Segundo dados projectados pelo Instituto do Turismo, e a que o Expresso das Ilhas teve acesso, 2023 deverá terminar com um total de mais 911 mil turistas a visitar Cabo Verde e, em 2024, deverá ser ultrapassado um milhão.
Estes dados constam de uma apresentação feita recentemente pelo presidente do Instituto do Turismo, Humberto Lélis, nas Jornadas Atlânticas do Turismo que decorreram nos Açores e em Porto Santo, na Madeira.
Também o número de empregos gerados pelo Turismo deverá duplicar até 2030. Segundo os mesmos dados, em 2030, o sector do Turismo será capaz de gerar mais de 43 mil empregos sendo que, actualmente, são cerca de 20 mil pessoas que estão a trabalhar na área turística.
Outro dado relevante é o do crescimento dos investimentos no sector.
Os números mostram que os actuais 16.325 quartos disponíveis no país traduzem-se num investimento que ronda os 96 milhões de euros. Até 2030 Cabo Verde disponibilizará um total de 33.530 quartos, fruto do crescimento do número de unidades hoteleiras a serem construídas no país e o investimento ultrapassará os 370 milhões de euros.
Ao todo, entre 2023 e 2030, o Instituto do Turismo prevê que Cabo Verde venha a receber investimentos que ultrapassem os mil milhões de euros em infra-estruturas hoteleiras.
Investimento Público
Na apresentação feita durante as Jornadas Atlânticas do Turismo, o presidente do Instituto do Turismo destacou igualmente os investimentos públicos que vão ter impacto no Turismo nacional.
Ao todo, serão investidos 656 milhões de euros em sectores como a transição energética (480 milhões de euros) em regime de Parcerias Público-Privadas e Economia Digital (55 milhões de euros) com a construção dos Parques Tecnológicos da Praia e de Mindelo. Vão ser igualmente alocados 50 milhões de euros para a transição agrícola com o objectivo de “passar da agricultura tradicional para o agro-negócio moderno, com investimentos públicos para o sistema produção água e irrigação” e serão investidos mais 70 milhões de euros no sector da Economia Azul, valor que será canalizado para “infra-estruturas de apoio à pesca, aquacultura, transformação e comercialização de pescado”.
Programa Operacional do Turismo
Algo que é indissociável de todos os investimentos no sector é o Programa Operacional do Turismo (POT).
Humberto Lélis destacou cinco sub-programas do POT que serão essenciais para transformar o Turismo Nacional.
O primeiro aborda “a questão da qualificação e diversificação da oferta turística, com ênfase nas infra-estruturas turísticas (portos, estradas, saneamento, água, electrificação)”, no segundo, aborda-se a governança “com primazia para a digitalização administrativa e de todo o encadeamento da oferta turística, inteligência turística, compreendendo a certificação da qualidade da rede das empresas, fornecedores e prestadores de serviços”.
Depois há igualmente um sub-programa dedicado à promoção de Cabo Verde enquanto destino em que se fará a “implementação do plano de estratégico de marketing, com enfoque no marketing digital, e ainda melhoria da conectividade aérea e marítima”.
A questão da sustentabilidade é igualmente importante e procura “responder aos desafios na área ambiental, económica e social, estendendo-se à gestão e preservação do património natural, ao apoio às Micro e PMEs, mormente através de mecanismos de financiamento e do fomento empresarial, bem assim a projectos e iniciativas visando a coesão social”.
O último sub-programa destacado por Humberto Lélis foi o da qualificação dos recursos humanos em que, segundo este responsável, o objectivo será “complementar a diversificação e qualificação do produto turístico, através da capacitação /formação em segmentos de produtos turísticos considerados como prioritários para o país, com particular atenção ao turismo de natureza”.
Procura vs Oferta
Durante a comunicação que fez nas jornadas, o presidente do Instituto do Turismo, apontou que, por causa do modelo de desenvolvimento do Turismo prevalecente ao longo dos últimos 20 anos, não obstante avanços consideráveis, o sector não se encontra ainda devidamente consolidado.
Para justificar esta afirmação, Humberto Lélis referiu que a especialização de Cabo Verde no turismo balnear fez com que o país descurasse “as incomensuráveis potencialidades em outros segmentos como turismo de natureza. Para além do domínio quase absoluto de um único produto (o turismo balnear), apenas duas ilhas (Sal e Boa Vista) concentram mais de 80% da capacidade de acolhimento de turistas. Em terceiro lugar, a concentração da procura. A Europa, na sua globalidade, responde por 93% da procura e o Reino Unido por 31% dos fluxos e 35% das dormidas. A seguir, há a excessiva concentração da distribuição num número reduzido de operadores turísticos. Em quinto lugar, a reduzida representatividade da iniciativa empresarial endógena na actividade turística. E, por último, existem fluxos migratórios excessivos, internos e externos, para as ilhas do Sal e Boa Vista”.
Mais países emissores
Entretanto, segundo dados divulgados pelo INE, Cabo Verde tem registado nos últimos tempos uma diversificação nos países emissores de turistas, embora mantendo o Reino Unido a liderar a lista dos 18 países com maior número de turistas que visitam o arquipélago.
Segundo a coordenadora da Divisão das Estatísticas Económicas, Ana Gomes, até 2022 as estatísticas do turismo, a nível do movimento de hóspedes, destacava 11 países, designadamente, África do Sul, Alemanha, Áustria, Bélgica, Países Baixos, Espanha, Estados Unidos, França, Itália, Reino Unido, Portugal e Suíça, com os outros emissores integrados no grupo “outros países”.
Contudo, explicou à Inforpress que das análises se constatou que o grupo “outros países” passou a ter “um peso considerável”, pelo que foi necessário desagregar mais países que passaram a ter destaque.
Assim, países como a República Checa e a Polónia, que ficaram em quinto e sexto lugares, em movimentação de hóspedes, no primeiro e segundo trimestres de 2023, ganharam destaque, ficando melhor posicionados, por exemplo, que a Itália e Espanha, respectivamente.
No segundo trimestre de 2023 foram igualmente destacados países como Suécia, Senegal, Luxemburgo, Eslováquia e Marrocos, mas, por outro lado, outros países que anteriormente eram destacados no grupo dos 12 países, como o caso da África do Sul, passaram a estar agregado no grupo “outros países” com um número “muito residual” de turismo.
“Aqui podemos a ver de forma clara a nossa diversificação de hóspedes”, disse Ana Gomes à Inforpress, realçando uma “redução gradativa” no número de turistas provenientes da Itália, embora o país figure ainda na lista dos principais países emissores.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1143 de 25 de Outubro de 2023.