Entre os atletas dedicados, o Expresso das Ilhas conversou com Marilson Semedo, praticante do atletismo adaptado.
A nível internacional, Semedo participou nos Jogos Africanos em Maputo 2011 e nos Jogos de Francofonia em Abidjan, Costa do Marfim 2017, onde conquistou medalha de prata no lançamento de dardo.
Em 2018, o atleta participou do World Para Athletics de Tunísia e conseguiu medalha de ouro também em lançamento de dardo.
“Já estive no World Para Athletics de Tunísia em 2019 e 2021. Em 2021 atingi o máximo, ao conseguir fazer a marca dos mínimos qualificativos para os Jogos Paralímpicos de Tóquio de 2021”, conta.
Este feito fez com que Marilson Semedo se tornasse no primeiro atleta nascido, criado e que treina no país a conseguir qualificar-se para os Jogos Paralímpicos, uma vez que, até então, aqueles que o tinham conseguido vivem na diáspora.
“Estive nos palcos dos Jogos Paralímpicos de Tóquio, no Japão, e foi o meu topo. Porque como é sabido os Jogos Paralímpicos são o maior evento desportivo a nível mundial, onde há atletas de altíssimo nível. Um evento que nos dá uma experiência para a vida não apenas como atleta, mas como pessoa”, enfatiza, avançado que essa experiência o tem motivado para a próxima participação no World Para Athletics 2022.
A nível nacional, recentemente participou no campeonato regional de Santiago Sul e tanto no lançamento de pesos, de dardos e nos discos conseguiu bons resultados.
Preparação para as competições
Ao se preparar para uma competição internacional, o atleta realiza os treinos no Estádio Nacional, devido a parceria com o Instituto do Desporto e da Juventude (IDJ) que permite o acesso ao recinto.
Aliás, é onde se encontram os equipamentos de Marilson Semedo que treina de segunda a sexta-feira, durante três horas, com o auxiliar de um treinador do Comité Paralímpico e a Federação do Desporto Adaptado.
O atleta conta ainda com uma treinadora cubana que elabora o seu plano e acompanha os treinos virtualmente.
“Alguns dos meus equipamentos de treino foram doações da Federação Cabo-verdiana de Atletismo, outros do Comité Paralímpico e da Federação do Desporto Adaptado. Hoje, em Santiago Sul estamos com equipamentos que permitem treinar no Estádio Nacional com regularidade e melhores condições”, diz.
Quanto aos apoios, Marilson Semedo conta que os recebe apenas às vésperas das competições, sobretudo de particulares.
São apoios monetários como subsídio de alimentação, suplementos, ginásios, entre outros, para além dos apoios da Federação e do Comité Paralímpico.
Neste momento, avança, está à espera de uma resposta à sua candidatura para o acesso à bolsa atleta de alto rendimento, uma atribuição criada pelo governo.
“Caso eu consiga essa bolsa, isso vai permitir melhorar ainda mais a nossa performance, que é um dos nossos grandes objectivos, sobretudo para que este ano possamos melhorar as marcas alcançadas no ano passado, melhorar no ranking da África e no ranking mundial. Isso exige melhores condições e mais apoios”, considera.
Desafios e melhorias
Para Marilson Semedo, há muitas dificuldades no acesso ao desporto de qualidade quer para o atleta convencional, quer para o atleta paralímpico.
“As mesmas dificuldades pelas quais os atletas convencionais passam, também passamos e creio que até mais. Porque o desporto adaptado em Cabo Verde ainda é pouco valorizado, sobretudo as nossas conquistas”, afirma.
Conforme justifica, os atletas dão o país a conhecer ao mundo, contudo, ao chegar a Cabo Verde as conquistas são “pouco valorizadas e pouco reconhecidas”.
Para os atletas paralímpicos, aponta que é preciso melhorar praticamente, desde a organização das associações e federações, aos subsídios e apoios às mesmas para que possam fazer o seu trabalho a nível local e nacional.
“Porque, por exemplo, às vezes, as federações assinam os contratos programas com o IDJ e o governo para ajudar nas actividades. Entretanto, muitas vezes verificamos um enorme défice na atribuição desse subsídio. Fazemos um plano, elaboramos e entregamos um projecto e o orçamento por vezes é reduzido a muito menos da metade do que projectamos”, diz.
Esse corte no orçamento, segundo Marilson Semedo deixa algumas dificuldades na elaboração e implementação dos projectos e no desenvolvimento do desporto adaptado em Cabo Verde.
“Deve ser melhorado e respeitado, o orçamento necessário que elaboramos para que possamos realizar as nossas actividades a nível local, nacional e internacional durante um ano, caso contrário pode criar condicionantes que dificultam a implementação de determinados projectos”, considera.
COC afirma que país evoluiu em termos participativos
O COC foi fundado a 17 de Julho de 1989, com o objectivo de assegurar a participação de Cabo Verde nos Jogos Olímpicos, e promover o Olimpismo, sob a tutela do Comité Olímpico Internacional.
Entretanto, o reconhecimento do Comité Olímpico Internacional só veio quatro anos mais tarde (1993).
“Desde a nossa primeira participação nos Jogos Olímpicos até a última, onde tivemos a participação de seis atletas, podemos dizer que o país evoluiu muito. Sendo que na primeira participação todos os atletas foram convidados através de um Wild Card, enquanto com os participantes do Tóquio estivemos por mérito próprio”, aprecia o secretário geral do COC, Raul Soulé.
As expectativas para com os atletas que participaram nos Jogos de Tóquio foram ultrapassadas, conforme o responsável.
No que tange à preparação para as próximas competições, Raul Soulé refere que o COC atribui a 10 atletas de diferentes modalidades como atletismo, boxe, esgrima, ginástica, judo, natação e taekwondo, bolsas de modo que possam se preparar melhorar e possam ter ranking e qualificações para os Jogos Olímpicos de Paris 2024.
Num montante de 24 milhões 320 mil escudos, a bolsa será recebida pelos atletas, cinco homens e cinco mulheres, trimestralmente num valor de 750 dólares, até Julho de 2024.
“Em relação ao estágio para 2024, para a ida a Paris ainda estamos a decidir onde vai ser. Pensamos também fazer uma casa Cabo Verde em França para acolher cerca de 60 mil cabo-verdianos que vivem na capital daquele país”, informa.
Nesta casa, o COC quer expor a cultura cabo-verdiana, e proporcionar aos atletas um cantinho onde possam ter contacto com a terra natal e até mesmo com os cabo-verdianos que vivem naquele país.
A par dos desenvolvimentos, Raul Soulé garante que o COC está a tentar melhorar o ambiente desportivo cabo-verdiano.
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O Dia Olímpico é comemorado em 23 de Junho em Cabo Verde e nos países cujos Comitês Olímpicos Nacionais são vinculados ao Comitê Olímpico Internacional (COI). A data marca o aniversário de fundação do COI, em 1894, e tem por objectivo promover o Olimpismo e o Movimento Olímpico em todo o mundo.
Neste sentido o COC organiza o festival desportivo a ser realizado nas ilhas de Santiago, Fogo, Santo Antão, Maio e São Vicente.
“São eventos multidesportivos onde haverá várias demonstrações desportivas de andebol, natação, ginástica, atletismo, basquetebol, desporto adaptado, entre outros”, informa Raul Soulé.
Da agenda também consta a passagem da tocha olímpica que está a ser coorganizado pela Associação Regional de Atletismo de Santiago Sul, no dia 24 às 15h00, a partir do COC. A tocha deverá passar pela Assembleia Nacional, sede das Nações Unidas, Embaixada da União Europeia, Palácio do Governo, Câmara Municipal da Praia, Embaixada de França e por fim Presidência da República.
O terceiro evento no âmbito daquela comemoração é a corrida olímpica para crianças que está a ser coorganizada pela Federação e Associação de Atletismo de Santiago Sul.
O evento acontece no dia 25, no largo do memorial Amílcar Cabral entre as 9 e 11 horas de manhã.
“Por último temos a conversa aberta para a prevenção da criminalidade usando o desporto, coorganizado pela Associação Maracanã. Vai ser no dia 23 das 16h00 às 17h30, com vários convidados, no auditório do hotel Pestana Trópico, incluindo o ministro da Administração Interna”, frisa.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1073 de 22 de Junho de 2022.