O empresário promete esgotar todos os recursos, para que possa sujeitar a sufrágio a sua ideia de uma “nova política”, focada nos jovens, nas mulheres e no respeito pelos direitos e liberdades. Abdou Wahab Ben Geloune nasceu em Dakar, em 1977, cresceu entre a capital senegalesa e Saint Louis, na casa da avó, até terminar o bacharelado. Trabalhou como comercial da Colgate, durante três anos, o que lhe rendeu uma promoção para a República da Guiné, onde ainda mora, e onde se tornou empreendedor. Actualmente, é CEO do Grupo WEEGO, que dá emprego a cerca de um milhar de pessoas, na África Ocidental. O Expresso das Ilhas quis conhecer as suas motivações, as ideias para o Senegal e as propostas para o reforço da integração regional.
O que o levou a querer entrar na corrida presidencial?
As razões da minha candidatura à presidência do Senegal podem ser expressas em três linhas essenciais: juventude, esperança, desenvolvimento sustentável e inclusivo. A minha candidatura é motivada por estas três ideias. Desejo que este seja um ponto de partida para os jovens, para que acreditem em si mesmos e nas suas potencialidades e que venham a conquistar as várias esferas decisórias do nosso país, políticas ou não.
Como é que se posicionou perante os adversários, alguns dos quais nomes fortes da política senegalesa?
Respeito-os, assim como elogio o seu compromisso e abnegação pelo país.
Como avalia o mandato do Macky Sall?
Não podemos ignorar que foram feitos esforços, em termos de desenvolvimento de infra-estruturas, entre outras áreas, mas as condições de vida, para a maioria dos senegaleses, permanecem precárias, com acesso limitado a cuidados de saúde, crise escolar, impostos elevados, entre outros.
Esta eleição é considerada fácil para o presidente Macky Sall. Teremos eleições livres e transparentes?
Se o Estado não intervier na regularização da rejeição de assinaturas pelo Tribunal Constitucional, não creio que possamos falar de transparência eleitoral.
Acha que a eleição será um ‘passeio’ para o presidente?
Isso seria uma ofensa ao povo senegalês. Se também permanecermos na actual indefinição, ir a eleições seria ainda mais ofensivo.
O que seria para si um bom resultado?
A escolha do povo senegalês.
Empreendedor de sucesso na Guiné-Conacri, o que espera levar para a política senegalesa?
A minha experiência, o meu espírito de terreno, uma outra política, baseada na acção e na valorização de competências.
Os eleitores jovens são um dos focos da sua campanha. Que mensagem, em particular?
Vocês são capazes, vão em frente.
Li declarações suas nas quais se refere a “mulheres em condições inaceitáveis” no Senegal. Que política de igualdade de género propõe, então?
Para nós, será uma questão de estabelecer políticas com programas sensíveis ao género e levando em consideração a igualdade mulher/homem. Se em 2019 ainda falamos sobre o acesso restrito à propriedade da terra, especialmente para as mulheres rurais, o empoderamento das mulheres, a violência contra as mulheres ou o acesso limitado das mulheres a níveis de decisão, é porque existe um problema que não podemos ignorar. Um dos nossos principais objectivos é preencher essa lacuna rapidamente.
Disse também que ambiciona um país onde liberdades e direitos sejam inalienáveis. Isso significa que eles não são respeitados hoje em dia?
Este é, infelizmente, o caso. Acabámos de falar sobre a igualdade de género. Outro caso óbvio é o dos prisioneiros que não são levados em consideração nos programas de desenvolvimento.
O Senegal afirma-se cada vez mais como uma potência regional. É uma referência nos domínios do transporte aéreo, tecnologia, serviços e comércio. O que deve ser feito para acelerar o processo de desenvolvimento?
Desde logo, diálogo inclusivo com os diferentes actores. A capitalização de competências, colocando as pessoas certas no lugar certo. O desenvolvimento e implementação de políticas de desenvolvimento local relevantes, focadas nos resultados, monitoramento e avaliação. Uma melhor gestão dos nossos recursos
Que caminho para a integração regional e para a CEDEAO, em particular?
Na minha humilde opinião, acredito que a integração regional deve promover o livre comércio entre os países, a fim de estimular o crescimento económico por meio da competitividade e da transferência de competências. O investimento nos diferentes pólos de crescimento seria maior se pudéssemos rever as políticas fiscais em vigor.
E como interpreta as resistências de Cabo Verde à integração monetária?
A integração monetária e a moeda única podem ter futuro, mas é um processo complicado e sensível para o qual nos devemos preparar. Não se pode avançar para uma moeda única do dia para a noite. Se Cabo Verde tem algumas reservas, é porque não está pronto. Agora, eu não me dou ao direito de interpretar a política de um país irmão.
O Governo cabo-verdiano diz-se empenhado em melhorar a integração regional. O Senegal está aberto ao fortalecimento das relações bilaterais?
É claro que sim. Acho que provámos isso através dos muitos acordos de cooperação assinados com diferentes países, tanto no nível da sub-região, como internacionalmente.
Em que áreas Cabo Verde e Senegal podem cooperar?
Várias áreas, como o turismo, reabilitação de portos marítimos, desenvolvimento de centros urbanos, agricultura, onde Cabo Verde carece de recursos naturais que no Senegal são abundantes, etc. No entanto, é evidente que outros eixos precisam de ser explorados.
Texto originalmente publicado na edição impressa do expresso das ilhas nº 895 de 23 de Janeiro de 2019.