Para o Primeiro-Ministro, o desenvolvimento sustentável do arquipélago deve ser feito “com maior contribuição dos recursos oceânicos e costeiros”. Ulisses Correia e Silva considera existir potencial por explorar. O chefe do executivo falava na segunda-feira, na abertura da Cabo Verde Ocean Week (CVOW).
Ulisses lembra que, apesar de territorialmente pequeno, o país tem uma significativa zona económica exclusiva, que deve ser levada em conta na equação do desenvolvimento. Por essa razão, recordou no seu discurso vários instrumentos existentes para a valorização dos activos oceânicos.
“A Carta de Política da Economia Azul, o Plano Nacional de Investimentos para a Economia Azul e o Regime de Ordenamento das Actividades da Pesca nas Águas Marítimas e no Alto Mar são instrumentos importantes que Cabo Verde tem à sua disposição, aprovados e que estão em implementação”, assegura.
A educação é outra aposta, visando a criação de uma cultura oceânica desde a infância até à idade adulta.
“O conhecimento e protecção da biodiversidade marinha e das zonas costeiras, a literacia do oceano e a integração numa iniciativa muito interessante, que é a rede de escolas azuis do Atlântico, são importantes para o suporte à exploração sustentável dos recursos marinhos e para a educação e a capacitação dos jovens desde crianças. Também é objectivo estratégico posicionar Cabo Verde como um centro de desenvolvimento de competências no domínio da economia azul”, sublinha.
Melhor governança climática e transição energética são outros eixos do desenvolvimento sustentável que Cabo Verde persegue.
CVOW
O regresso da Expomar (Feira das Actividades Ligadas ao Mar) ao programa oficial da CVOW é uma das principais novidades desta edição, que se prolonga até ao dia 9, sob o lema “A Voz do Oceano”.
O director Nacional de Política do Mar, Anísio Évora, perspectiva o evento como “um palco privilegiado de diálogo” em torno de um tema do qual depende a nossa sobrevivência.
“A nossa sobrevivência depende da mudança de mentalidade em relação ao oceano e das políticas que foram implementadas para assegurar uma exploração sustentável. O palco do Centro Oceanográfico do Mindelo vai estar aberto para este tal diálogo à volta da preservação e da sustentabilidade do oceano”, refere.
“É nosso dever, como nação, abrir um diálogo profundo e profícuo para consolidar a implementação de políticas de sustentabilidade ambiental e oceânica, desenvolver estratégias para gerar consciencialização acerca da relevância do oceano e dos nossos mares, impulsionar acções para prevenir e reduzir a poluição marinha e marítima, e também implementar estratégias para reduzir a poluição por plásticos e microplásticos nos nossos oceanos”, acrescenta.
A programação da CVOW inclui, além da já referida Expomar, painéis temáticos, oficinas, uma feira gastronómica (que aconteceu no domingo, em Salamansa), entre outras actividades. Para lá de São Vicente, a Ocean Week alarga-se este ano à Boa Vista.
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Fabien Cousteau quer estreitar laços com Cabo Verde
O Proteus Ocean Group quer trabalhar com Cabo Verde em áreas como mudanças climáticas, conservação do oceano e combate à poluição marinha. No Mindelo, durante a Ocean Week, o fundador, Fabien Cousteau, partilhou a sua visão sobre o papel dos oceanos para a sustentabilidade do planeta.
“Trabalhando juntos, em plataforma, e internacionalmente, podemos aproveitar o conhecimento uns dos outros e ver onde podemos ajudar para que possamos trabalhar juntos para devolver às gerações futuras o que tomámos de facto. Uma das minhas empresas, Proteus Ocean Group, está muito interessada em trabalhar com a população de Cabo Verde, as organizações locais e também com o governo para, em cooperação, melhorar o país e o oceano”, realça.
Conceito da plataforma Proteus (Crédito: Proteus Ocean Group)
Nas águas de Curaçao, no Caribe, o Proteus Ocean Group pretende instalar uma plataforma subaquática modular e sustentável, que será um espaço colaborativo para cientistas, académicos, agências governamentais e empresas.
Com Cabo Verde, possíveis áreas de cooperação incluem ciência, resiliência costeira e oportunidades de negócio, como o turismo.
“Oportunidades de protecção do oceano, oportunidades para os negócios, como podemos ajudar os pescadores, como podemos também ajudar o turismo, que são muito dependentes de um oceano saudável”, perspectiva.
Neto do lendário Jacques Cousteau, Fabien Cousteau defende ser necessário compreender aquilo que está a acontecer no oceano, para depois se tomarem decisões.
*NAF/FR
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1197 de 06 de Novembro de 2024.