Segundo Luís Quinta, director-geral da Transportes Interilhas de Cabo Verde, do investimento de cerca de 143 mil contos feitos até agora em Cabo Verde, a companhia não recebeu “um único incentivo [do Estado] em qualquer forma que fosse”.
O responsável acrescentou que a TICV tem em curso, este ano, “dois grandes projectos” no âmbito das certificações da Associação Internacional de Transportes Aéreos (IATA, na sigla inglesa). Desde logo a “mudança do IATA Accouting Code 474 para 383”, bem como a conclusão do IATA Operational Safety Audit (IOSA).
“Quando estes projectos estiverem finalizados, estaremos então em condições de iniciar o estudo de fazer voos internacionais. Aspiramos, nos próximos anos, a poder voar para destinos como a Guiné-Bissau e Senegal”, disse o diretor-geral da TICV.
Naqueles dois países da costa ocidental africana vivem grandes comunidades cabo-verdianas, o mesmo acontecendo em Cabo Verde de senegaleses e guineenses.
De Binter a TICV
Sobre a transformação da Binter CV em TICV, iniciada em Agosto de 2019 e agora concluída, Luís Quinta explicou tratar-se de uma “normal mudança de estratégia comercial” para uma marca com que o cliente cabo-verdiano “se identifique melhor”.
“Os nossos valores que merecidamente nos caracterizam, como pontualidade, regularidade, conectividade e fiabilidade, continuarão presentes dentro da marca, mas achamos que nesta altura da existência da empresa seria melhor uma nova direcção, mais chegada ao público e ao passageiro de Cabo Verde, daí o 'Transportes Interilhas de Cabo Verde'”, sublinhou.
Reforço para a época alta
Na entrevista à Lusa, Luís Quinta anunciou igualmente que a companhia aérea está a realizar nesta época alta um total de 28 voos diários para sete ilhas do arquipélago, com nove rotas operadas por três ATR-72 500, com capacidade para 72 passageiros.
“Sempre tivemos projectado ter uma frota de cinco aviões em Cabo Verde. Infelizmente, por vários factores que nos são alheios, esta aspiração tem vindo a ser adiada. Acreditámos que, se não houver instabilidade no sector doméstico, em meados de 2023 já teremos condições de ter uma frota deste tamanho ou ao redor, de modo a satisfazer o esperado crescimento da procura doméstica e da regional”, explicou Luís Quinta.
O director-geral da TICV acrescentou ainda que, além dos 140 trabalhadores que a companhia, do grupo da espanhola Binter, emprega em Cabo Verde, está ainda a decorrer um processo de contratação para mais oito.
Segundo o diretor-geral da TICV, a companhia realiza cerca de 18 voos por dia na época baixa (inverno), que sobem para 24 a 28 voos diários na época alta (verão), além de “reforços grandes” nas ligações para as “festividades mais importantes”, como o Carnaval nas ilhas de São Vicente e de São Nicolau, o festival da Baía das Gatas, em São Vicente, ou as festas de São Filipe, na ilha do Fogo.
A companhia iniciou as ligações aéreas em Cabo Verde em 2016 e transportou no ano seguinte cerca de 460 mil passageiros, o melhor registo no histórico das ligações aéreas domésticas segundo a empresa Aeroportos e Segurança Aéreos (ASA) - que gere os quatro aeroportos internacionais e os três aeródromos do país.
O transporte caiu para à volta de 440 mil passageiros em 2018 e para 410 mil no ano passado, descidas que Luís Quinta justifica com a atualização de tarifas feita em 2018 pelo regulador do setor, a Agência de Aviação Civil (AAC) de Cabo Verde.
“O mercado doméstico desde 2011 que tinha vindo a descer até ter uma quebra acentuada em 2015. A partir de 2016 começa-se a notar uma subida, tendo sido 2017 o melhor ano em termos de transporte de passageiros”, afirmou Luís Quinta.
Evacuações médicas
A companhia é também, e há vários meses, “o único operador aéreo a fazer evacuações domésticas” de pacientes, tendo sido estabelecido, em Novembro de 2018, um protocolo com o Ministério da Saúde de Cabo Verde para esse efeito.
“Fazemos cerca de 600 evacuações por ano, a grande maioria em voos comerciais regulares e outras mais delicadas ou urgentes em voos charter”, assumiu Luís Quinta.
Contudo, o processo não tem sido pacífico, com a companhia a ser levada a tribunal por duas vezes nos últimos meses, por alegada recusa de auxílio nestas evacuações. Acusações que a companhia refuta, alegando que, nesses casos, o transporte de pacientes não respeitava as normas internacionais do sector e que colocava em causa a segurança dos restantes passageiros e tripulação.
“O processo tem sido um trabalho em conjunto com o Ministério da Saúde e respectivas delegacias [de saúde, em cada ilha], onde basicamente é um processo vivo, sempre sujeito a corrigir as imperfeições e as dificuldades que surgem no dia a dia, para assegurar que a vida humana é transportada em segurança e em respeito, tanto a do paciente como a dos passageiros e da nossa tripulação”, disse ainda Luís Quinta.