No terceiro trimestre de 2024, o PIB nacional, em volume, cresceu 3,3% em termos homólogos, o que mostra uma desaceleração face ao trimestre anterior, que teve um crescimento de 8,5%.
Segundo o BCV, esta evolução mais moderada, do lado da procura, deveu-se, essencialmente, ao contributo negativo da procura interna, uma vez que o contributo da procura externa líquida aumentou.
A procura interna diminuiu em 2,9% em termos homólogos, como resultado da queda, em volume, do investimento (em 19,6%) e do consumo público (em 5,1%), bem como da moderação registada no consumo privado.
O investimento, segundo o relatório, foi afectado pelas restrições de oferta devido a pressões contínuas nas cadeias globais de abastecimento, aos custos de fatores de produção ainda elevados (aumento dos preços das importações associado às altas taxas de frete), à escassez de mão de obra, sobretudo no sector da construção, bem como à elevada incerteza face a factores geopolíticos.
Para o último trimestre de 2024, os indicadores disponíveis apontam para um crescimento da actividade económica. Os indicadores quantitativos acompanhados pelo Banco de Cabo Verde (BCV) indicam um aumento da procura interna. O consumo deverá continuar a crescer (ainda que de forma moderada), tendo em conta a evolução que se verifica nas importações de bens de consumo duradouros e não duradouros. O investimento deverá registar uma ligeira recuperação, conforme sugere o aumento das importações de materiais de construção e de bens de equipamentos. Os indicadores apontam, ainda, para uma melhoria da procura externa líquida, associada em grande medida, ao aumento esperado da procura externa turística.
A taxa de inflação média diminuiu em Dezembro de 2024 – apesar do aumento da taxa de inflação homóloga – o que se deveu, em grande medida, à moderação dos preços dos produtos alimentares. A taxa de inflação homóloga aumentou 0,1 pontos percentuais, face a Dezembro do ano anterior, para 1,4% em Dezembro de 2024, e a taxa de inflação média caiu para 1,0%, quando, em Dezembro de 2023, se situava em 3,7%.
Contas externas e contas públicas
Nas contas externas, dados provisórios apontam para uma evolução favorável no quarto trimestre de 2024, recuperando face ao trimestre anterior. As contas externas evoluíram menos favoravelmente no terceiro trimestre de 2024. Apesar de a balança corrente ter registado um superavit, este não foi suficiente para compensar a evolução menos favorável da balança financeira.
O aumento que se espera das importações deverá favorecer a evolução das contas externas no quarto trimestre: o desempenho positivo das exportações de serviços de turismo, no contexto da subida que se espera da procura externa turística, e o aumento dos desembolsos líquidos da dívida pública externa, em virtude de entradas a favor do Tesouro, particularmente do Banco Mundial [Alguns indicadores acompanhados pelo BCV apontam para o crescimento da procura turística no país, no quarto trimestre de 2024. De acordo com a AAC, de Setembro a Dezembro de 2024, o movimento de passageiros internacionais aumentou 11,5% em termos homólogos. De acordo com dados do Ministério das Finanças, a contribuição turística de Setembro a Dezembro de 2024, aumentou 13,8% em termos homólogos. Na mesma linha, de acordo com dados da SISP, de Setembro a Dezembro de 2024, a movimentação de fundos na rede vinti4 com cartão internacional cresceu 24% em termos homólogos].
As contas públicas registaram, em Dezembro de 2024, um agravamento no défice, fixando-se em 2.961,5 milhões de escudos, quando, no período homólogo, era de 707,6 milhões de escudos. Esta evolução reflectiu o aumento das despesas correntes (7,8% em termos homólogos), devido ao aumento dos gastos com: (i) as transferências correntes (em 21,6%), sobretudo, para os municípios; (ii) a aquisição de bens e serviços (em 9%); (iii) os benefícios sociais (em 10,8%), devido ao aumento atribuído pelo Governo às pensões e ao maior número de pensionistas; (iv) o pagamento de juros da dívida externa (em 31%); (v) outras despesas correntes (em 38,4%), sobretudo, o pagamento de indemnizações e da prestação de dívida acumulada decorrente do protocolo assinado entre o Ministério das Finanças e o INPS; e, (vi) com pessoal (em 1,2%), associado, em grande parte, ao pagamento das remunerações do pessoal contratado] e com ativos não financeiros, bem como a queda das outras receitas e o abrandamento registado nas transferências (donativos).
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Governo reforça incentivo à habitação jovem
“Vamos aumentar a bonificação dos juros dos créditos para aquisição ou construção de habitação própria. A bonificação passará dos cerca de 2% atuais para 50%”, disse o Primeiro-Ministro, no discurso de abertura do debate sobre Crescimento Económico e Desenvolvimento Inclusivo.
“Para as pessoas com créditos à habitação contratados nos bancos comerciais com taxas de juros variáveis, o Governo irá assumir os custos adicionais derivados do aumento dos juros desses créditos, mediante o mecanismo de bonificação, enquanto durar a medida do BCV, que decidiu aumentar as suas principais taxas de juro em 50 pontos base para garantir a estabilidade do regime do peg fixo ao euro”, acrescentou Ulisses Correia e Silva..
O Chefe do Governo anunciou ainda a implementação de um programa de criação de emprego nas zonas rurais, através de obras e projectos de investimentos de maior intensidade de mão-de-obra para o desencravamento de localidades, a construção de caminhos vicinais de interesse turístico e a promoção de acções climáticas e ambientais.
Para os estudantes universitários, foi também anunciado pelo Primeiro-Ministro, no Parlamento, que sabendo que muitos alunos do ensino superior não estão certificados devido a dívidas de propinas às universidades “iremos reforçar o programa junto à FICASE para apoio à regularização das dívidas”.
“Ainda para os jovens universitários, será lançado um programa para oferta de habitação em regime de arrendamento temporário e um complemento de bolsas de estudo para cobrir encargos com arrendamento de casa por parte de estudantes que vivem fora das suas ilhas de residência habitual para frequentar a universidade”, comunicou Ulisses Correia e Silva.
Segundo dados avançados pelo Chefe do Governo Cabo Verde tem 10% de pessoas no desemprego, cerca de 25% na pobreza absoluta e 2,3% em pobreza extrema.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1214 de 5 de Março de 2025.