BCV não mexe nas taxas de juro nos próximos dois meses

PorJorge Montezinho,22 set 2024 7:49

Até Novembro não haverá novidades. O Conselho de Administração do Banco Central cabo-verdiano reuniu-se e sob recomendação do Comité de Política Monetária resolveu manter as taxas de juro de referência. Entretanto, há mudanças a assinalar no contexto externo, tanto na Europa como nos Estados Unidos.

Ficaram sem alterações a taxa directora (mantém-se nos 1,5%), as taxas de facilidade permanente de cedência de liquidez (1,75%) e de facilidade permanente de depósitos (0,95%). Segundo o comunicado do BCV, “a decisão reflecte uma análise cuidadosa dos desenvolvimentos macro-económicos recentes, tanto a nível externo quanto interno, marcada, ainda, pela trajetória descendente da inflação e pela expectativa de cortes nas taxas de juro pelos principais bancos centrais”.

O Conselho de Administração do Banco de Cabo Verde esteve reunido ordinariamente no dia 5 deste mês e, segundo comunicou, a análise do potencial impacto nos fluxos de capitais externos por causa da diferença das taxas de juro de referência de Cabo Verde face às da Zona Euro “não evidenciou sinais significativos que interpelassem o BCV a adoptar medidas adicionais nesta fase”.

Já a expectativa em relação à actuação dos bancos centrais internacionais, na condução da respectiva política monetária, aponta para a redução gradual das taxas de juro praticadas nos mercados internacionais, com particular incidência na Zona Euro, “contribuindo para mitigar os riscos associados à saída de divisas do país”.

BCE já baixou taxas de juro

No passado dia 12, o Banco Central Europeu (BCE) desceu a taxa de juro de referência em 25 pontos base (para 3,5%), o segundo corte do ano, num contexto de moderação da inflação e de abrandamento da actividade económica a curto prazo. As alterações terão efeito a partir desta quarta-feira.

Há dois anos, o BCE aumentou as taxas de juro porque a inflação era demasiado elevada. A situação entretanto melhorou. Embora alguns preços continuem a registar subidas significativas, em especial no sector dos serviços, a inflação, em geral, desceu bastante. Presentemente, está no bom caminho para atingir 2% no próximo ano, o nível que o Banco Central Europeu tem como meta para a obtenção da estabilidade de preços.

“Estamos determinados a assegurar o retorno atempado da inflação ao nosso objectivo de médio prazo de 2%. Para o efeito, manteremos as taxas de juro directoras suficientemente restritivas enquanto for necessário”, disse Christine Lagarde, presidente do BCE, na conferência de imprensa onde foi anunciada a descida da taxa de juro.

Na Zona Euro, a economia registou um crescimento de 0,2% no segundo trimestre, face a 0,3% no primeiro trimestre, abaixo do indicado nas mais recentes projeções dos especialistas. O crescimento deveu‑se principalmente às exportações líquidas e à despesa pública. A procura interna privada enfraqueceu, uma vez que as famílias consumiram menos, as empresas reduziram o investimento e o investimento em habitação diminuiu.

Os riscos para o crescimento económico permanecem enviesados em sentido descendente. Uma menor procura de exportações da área do euro, devido, por exemplo, a uma economia mundial mais fraca ou a um agravamento das tensões comerciais entre as principais economias, pode afectar o crescimento da área do euro. A guerra na Ucrânia e o conflito no Médio Oriente são importantes fontes de risco geopolítico. Esta conjuntura poderá tornar as empresas e as famílias menos confiantes em relação ao futuro e gerar perturbações no comércio mundial.

Soft landing nos Estados Unidos

Do outro lado do Atlântico, nos Estados Unidos, o cenário é de desaceleração suave, com a inflação a convergir para a meta estipulada, o que cria um ambiente favorável para os mercados, o chamado “soft landing”, ou, aterragem suave, em português. Os últimos dados de actividade económica mostram crescimento moderado, sem sinais de recessão iminente.

Segundo a Bloomberg, o mercado estima uma probabilidade de quase 100% de um corte de 0,25% na taxa de juros nos EUA, com possíveis cortes adicionais até o final do ano e no próximo. Actualmente, a taxa chegou ao patamar entre 5,25% e 5,50% – o maior em mais de 15 anos.

Apesar do mercado de trabalho estar a abrandar, merece registo também o facto deste arrefecimento da economia, para combater a inflação, não estar a fazer aumentar o desemprego nos Estados Unidos.

Economia em Cabo Verde

A perspectiva, diz o BCV, é que a economia vai continuar a crescer, por causa, sobretudo, do desempenho da procura externa turística e do consumo privado.

As reservas internacionais líquidas estão num nível confortável, cobrindo cerca de 5,8 meses de importações de bens e serviços.

Apesar de algumas pressões ascendentes – efeito das tensões geopolíticas no Médio Oriente – a inflação continua a descer, com as taxas de inflação homóloga e média anual a fixarem-se em 1,6% e 1,3%, respectivamente, em Julho deste ano (2,6% e 6,3% em Julho de 2023), o que traduz a queda dos preços dos produtos energéticos e o abrandamento dos preços dos produtos alimentares no mercado internacional, bem como a procura mais contida.

O BCV garante que vai continuar a acompanhar as variáveis e condições económicas, “mantendo-se pronto a intervir em qualquer momento e adoptando as medidas que se mostrarem adequadas, visando a salvaguarda da estabilidade financeira e garantia da credibilidade do regime cambial de peg unilateral face ao Euro”.

A próxima reunião do Comité de Política Monetária está agendada para 5 de Novembro. 

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Em que consiste a política monetária?

A política monetária consiste na tomada de decisões pelos bancos centrais, com vista a influenciar o custo e a disponibilidade de moeda numa economia. A decisão mais importante está normalmente relacionada com as taxas de juro directoras. A alteração destas taxas afeta as taxas de juro que os bancos comerciais cobram aos clientes quando lhes concedem empréstimos, influenciando, assim, o consumo privado e o investimento das empresas. O objetivo da política monetária é manter os preços estáveis.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1190 de 18 de Setembro de 2024.

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Autoria:Jorge Montezinho,22 set 2024 7:49

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  9 out 2024 9:20

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