem conciliado a carreira na escrita com o activismo cultural e político. Com esta obra, a autora volta a destacar-se na cena literária lusófona, dando voz às memórias, lutas e esperanças de um povo entre continentes.
Desde a sua estreia, em 1993, com o livro de poesia Amanhã Amadrugada, a autora publicou obras como O Arquipélago da Paixão, Preces e Súplicas ou os Cânticos da Desesperança, Exercícios Poéticos, A Candidata, Construindo a Utopia e De Risos e Lágrimas.
Autora de dois romances — A Candidata, distinguido com o Prémio Sonangol de Literatura, e Matriarca – Uma História de Mestiçagens (2017) —, Vera Duarte é também uma activista dos direitos humanos, tendo recebido o Prémio Norte-Sul do Conselho da Europa em 1995. Em 2001, foi galardoada com o Prix Tchicaya U Tam’si de Poésie Africaine.
Vera Duarte, ex-presidente da Academia Cabo-verdiana de Letras e membro da Academia de Ciências de Lisboa, é uma das autoras distinguidas com o Prémio Literário Guerra Junqueiro Lusofonia em 2021.
Livro “A Festa nas Ilhas da Morabeza”
Na mesma cerimónia, será apresentado o livro A Festa nas Ilhas da Morabeza, compilação das comunicações do VI Encontro Internacional da Poesia de Macaronésia, organizado pela Academia Cabo-verdiana de Letras. O volume reúne reflexões de poetas dos arquipélagos atlânticos e será apresentado pelos escritores e jornalistas Daniel Medina e Margarida Fontes.
De referir que o VII Encontro Internacional da Poesia da Macaronésia teve lugar em 2024, na ilha de São Miguel, Açores, dando continuidade a este espaço insular de encontro literário.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1226 de 28 de Maio de 2025.