Os dados divulgados pelo Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica, INMG, apontam para uma melhoria da visibilidade e aumento do vento, com rajadas ocasionalmente fortes em algumas ilhas.
Os fortes ventos que deverão permanecer no arquipélago até ao final desta semana, com rajadas ocasionais que poderão ultrapassar os 60 km a hora, chegam em tempo oportuno para dissipar a tempestade de poeira que, durante mais de uma semana, trouxe inúmeras dores de cabeça para passageiros, operadores turísticos e para a navegação aérea.
Contactada pelo Expresso das Ilhas, a administração da ASA (Aeroportos e Segurança Aérea) preferiu tecer poucas declarações, reservando-se para um pronunciamento oficial posterior, através de comunicado escrito.
Entretanto, a direcção comercial e de marketing da empresa adiantou ao nosso jornal que a ASA dispõe de alguns procedimentos e sistemas de apoio às companhias aéreas, nacionais e estrangeiras que operam nos aeroportos nacionais.
Um dos sistemas de apoio à navegação é o GNSS (Global Navigation Satellite System) ou Sistema Global de Navegação por Satélite, que a ASA disponibiliza em alguns aeroportos nacionais como o Aristides Pereira, na Boa Vista e que permite efectuar operações em condições adversas e de baixa visibilidade.
No Aeroporto Internacional Amílcar Cabral, na ilha do Sal, além deste procedimento, a ASA dispõe ainda de um sistema de apoio à aterragem, o ILS – Instrument Landing System.
No entanto, cabe às companhias aéreas e, de acordo com os parâmetros internos, a decisão de voar ou não, em condições anómalas pois que naturalmente todos os sistemas e equipamentos têm as suas limitações.
O nosso jornal sabe que o Amílcar Cabral, no Sal, foi um dos mais afectados tendo sido inclusive cogitada a possibilidade de cancelar totalmente as operações e fechar o aeroporto.
Vários voos da operadora turística internacional, TUI, provenientes de países como a Bélgica, o Luxemburgo, a Holanda e a Alemanha e que tinham como destino a ilha da Boa Vista, tiveram de ser desviados para o Sal, também devido à fraca visibilidade, motivada pela bruma seca.
Em São Vicente, a companhia portuguesa TAP sofreu os maiores constrangimentos, com cerca de quatro centenas de passageiros retidos no Aeroporto Internacional Cesária Évora.
A companhia de bandeira nacional, Cabo Verde Airlines também não ficou imune ao fenómeno da bruma seca, tendo sido obrigada a abortar uma aterragem em Lagos, Nigéria, devido às péssimas condições atmosféricas. A aeronave regressou à ilha do Sal e os passageiros tiveram de ser acomodados em hotéis na cidade de Santa Maria.
Uma situação que se agrava devido à escassa disponibilidade hoteleira em quartos motivada pela época alta, principalmente nas ilhas mais turísticas.
As condições atmosféricas que afectaram a rede de voos da companhia, impossibilitaram ainda o transporte de passageiros de Lagos para Washington, nos Estados Unidos. Através de um comunicado oficial, a Cabo Verde Airlines pediu a compreensão dos passageiros e informou estar a fazer de tudo para “minimizar os transtornos e recuperar o atraso no mais curto espaço de tempo possível.”
02/01 – O pior dia da semana
O pior dia da semana foi o segundo dia do ano, com visibilidade má em todas as ilhas do arquipélago, agravando-se nas ilhas do Sal e da Boa Vista, onde a visibilidade chegou a ser inferior a 1000 metros, devido à bruma seca.
No dia 02 de Janeiro, o Aeroporto Internacional Aristides Pereira, na Boa Vista, não conseguiu efectuar qualquer operação, tendo sido cancelados todos os oito voos previstos para esse dia, dois nacionais e seis internacionais.
Nesse dia, a Binter não conseguiu transportar mais de cem passageiros, incluindo três em situação de evacuação médica, de São Nicolau para a capital do país.
Para a Binter Cabo Verde, o cancelamento de voos devido às péssimas condições de navegação aérea, levou a companhia a recorrer à CV Interilhas, tendo oferecido a alguns passageiros com destino às ilhas de Maio, Fogo e Santiago, a opção de transporte por via marítima.
Contudo, nem todos os passageiros ficaram agradados com esta alternativa, pelo que a companhia foi obrigada a arcar com inúmeros prejuízos financeiros, pelo pagamento de indemnizações e de assistência em terra, nomeadamente com refeições e acomodação aos quase seiscentos passageiros afectados, nos cerca de 40 voos cancelados.
Ontem, terça-feira, 07, foi finalmente possível o regresso à cidade da Praia para um passageiro da Binter Cabo Verde, contactado pelo Expresso das Ilhas e que ficou retido em São Nicolau desde o dia 1 de janeiro.
A solução encontrada pela companhia aérea passou por uma viagem de barco de São Nicolau até São Vicente e, outra viagem de avião, da ilha do Monte Cara, até à Cidade da Praia.
“Todas as despesas foram arcadas pela Binter, alimentação, hotel e deslocação. Finalmente já estou no aeroporto a caminho da cidade da Praia”, relatou com alívio ao nosso jornal.
Esta quarta-feira, 08, as operações da Binter deverão voltar à normalidade, com a reposição dos voos cancelados, garantiu, em declarações à agência de notícias, Inforpress, o director da companhia aérea nacional, Luís Quinta.
Para hoje, 08 de Janeiro serão repostos os último quatro voos cancelados pela Binter por causa da bruma seca, nomeadamente o voo Praia-Maio das 14:35 (reposição voo 840 dia 06 Jan), o voo Maio-Praia 15:20 (reposição voo 849 dia 06 Jan), também Praia-Boa Vista 16:05 (reposição voo 820 dia 05 Jan) e Boa Vista- Praia 17:10 (reposição voo 821 dia 05 Jan).
Navegação Marítima poderá ser afectada nos próximos dias
A previsão do tempo para as próximas 24 horas, fornecida pelo Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica de Cabo Verde, INMG, aponta para visibilidade boa (igual ou superior a 10 quilómetros) em todas as ilhas do País.
Por esse motivo, nos próximos dias, a calmaria deverá regressar a todos os aeroportos nacionais, com a total reposição da normalidade das operações aeroportuárias.
Por sua vez, a cautela deverá acompanhar as operações marítimas, principalmente no que toca aos botes de boca aberta, devido ao estado do mar, com ondas que podem aproximar-se dos cinco metros de altura, segundo dados da previsão meteorológica do INMG.
O que origina a Bruma Seca?
Vários factores meteorológicos podem originar a Bruma Seca, nomeadamente, períodos de seca extrema, levando à erosão do solo e deslocação de particulares de poeira, causando a poluição do ar. A tempestade de poeira causa a diminuição considerável da visibilidade, podendo afectar a navegação aérea. Nas grandes metrópoles ou centros urbanos a bruma seca ou, névoa seca é causada pela poluição mas, a aproximação do nosso país ao deserto do Sahara é, segundo os especialistas, um dos principais motivos que fazem com que, duas vezes por ano, o arquipélago seja afectado pelo fenómeno, principalmente nos meses de verão e no final do ano.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 945 de 08 de Janeiro de 2020.